III

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Eu era um lixo enfiado em um canto mofado de um pub mofado de Londres. Com um copo de whisky em uma mão, a garrafa quase vazia na outra. Meu terno estava amassado. Minha gravata frouxa e fora do lugar. A barba rala cobria meu rosto. Meu cabelo despenteado, sujo e oleoso me daria ânsia em qualquer outro momento de minha vida. Não naquele.

Elizabeth me arruinou.

Ninguém em sã consciência se aproximaria de mim.

Mas ela não era ninguém.

Ela era alguém.

Alguém que quase me matou do coração em sua primeira aparição.

Devido ao absurdo estado de embriaguez em que me encontrava, não cheguei a qualquer outra conclusão diferente de "assombração". Afinal, ela não poderia estar ali. Eu sabia que estava morta.

Eu a havia matado.

Havia contado todas as facadas que rasgaram sua carne com uma calma cirúrgica e profissional. Me deliciado com o fluxo quente de seu sangue que escorria por minhas mãos. Tinha visto a vida deixar seus olhos. Tinha sentido seu coração parar de bater sob minha mão. Havia recebido toda a carga de decepção que seu último olhar traído lançou sobre alguém na Terra.

Eu a havia matado.

Mas ela estava ali.

Fato que não me fez o menor dos sentidos. A segunda conclusão a que cheguei foi a de que a psicopatia havia, finalmente, dominado minha mente, e eu já não mais fazia parte da realidade de um mundo são. Eu estava perdido.

Elizabeth me arruinou.

Elizabeth me arruinou de tantas formas que, milagrosamente, estava ali, em pé, à minha frente. Caminhando em minha direção. Com um pequeno sorriso contido no canto dos lábios, se aproximando com cautela, talvez com medo de mim. Ela tinha razão, afinal, se não tinha mais vida, não havia mais ninguém no mundo a quem culpar além de mim... O primeiro pensamento que tomou minha mente quando ela estava próxima o bastante para parecer real, de carne e osso, foi... "Sinto muito". Sabia que ela não poderia saber o que se passava pela minha cabeça, e também sabia que meus sentimentos tardios já não valiam mais... Principalmente porque não me arrependia do prazer que sua morte havia provocado em meu ego distorcido.

Eu a havia matado.

E estava orgulhoso disso.

Embora completamente destruído.

Elizabeth me arruinou.

Quando ela se aproximou, a sensação de ansiedade e a tremedeira nas mãos, pela primeira vez, foram levemente contidas. Como um milagroso remédio de efeito imediato, porém refreado. Pela primeira vez em meses, respirei fundo, e o ar verdadeiramente entrou em meus pulmões. Meu cérebro oxigenou e minha visão deixou de ser turva, e se tornou clara novamente.

-Posso me sentar? – ela perguntou.

Eu não fui capaz de dizer não. Porque sua voz sempre teve um estranho comando sobre meus atos. Era ela que estava ali, não havia dúvidas. O perfume era o mesmo. A voz era a mesma. Os gestos e trejeitos. O sorriso. Os olhos.

Elizabeth estava viva.

Elizabeth me arruinou.

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Dark Knight 2 - RevengeOnde histórias criam vida. Descubra agora