Segredos de Família

Início

O dia amanheceu tipicamente chuvoso como é de costume nesta época do ano, mas para uma singular cidadezinha, isolada do restante do mundo por vultosas e íngremes plantações, cujo meio de locomoção para o exterior se baseia exclusivamente em navios e helicópteros, isso não significa que tudo aconteceria dentro da mesmice normalidade.

Alícia despertou cedo, inclinada a chegar primeiro em sua escola, ansiava por caminhar por aquele imenso jardim cultivado pelo instituto, mantido com o apoio de sua família, uma das principais patrocinadoras deste.

Por detrás destes patrocínios, vários rumores foram criados pelos moradores da cidade, dentre eles, inclusive, o de que tais plantações teriam sido criadas originalmente por uma família real, a qual houvera passado um tempo escondida pelas redondezas há dezenas de anos... tais informações eram corriqueiramente disseminadas pela população, ainda que sem comprovações, motivo pelo qual a realeza permanecia sendo celebrada nas festas anuais de halloween da cidade.

A única coisa que se sabe ao certo... é de que não existe nada que permita criar uma teoria concreta sobre a origem deste jardim, além dos boatos existentes a respeito destes enigmas.

O jardim sempre a encantara. Tanto a sua pomposa extensão, quanto a sua graciosa beleza, suas rosas vívidas, e a peculiar sensação de paz que o lugar lhe fornecia. Entretanto, o que mais a maravilhava... era uma árvore muito especial, localizada bem no centro do jardim, esta árvore, era conhecida como a " Árvore Mãe".

A "Árvore Mãe", assim fora nomeada, por ter sido uma das primeiras plantações da cidade, mesmo com toda a sua idade, esta permanecia intacta, grandiosa e linda, como se a cada instante em que crescesse, rejuvenescesse simultaneamente. Era como mágica...

Além destas características, se destacava por sempre passar uma sensação maravilhosa de alegria a quem quer que fosse. Tal fenômeno, atraia uma grande quantidade de turistas para a cidade, ocasionando em exposições recorrentes aos fins de semana.

Mergulhada em um de seus mais profundos desvaneios, a menina mal perceberá a chegada de seu amigo mais próximo, Ryan Beckert - um alto garoto de olhos caramelados e cabelos pretos, um dos pretendentes mais disputados dentre todos os jovens de sua era, suas feições agradáveis e reputação internacional colaboravam em muito para isto, o que não impedia o seu modo desleixado de levar a vida, apesar de sua excepcional inteligência.

- Alícia? Sozinha por aqui de novo?

- Me deixe, Ryan.

- Poderia até fazer isto, mas aí, não seria eu – risos - Já te disse que a vida não se resume a belos jardins, literalmente - ironizou – Estou sendo muito sincero, quando digo que aqui pode ser perigoso.

- Tá legal! Me explica como um jardim pode ser perigoso? Ele vai me engolir por acaso?! Ou enfiar um espinho no meu dedo?! Por favor... essa sua paranoia com jardins não vai acabar nunca? Você não é mais uma criança, não tem mais sete anos sábia?

- Tem certeza?! - ele a olhou brincalhão, mas então, voltou a enrijecer o rosto - Não é com jardins... é com este jardim, e não é paranoia senhorita Alícia! - A garota rir - O que foi agora?

- Nada... - mais risos - É só que... me pergunto sobre o que as garotas pensariam se vissem esse seu outro lado: bobo e ingênuo.

- E o que isso importa?! Essas meninas só veem o dinheiro, nada mais.

- Eu não teria tanta certeza sobre ser apenas "o dinheiro" o que elas veem - sorri.

- Ah é mesmo? E então, Líci?  - Seus olhos se encontraram - O que mais elas veem?

A menina percebe o seu rosto esquentando diante do belo e intimidante sorriso de seu amigo, próximo demais para suportar, virando-se abruptamente.

- A aula já vai começar - Alícia respira três vezes, procurando se recompor, e então, vira-se dando uma leve piscadela para o rapaz, que não contava com sua mudança tão repentina, embora devesse imaginar que ela jamais se deixaria afetar tão facilmente - Vamos?!