Eu tive uma visão

75 6 4
                                    

"...logo depois seu mundo foi engolido por sombras e tudo ficou escuro."

•••••••••••••••••••••••••••••••••••

5 horas da manhã.
O despertador todo antiquado fora o bastante que George tinha que lhe ajudava quando o assunto era acordar pra ir à escola. Ele já agradecera muitas vezes pelo fato de existir fita adesiva ou até mesmo cola para que se fizesse um concertinho aqui, e uma remendada ali quando o reloginho azul caía no chão. Ele acordava sempre som seu gato mestiço, Erry, ao extremo da cama, aconchegado entre os seus pés esbranquiçados. George não era um menino muito alto, porém, tinha seu físico magro atlético, cabelos castanhos e olhos quase que dourados, pele bronzeada e clara, com maçãs dos rostos pouco ressaltadas e queixo acentuado, com sua barba crescendo, o deixando com cara de 20/21 anos. Seus cabelos ondulados o deixava com aparência rippie, que iam até a nuca, e as vezes ele dava uns cortes, para não ficar na mesma.
Logo após acordar, ele pegou seu celular e foi verificar as redes sociais procurando qualquer coisa importante. Sem sucesso. Então, ele se levanta e caminha até o banheiro, para de frente ao espelho, se olha e diz:

- Bom dia George. Pronto pra mais um dia lamentável naquele colégio horrível? Oh, claro que sim. Estava todos os dias e por que não hoje? Sua única sorte é eu ter você.

Ele deu uma piscadela, sorriu, e foi direto para o box tomar um belo banho morno, para despertar e dar coragem à ele para continuar a sua rotina diária monótona. Quando termina seu banho, ele se depara com sua blusa e seu calção passados à ferro, mas acompanhados de um bilhete.

- Tá vendo, Erry. Papai e mamãe vão chegar mais tarde hoje...

O seu gato roça em sua perna, manhoso.

- Tá. Eu já vou por sua comida, bichento.

E se arrumou, aprontou seu material escolar e desceu para comer, alimentar seu gato, arrumar toda a cozinha, as salas e só então ir para o colégio.

Ele nunca ia sozinho. Ia andando, pra poder passar na casa de sua amiga Carl. Sua amiga desde os 3 anos de idade. Sempre estudaram juntos, exceto por um ano, quando ela teve que ir a cidade à cidade natal dos avós, disse ela. Ele fez pouco caso.
Ele ia acompanhando com seus fones de ouvido quando lembra que esqueceu a torradeira na tomada.

- Droga! - e voltou correndo, para corrigir o erro que seria motivo de uma bela reclamação.

Voltando, ele encontra Caro, na porta de casa, impaciente.

- Por que demorou, G?
- Eu esqueci a torradeira ligada. - respondeu ele.
- Louco pra tomar uma bela surra, hein.
- Oh, nem me diga!
- E aí? - ela olha pra ele como faziam quando perguntavam sobre algo importante, se houvesse.
- Não, nada de importante. Ou estranho. Ou anormal. Espera, são a mesma coisa? Estranho e Anormal?
- Não sei. Vamos! Andando devagar assim nem sei se chegaremos a tempo!
E correram para o colégio.

•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Foram aulas, como nos outros insuportáveis dias, mega chatas, devido ao fato de que tinha poucos professores, assim, uns assumiam mais de duas matérias, o que tornavam as aulas tediantes, mais tediantes. George e Carl se sentavam quase no fundo, na parte da sala onde tinha janelas. Quando não assistia aulas, George ficava se imaginando naquele enorme campo jogando futebol com os outros meninos, ou então apenas ler seus livros preferidos na arquibancada, com o teto meio que transparente da quadra que permitia a entrada de uma quantidade fracionada de luz solar, clareando seu campo de visão.

- George! - foi a Carl (claro, por que não seria nenhuma outra pessoa) quem o alertou. - Professor novo!

Realmente, George nunca tinha visto o professor que entrava pela sala, no colégio, se ao menos ele fosse até da própria cidade. Era um professor com uma idade aproximada de seu pai - 35 a 40 anos - e ra branco, e seus olhos assentaram pesados em George. Ele o parou de observar o professor instantaneamente.

