Eyes

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Airine Pov's
A pior parte do seu dia,ter o carro rebocado logo a caminho do trabalho ,eu sei que já fora um desafio despistar sempre que podia os policiais da minha cola. Não que eu seja uma fora da lei,bem pelo contrário disso. Saio todos os dias assim que amanhece para dar aulas,faço todo meu planejamento por lá mesmo,além de dar uma forcinha para a Georgia,a senhora que trabalha na cantina. Antes de todas as crianças estarem na escola vamos aprontando o lanche com os ingredientes que sobram da semana ou mesmo os que nem foram usados. Tudo depende de nós para estar organizado e garantido aos pequenos,pois a verba parece inexistente a cada mês que passa. Realmente fico encabulada em como o local permanece aberto até os dias de hoje,sei que logo mais nossos recursos irão se acabar e o inevitável não passará despercebido.

Mas voltando ao agora,nada mais podia ser feito. Por acaso eu soube que eles o levaram pouco antes de eu sair do apartamento,e os malditos vizinhos,sem exceção ,não perderem por nada de ver a desgraça alheia. Assim como nenhum ofereceu-se em me ajudar! Pois é. Sei que me mudar daqui está na minha lista de coisas principais para respirar vida ,a vida que eu mereço.

Saí do caos desse bando hipócritas e corri como se estivesse num verdadeiro campeonato ,onde a imagem de todos aqueles pequenos seres esperançosos pairava diante dos meus olhos. Onde essa era a corrida da minha vida. A única esperança eram minhas forças para chegar a tempo.
( ... )

-Oh,menina! Olha só como você está?! Eu sempre dou meu jeito aqui,um dia apenas não faria mal pra ninguém-Georgia entrega-me um copo cheio com água e volta a mexer o conteúdo de caldo grosso no caldeirão. Tomo todo o líquido fresco em um único gole,suavizando a sede que não media tamanho. Foram quase duas horas a andar em passos apurados,dessa vez Zayn não poderia nem se quisesse me dar uma carona. Desde então eu não soube dele,com essa tal viagem para a capital. A irmã dele estava em um estado delicado com seus pulmões,apenas o irmão poderia conseguir os medicamentos. Não é como se eu não mantivesse confiança em si,eu tenho até demais.

Só eu sei o que vi quando ele me levara para apresentar à família,nunca fiquei tão apreensiva por algo qual eu sonhava acontecer comigo,família é o ponto importante de tudo. No mesmo dia em que chegamos Safaa já não conseguia respirar,foi a maior barra presenciar tudo aquilo,como se aquela fosse a hora errada e o lugar menos indicado para eu estar. Mas aí eu reverti esse pensamento negativo e simplesmente briguei com as enfermeiras até conseguir chamar a atenção do doutor,este apareceu no intuito de nos tirar dali a qualquer custo,mas vendo a garota pálida e desesperada nos braços do irmão tudo se foi esquecido .

Por mais um instante e ela não teria sobrevivido.
-Faria Geor,faria para cada uma dessas crianças-me pronuncio depois de um tempo recolhida pelo cansaço.-Sei como você anda com a saúde e convenhámos,é muita coisa para uma só pessoa-amarro o avental ainda manchado por molho e me ponho a cortar algumas frutas aleatórias que ali prevaleciam. Uma sobremesa com elas não cairá mal.
-Nada que eu não desse conta,querida. Você já faz muito,é a nossa salvação-sorri abertamente e eu retribuo com outro,fraco.
-Não me custa ,afinal de contas-suspiro distraída.-Logo mais eles estarão aqui-observo pela pequena janela e vejo o sol brilhar meio murcho,clareando o gramado opaco.
-Todos pipocando pela atenção do raio de luz-ela ri calorasamente.
-É de atenção que eles precisam,percebe? Aqui não lhes falta-ela concorda com um doce sorriso.
-Não enquanto estivermos vivos com essa escola-murmura e só me resta concordar com a dor alojada no peito.
                     ***
Mais tarde e minhas coisas que eram poucas por sinal, já estavam todas arrumadas. Os meninos saindo com seus pais loucos para falar sobre seu dia,exceto por James que esperava pela mãe sentadinho na escada de saída. Seu queixo apoiado na pequena mochila,com um semblante triste.
-Qual é dessa solidão,huh?-aproximo-me e sento no espaço livre ao seu lado. Logo ele desperta com um sorriso alegrinho.
-É,parece que já não estou mais sozinho-ele ri brincando com os dedinhos. Acabo por rir conosco.
-Nunca estamos-gesticulo para cima onde as nuvens agora estavam nubladas. O garotinho assente sem jeito.
-Mamãe deve estar distraída-ele suspira.
-Por demais-digo baixinho-Mas aposto que logo ela estará aqui-tento confortá-lo. Mal conheço essa mãe,mas as opiniões que estou formando já veem duvidosas.
-Você acha?-a voizinha questiona e meu peito aperta com o que ouço. Não parece ser algo novo para o menino.
-Eu lhe garanto que não deve ter sido por mal ,seja como for ela se importa,meu amor-retiro seus fios escorréguios dos olhos e os acento para trás. Deixando sua visão mais clara.
-Bem melhor-sorri de canto e eu devolvo.

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