Constante intimidação

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Natan sempre teve um gosto acentuado por lutas marciais, com o tempo, também se tornou muito vaidoso. Dono de incomuns cabelos ruivos, que já o diferenciava dos demais, assim como de um temperamento instável, achava que era um rapaz simples de ser entendido e compreendido. Na verdade, porém, Natan estava longe disso. Para entender o motivo dessa pequena explicação, vamos voltar ao início, quando ele ainda era uma criança.

Por ser desengonçado e usar óculos marrons de hastes largas, que escondiam os olhos castanhos, Natan era alvo de bullying na escola. As outras crianças sempre arrumavam um jeito de fazê-lo centro de suas chacotas, ora recebendo apelidos, ora sendo excluído.

Amália, sua mãe, era sempre excessiva no trato dos filhos. Os tratavam sempre como se fossem menos capazes ou até mesmo bebês, mesmo na frente de seus colegas, o que fazia com que aumentassem as gozações, principalmente com Natan, por ser o mais velho dos dois.

Brenda, sua irmã caçula, era rebelde e muito esperta. Fazia-se sempre de inocente na frente dos pais, mas sempre aprontava das suas. Desde as brigas com a mãe e com o irmão, até se acontecesse algo na escola ou na rua, sempre corria para o colo do pai, por ser a preferida.

Pedro, o pai, um homem rústico, severo e machista, não deixava que Natan o abraçasse, muito menos o beijasse. Dizia que era "coisa de menina" e reservava esse direito apenas para Brenda. Outra coisa que Pedro não suportava é que seus filhos fizessem algazarra enquanto ele estava em casa. Ao chegar do trabalho, Amália lhe trazia os chinelos na sala e recolhia as meias e os sapatos enquanto ele assistia à televisão. Natan e Brenda ficavam no quarto, brincando praticamente em silêncio.

Os dois irmãos sempre brincavam sozinhos, pois os pais não os deixavam brincar na rua. As únicas crianças que brincavam com eles, exceto seus primos em dia de encontros familiares, eram um casal de filhos de um vizinho, que ia até lá brincar com Natan e com Brenda. E foi com Márcia, a filha do vizinho, uma menina de onze anos, e Natan com doze, que ele teve seu primeiro beijo na boca. Algo que não foi muito agradável, pois ela praticamente o forçou a beijá-la.

Pedro também era um homem muito trabalhador. Dono de palavras hostis, tanto para a mulher quanto para os filhos, tinha como filosofia que "filho bem criado é filho na escola e de barriga cheia". Era austero, mas era assim que tinha aprendido desde cedo. "Homem tem que trabalhar, para poder cuidar da mulher e dos filhos", dizia com frequência.

Foi na infância que Natan começou a desenvolver seu interesse por artes marciais. Assistia aos filmes de Bruce Lee e Van Damme e os imitava sozinho no quintal de casa, fazendo gestos e barulhos com a boca. Foi nessa época que, perto de sua casa, abriu uma academia de Capoeira. Um dia, enquanto ia com a mãe ao supermercado, ao passar em frente, Natan ficou curioso ao ver toda aquela movimentação. Algum tempo depois, numa tarde de Sábado, depois de tanto insistir para que sua mãe o levasse, foram conhecer o lugar. Ele ficou impressionado e pediu para que a mãe o matriculasse. E ela assim o fez, já que via o filho brincar sozinho e que tinha gosto por aquilo.

Em pouco tempo, chamou a atenção do Mestre por sua dedicação. Era sempre o primeiro a chegar aos treinos e ficava até a hora de fechar as portas. Mesmo desajeitado, era disciplinado e se esforçava para aprender os golpes e movimentos. Com o tempo, aprendeu a ser mais habilidoso e aos poucos ia perdendo aquele jeito desastrado de ser e de andar.

Logo chegou a hora do batizado de Natan. A festa, que é uma roda formada pelos capoeiristas, onde alunos novos recebem seu primeiro cordão e alunos já com cordão, podem passar para graduações superiores, Natan recebia seu primeiro cordão e oficializava seu apelido, Foguinho, uma alusão ao seu cabelo vermelho. Toda sua família estava lá para prestigiá-lo. Até mesmo Pedro estava presente. Ficou pouco, mas quando Natan viu o pai no meio do povo, se alegrou. Orgulhoso, Natan voltava satisfeito para casa, enquanto ostentava aquele cordão.

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