Capítulo Dois - Mabel

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Às vezes, as perguntas são complicadas, e suas respostas simples. - Dr. Seuss

Eu podia imaginar claramente o movimento dos planetas de isopor que estavam presos acima de mim. Eles giram e giram, mantidos assim pelo campo gravitacional de uma grande estrela, feita de gás. Esse estado é permanente, portanto eles cumprem seu dever: translação e rotação.

O planeta Terra está ali também. Certamente insignificante perto dos outros. Seu pequeno satélite gravitando ao redor da superfície azul. Posso imaginar o céu, a espessa atmosfera e posso ver o número assustador de pessoas sentindo-se importantes. É como se, para elas, suas atitudes representassem algum risco para este sistema natural e astronômico que nos cerca.

Conseguia enxergar a mim mesma, deitada no chão do porão, encarando um modelo do Sistema Solar. Meus olhos estão desfocados e meu dedo pressiona um botão vermelho que mantém a maquete em movimento. Meu cachorro, um terrier escocês preto, está adormecido ao meu lado, ele ronca baixinho. Seu nome é Depressão.

O barulho de rasteirinhas batendo ao meu lado não foi suficiente para me tirar do estado vegetativo em que me encontrava.

Senti algo bater delicadamente em meu rosto. A mão magrinha e bronzeada da minha melhor amiga.

– Mabel Grace, hoje é o fim dos dias da Síndrome de Grace. Saia já do ETPG e vamos cair fora deste porão escuro. O sol está brilhando lá fora e, querida, parece que você não o vê há dias.

– Vitamina D faz mal em excesso – afirmei.

– Vê? Já está voltando ao normal.

– Eu acho que precisamos mudar a sigla. Não é claro que ETPG significa Estado de Torpor Permanente de Grace – disse, com a voz arrastada. – Pode significar qualquer coisa. Explicações Tão Pertinentes de Galileu. Experiência Térmica Para Geologia.

Catarina sentou-se ao meu lado, com as pernas compridas cruzadas, me encarou longamente e acariciou Depressão, depois deu um sorriso que não chegava aos olhos.

– Em outros tempos acharia engraçadinho. Mas você está mesmo tentando modificar minha tese? Dei duro para concluí-la.

– Síndrome de Grace não é uma tese – pontuei. – Os resultados são inconclusivos.

– Prove-me. De acordo com meus registros, todos os sintomas que eu documentei estão ocorrendo recorrentemente.

Eu soltei o botão vermelho e levantei-me até olhá-la nos olhos.

– Para onde vamos mesmo?

– Primeira parada, definitivamente, seu banheiro. Há quantos dias você não visita nosso amigo chuveiro? Ou escova os cabelos?

Revirei os olhos.

– Querida, isso é sério. Há quanto tempo está aqui em baixo, deitada?

– Um dia, no máximo.

Ela mordeu o lábio inferior.

– Dois, talvez.

...


Ao chegarmos ao primeiro andar senti a luz que entrava pelas enormes janelas dilatar minhas pupilas. Levei alguns segundos para me adaptar à iluminação, e quando passamos pela cozinha, vi minha irmã, Isabel, apoiada na bancada de azulejos brancos mandando mensagens de texto enquanto ajeitava seu álbum de borboletas mortas; ela nos viu e acenou, sorrindo.

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⏰ Última atualização: Apr 13, 2016 ⏰

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