A casa era escura. Escura demais, pensou. Mas não era novidade, já que era a morada do lord das trevas. Desde que havia sido libertada de Azkaban que não o tinha visto. Mas ah, que visão foi aquela? Vê-lo ali encheu seu coração, tão vazio de sentimentos pelos dementadores, de alegria. Sim, sentiu alegria e esperança ao sentir a marca queimar em seu braço. Parecia que a vida voltara a reverberar em seu corpo ressequido, magro e sofrido pelo confinamento há tanto tempo em um lugar depressivo, podre e sem futuro como aquele. Mais ou menos quatorze anos... como ela conseguira contar? Lembrou-se das marcas que fizera nas pedras frias das paredes da prisão. Sim, mais ou menos quatorze anos. Se ficasse mais um minuto naquele lugar, enlouqueceria de vez... a única lembrança na qual se agarrava era o lord; algo dentro dela dizia que ele voltaria... sorriu pra si mesma. Ele sempre volta, pensou triunfante. O mal tem seus meios de vencer... sentiu vontade de gargalhar, mas se conteve. Se não estivesse na casa dele teria gargalhado. Mas ali era um lugar de extremo respeito, teve que considerar. Era a casa de seu lord... seu mestre, o dono da sua vida.
Lembrou-se quando foi pega no colo por ele... ele pessoalmente a carregara para fora daquele inferno, a resgatara. Como foi maravilhoso ver ser rosto pálido, enquanto ele dizia: “não é um sonho bella; eu voltei. Vim te buscar...” ela riu deliciada e triunfante como naquele dia ao sentir sua presença... o cheiro de seu perfume, enquanto era carregada por ele ainda ficou entranhado em seu nariz, em seus sentidos... parecia cheiro de veneno, doce e acido ao mesmo tempo, como.. absinto. Sim, ele cheirava a absinto, e o cheiro era inebriante a agradável...se remexeu involuntariamente na cama dentro do quarto de hóspedes. Que horas deveria ser? Havia acabado de acordar... e sentia-se um pouco melhor, deitada na cama confortável no escuro. Levantou-se.
“Vou tomar um banho”, pensou, fazendo um movimento com a varinha (oh, sua varinha estava ali?) e ascendeu umas velas, iluminando o ambiente. O quarto era pequeno mas confortável, cortinas circundavam o bangalô da cama, havia uma mesa e uma cadeira a um canto e um pequeno armário com potinhos e vidrinhos de poções para banho, na parede lateral, ao lado da porta do banheiro. O banheiro era de mármore branco e preto, muito luxuoso. Sentou-se a beira da banheira e, a um movimento da varinha novamente, a banheira foi enchendo-se aos poucos de água quente; foi até o armário, e pegou um pequeno frasco com cristais vermelhos. No rótulo, estava escrito: cristais de restauração física. abriu a tampa e derramou todo o seu conteúdo na banheira, seguidos por outro vidrinho de shampoo para cabelos e corpo e um bálsamo de reconstrução capilar, tudo ao mesmo tempo. foi até o espelho e mirou-se. Não gostou do que viu; seus cabelos sujos, sem brilho e desgrenhados, sua pele suja e envelhecida com rugas aparentes, seus olhos com olheiras horríveis circundando-os, e todo peso de quatorze anos sendo constantemente sugada de si quase todas as esperanças, todas as alegrias, até o ultimo suspiro de prazer de que se lembrava pelos dementadores, sem qualquer defesa...
- Ele me viu assim... – disse pra si mesma, envergonhada. Abaixou os olhos. Quando os levantou novamente para o espelho, uma lágrima caíra de seus olhos. Olhou-a um segundo triste. Mas, no instante seguinte forçou-se a se animar, repetindo pra si mesma: mas eu saí de lá! Fui resgatada por ele... e agora estou aqui dentro da casa dele! Tudo vai ser diferente... sorriu. Sim, tinha que ser. Olhou para uma muda de roupas limpas em cima da cama. Um vestido de seda preto e sapatos de salto alto. Espantou-se. Quem teria trago aquilo? O lord não poderia ser...se não isso significava que ele havia pensado nela, de uma certa forma, íntima... na beleza dela! Deve ter sido Narcisa quem mandou, repetiu pra si mesma, afastando aqueles pensamentos, e repreendendedo-se por pensar assim. Estúpida! Como pode pensar que o lord pensaria em você dessa forma? Não, não era assim. Ele apenas queria seus comensais reunidos novamente, para a batalha final. Não tinha nada de pessoal naquilo.
A Banheira já encheu, pensou, ao ouvir o barulho da água. Estava cheia de espuma por cima. Retirou as roupas esfarrapadas e entrou na banheira jogando os cabelos cacheados para trás, abaixando-se lentamente para entrar na água; imergiu-se por completo e assim ficou uns cinco segundos, sentindo os cristais fazendo um efeito mágico em sua pele, em seus cabelos, desaparecendo com as olheiras, suavizando as rugas, regredindo com o tempo e trazendo vivacidade a pele cansada; ela levantou o rosto sobre a água, deixando o corpo submerso; sentou, e começou a massagear os cabelos com as mãos desembaraçando-os. Eles ganharam novo brilho e uma nova cor negra, bem escura e sedosa, sem perder o cacheado. Estava regenerada e finalmente livre das marcas que o tempo e askaban lhe deixaram.
Depois de meia hora imersa nesse banho, levantou-se. Pegou uma toalha e enrolou-se nela, pegou outra e enxugou os cabelos. Olhou novamente no espelho, e sorriu. Era ela novamente refeita, revigorada e pronta pra outra, pensou. As olheiras e as rugas sumiram e um novo ar surgia em seu rosto. Novamente esbanjava vitalidade. Até os dentes estavam mais bonitos; quando saiu de lá eles eram podres e sujos. Agora estavam mais brancos e limpos.
“Oh Merlin, esses cristais fazem milagres...”
Vestiu o vestido preto longo decotado nas costas, com uma fenda desde a coxa até o final, nos pés. E calçou os sapatos altos de bico fino. Sentiu-se confiante. Pegou um batom em cima da pia do banheiro – mas quem tinha trazido um batom vermelho ali? – e passou nos lábios. ele iluminou sou rosto pálido, realçando os olhos. uma Mecha cacheada de cabelo insistia em cair na frente do seu rosto, ela deixou; ficou mais sensual... sorriu para o espelho mais uma vez confiante em seu jeito de mulher. – Vou na cozinha comer alguma coisa – pensou – quem sabe não o encontro...