Entre Lágrimas

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Ela estava indo embora.

Ele a segurou e a puxou já sem forças, ele sentiu algo diferente e olhou. Ele não pôde acreditar no que via, por que? Por que aquilo estava ali? Não fazia sentido algum. As lágrimas caíram, ele não conseguia mais se segurar. Ela não tentou dizer nada, afinal, ele não sabia quase nada de seu passado. Ela pensava consigo mesma: "tenho meus motivos, Sam". Mas ela não disse isso a ele, apenas pensou. Ele tentou dizer algo, não conseguiu, nada saia, ele estava assustado demais, eles haviam acabado de brigar, mas esse nem era mais o motivo, ele viu aquilo, tentou entender, tentou achar algum sentido, nenhum.

Eles não eram namorados nem nada assim, mas eles sabiam que se amavam, só não admitiam isso, pelo menos Emma não admitia isso, nem para si mesma, até aquilo, até ele ver, e ai ela admitiu, no fundo admitiu, em silêncio, admitiu.

Ás vezes ele se sentia como um intruso na vida dela, será que ele deveria mesmo estar ali? Ele se perguntou isso milhares de vezes, nunca obteve uma resposta. Ele a amava, por isso ficou tão pasmo, ficaria com qualquer pessoa, mas ela era diferente, ele não podia dizer que sabia tudo sobre seu passado, mas realmente havia motivos para aquilo? E desde quando aquilo existia? E será que ela superara? Talvez ele nunca soubesse responder, talvez nem mesmo ela soubesse responder.

Haviam tantas lágrimas nos olhos deles que os dutos lacrimais deviam estar ficando secos. Eles nem sabiam mais pelo que estavam chorando. Tantas coisas, tanta dor, tanto...

Ela era linda, seus cabelos morenos, longos e cacheados, encaracolando-se até quase os cotovelos, suas sardas quase invisíveis, só se reparam de perto, ele havia chegado tão perto a ponto de as enxergar naquela noite em que ela adormecera, ele ainda lembrava o quão macia era a pele dela, tocando seu ombro, ele a deitou em seu colo, os dois cochilaram, e apenas. Sua pele era branca quanto a neve, parecia que escondia um segredo, talvez até algo perigoso, realmente havia quem a chamasse de Branca de Neve apenas por brincadeira. Seus cílios eram longos e finos, mas ainda sim, cheios. Ela não era o tipo de menina que se importava muito com maquiagem, ela usava apenas em ocasiões especiais, essas ocasiões, raras de existirem. Seus olhos eram grandes e azuis, não azuis normais, eles eram muito mais pigmentados do que qualquer coisa já vista, eram de um azul tão irreal que pareciam falsos, eram ainda, desafiadores e ao mesmo tempo reconfortantes. Seus lábios não eram nem muito finos e nem muito grossos, como perfeitos.

Ela não ligava muito para a aparência, nem deixava a mesma de lado. Adorava moletons, normalmente, usava maiores do que as pessoas normais, estava sempre de calça e tênis, e claro o amado moletom, pode- se dizer que eram as peças preferidas dela.

Era um pouco rabugenta, mas sempre o fazia rir e ela perguntava do que ele estava rindo, acabou que virou rotina. E Sam adorava aquela rotina, a rotina com Emma, sua única rotina.

Então ele a abraçou e começou a chorar mais e mais forte, mais e mais alto. Perguntava para ela entre um soluço e outro porque ela havia feito aquilo, por que ela havia tentando fazer aquilo. Ela não entendia direito, o motivo dele chorar, o certo não seria ela o fazer? Ela chorar? Então entendeu o motivo dele, ela entendeu. Ele a amava e ela nunca percebera tal fato. Então começou a chorar, o apertou com força e começou a se desculpar. Eles nem lembravam mais o motivo por terem brigado, não que isso importasse, não mais. Eles nunca mais iriam brigar, não daquele jeito, se ajoelharam no chão, ele disse entre soluços que a amava, que não conseguia parar de amá-la, ele achou que ela iria ouvir aquilo e ir embora, que nunca mais iria querer vê-lo, mas ele não podia mais mentir para ela. Ele errou. Ela respondeu o mesmo, ele se assustou um pouco no começo, depois sorriu com o canto da boca, puxou o rosto dela posicionando- o em sua testa, as duas testas juntas, eles se olhavam e começaram a sorrir em meio as lágrimas, pouco depois seus rostos já quase secos se aproximaram um do outro e suas bocas se beijaram como se nunca mais pudessem fazer aquilo.

Emma colocou sua cabeça no ombro dele e seus braços descansaram no colo de Sam. Ele ainda a abraçava, não sabia se poderia um dia compreender o porquê dela ter feito tal ato horrível, mas ele não se importava, ele apenas queria que ela ficasse ali.

No final, acabou que eles ficaram juntos, porque, um dia, talvez eles nem se conhecessem. Há quatro anos, Emma havia ido para o hospital, uma semana depois, uma clinica psiquiátrica. Seus pulsos estavam enfaixados naquela época. Agora Sam sabia porque ela sempre usava roupas de manga, ou braceletes e pulseiras nos dois pulsos. Ela havia tentado se matar, mas agora não havia mais motivo para isso. Eles iriam ficar juntos, não importava o qual difícil fosse.


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⏰ Última atualização: Apr 02, 2016 ⏰

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