Cabeças e Corações

I - Íris

Eu me sentia mais viva do que nunca.

Ou talvez essa proporção que tanto me satisfazia, estivesse acabando, porque eu estava debaixo d'agua. Num lago. Quase congelante.

Eu estava ali havia somente 10 segundos, depois de sentir o impacto da água fria contra as minhas costas, consequentemente mandando ondas de um sentimento de pavor e agonia, que logo foram passadas para tranquilidade e o silêncio que eu tanto gostava.

Mas eu ainda ouvia o choro de dor vindo daquela que eu amava. E doía.

A culpa me fazia afundar mais

e mais

e mais.

Diante da luz do pôr-do-sol, onde ficava ao longe lindas cores em laranja e rosa, eu pude ver meu cachecol azul balançando em sincronia com o meu cabelo escuro. Era bonito e também assustador.

Meu coração batia. Tum tum tum. Você está ouvindo? O som da vida.

Eu visualizava a catástrofe nas minhas memórias mais recentes. O sofrimento diante dos meus olhos. A cor escura, que era tão igual a minha, me encarava sem saber de nada, como se eu tivesse sido vítima daquele acontecimento também.

Só que eu era cúmplice.

Agora meu coração martelava com dificuldade e o pulmão ficando encharcado pela água refrescante.

Será que era o fim?

Eu achava que era, até alguém me puxar pelo braço para a superfície onde tinha a vida, provando ao contrário.

E naquele momento, quase inconsciente, eu agradeci silenciosamente, me agarrando de volta à pessoa antes que eu tivesse a certeza de que tudo o que eu achava em estar perdido poderia ter encontrado novamente.