- Olá pessoal, - ele retirou o olhar pesado sobre o George e vagou sobre a sala, na verdade, por toda a sala. - bom dia. Meu nome é Arthur e eu serei seu professor de História e Química. Bom, não vamos nos dar ao luxo de apresentações, já que não quero que o desenvolvimento mental de vocês todos, se atrasem.

Ele começou a introduzir a matéria, e se fosse em plena 21:00, George realmente teria medo é estremeceria todo com o tom de voz do professor. Ele tinha algo velho, sábio é assustador no modo como ele falava. O que deixou a primeira aula angustiante. Ele chegou a pensar que o próprio professor era um assassino fugitivo ou um serial killer de alunos.

Quando tocou o intervalo, George e Carl se sentaram na mesa mais excluída possível e ficaram jogando baralho, como de costume. Se George pudesse, ou ao menos fosse aceito, poderia estar agora jogando com os outros meninos bola, ou qualquer outro esporte que envolvesse esforço físico. Porém, não queria, sem se fosse possível escolher, deixar sua amiga sozinha.

•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Ele ia voltar pra casa e simplesmente esperar a hora de vir ao colégio de novo. Não tinha nada para fazer. Era sua rotina. Talvez sempre vai ser assim. Escola, ou trabalho ou até mesmo viagens. George também tinha aceitado o fato de que ele não pertencia a esse planeta. Ele se sentia como um robô pra vida. Só acordava. Fazia o que era necessário e voltava a dormir, esperando fazer as mesmas coisas. Ele já se cansou, claro. Porém, ele não tinha mesmo o que fazer. E se ele resolvesse fugir? Para onde iria? Ele sequer tinha parentes? Como ele ia abandonar os pais, que deu a ele praticamente a vida por ele? Ele amava os pais. Ele só não gostava de ser quem ele era. Ele podia fingir? Ser outra pessoa? Ser quem ele não era? Não, definitivamente. Ele não ia conseguir. Nunca na vida conseguiu mentir. O que ele faria? Nada! O que seria um milagre? Morrer? Sumir? E a sua amiga? Mas e ele mesmo? Ele logo saiu de sua pacata crise existencial, mais uma vez com a voz de Carl ecoando em seus ouvidos...

- G? Você tá aí? Alô alô!
-Besta. - ele riu. - Eu estava em estado transcendental.
- Que merda é essa?
- Eu não sei... - ele soltou uma daquelas olhadas que diziam, talvez, mais de mil palavras ao mesmo tempo.
- Tá vamos.
- Pra onde? - ele perguntou.
- Eu pretendo ir pra casa. Mas e você? - ela riu pra ele.
- Eu vou pra Hogwarts. - ele brincou e ela deu um soco no braço dele.

Eles foram rindo, trocando piadas pelo caminho. Mas dessa vez, Carl não foi até sua casa. Ela teve de passar na casa de sua avó. Resolveu não chamar o George. Não achou legal convidá-lo.

- Já sei esse olhar de "desculpa". Eu não queria ir. Aliás, você e sua avó são os ingredientes para a receita da minha morte tediosa.
- Não seja ridículo, G. Ela tem mais astral que dois de você.
- Olha aqui, só não te enterro por que nessa vida ainda existe pessoas que se preocupam contigo, fedelha.
- Quem? Você?
- Não, seus pais. Eu não sou louco.
- Isso dói tanto.
- O que? Eu te dispensando?
- Não. Você se achando! Olha, tenho que ir. Beijos, maluco... - ela riu e ele retribuiu.

Agora era só ele. Não havia Carl, não havia nada. E ele odiava esses momentos. Não sabia que horas ele ia ser assaltado e, por conta disso, ficava olhando desconfiado para os lados e para trás. Chegando perto de 2 quadras de casa ele colocou os fones de ouvido e foi se preparando para atravessar a rua. Era enorme. Ele andou. Primeiro, ele percebeu um reflexo de uma luz, e então olhou pro lado, e se deparou com uma cegante luz amarelada. A luz foi se aumentando, e ficou branca. E mais branca. E mais perto. E maior. Logo depois, seu mundo - tudo ao seu redor - foi engolido pelas sombras, e tudo ficou escuro.

Pedras Da Magia - DescobertasOnde histórias criam vida. Descubra agora