Lilith conta a história de como uma adolescente confusa e insegura vive um amor mais que perfeito, até que se possa dizer "fim". Conhecer o paraíso do amor e descobrir como ele pode te transformar em uma pessoa fria e sanguinária. Se você é jovem e...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Existem milhões de coisas interessantes que eu poderia praticar durante minha vida adolescente. Mais da metade das coisas que eu fizesse geraria um efeito devastador em mim. De como com que eu não pudesse contar meu sofrimento. E são por essas estimativas dolorosas que eu prefiro agir com prudência. Mas, sobretudo, preciso encontrar uma saída na minha confusão. Estou perdida à alguns meses dentro da minha cabeça. Os mais velhos dizem que esta é a melhor fase da vida e antes dos 9 anos é ainda melhor. Talvez quando eu estiver velha, quem sabe, posso pensar desta maneira, mas parece ser impossível tirar algo de bom disso tudo. Até lá, ficarei no melhor lugar do mundo (meu quarto), olhando nos olhos grandes, brilhantes e vermelhos do Ralph. E isso não é uma história de vampiro. Ralph é uma espécie não identificada de urso de pelúcia. Ainda me pergunto que tipo de bixo ele é. As vezes até me assusta com sua manifestação de medo no olhar, mas levando em conta seus braços marrons (minúsculos e fofos) e o corpo (que quase desaparece comparando com o tamanho da cabeça) cinza com listras brancas. Ele é muito incrível e meu confidente. Sinto por ele ter que se molhar com minhas lágrimas. My little Ralph.
Minha depressão só aumenta. Acho que ele me deixa assim (não o Ralph, o Ícaro), porque as vezes me pego dizendo "Te amo tanto Ícaro". Lógicamente é apenas mais uma ilusão que a gente cria em alguma parte escura do cérebro que deveria ter a opção "desativar" e todos nossos problemas se resolveriam.
Dois meses atrás ele me perguntou se eu já havia assistido aos curta-metragens dele. (meu crush é um ator!!) Brincadeira. Ícaro e o irmão tem um tipo de "fascinação" por filmes de terror, o que não demorou muito para fazê-los gravar as próprias ideias. A fama deles já estava sendo estampadas até nos jornais da ilha, mesmo sendo bem dificíl algo saír no jornal por daqui. Dizer que estou interessada nos curtas é um bom motivo para conversar com ele.
Puxei o celular debaixo do travesseiro e segui digitando. Ele estava online. O que me deixou feliz e triste ao mesmo tempo. Por que se ele está online, significa que esta falando com outra pessoa que não era eu.
Resolvi assistir aquele curta que você falou. Onde eu encontro? Não lembro o nome. – entregue, 18h00.
Na verdade eu sabia onde ficavam os curtas dele, mas não tinha outra coisa para legal pra falar. E assunto é essencial, assim como falar do tempo. (é sério) O que eu poderia perguntar? O preço do arroz? Dez minutos depois ele visualizou. Enquanto isso fiquei deitada na minha cama, olhando para o forro de gesso branco. Me sentia no hospital de vez enquando. Eu ainda esperava uma resposta, afinal quem ama responde na hora. Deveria ter uma que defendesse isso. Sinceramente.
Lilith! Oi! Nossa, faz tempo que a gente não se fala. – Ícaro, 18h11.
"Já faz tempo que a gente não se fala" Sério? Ele poderia ter me dado um oi durante esse tempo. Quem ama, chama! Faz três dias que ouço "Confessions of a broken heart, Lindsay Lohan" por causa dele. Eu tenho um caração sabia? Seria bom se as vezes ele pudesse ler meus pensamentos. É hirrível ter que finger ser uma pessoa feliz. Essa fase dói. É tudo muito confuso. Pelo menos a música é boa.
"Me beija", enviei á ele. Quem derá se eu tivesse coragem.
Os curtas ficam no meu canal, Estação do Terror. Legal da sua parte assistir. É importante pra mim. – Ícaro, 18h11.
Certamente eu não assistiria à curta algum. Minha vontade era enorme, mas terror nunca foi minha categoria preferida, não para assistir sozinha. Fiquei feliz em saber que ele se importa, de certa forma é bom saber disso. Esperei um minuto antes de responder. Pra não parecer que eu estava muito em cima.
Certo. Obrigada. Se for tão bom quando ao cover, deve estar ótimo. – entregue, 18h12.
Não elogiei demais para não ser falsa, já que eu não assisti.
–
No primeiro semestre do ano entrei para um curso de preparação da faculdade. (Se eu tivesse conseguido entrar em uma, o que é impossível. No meu caso.) Fui inscrita no turno da noite, para "socializar" junto à 200 colegas, 75% deles eram ricos e mimados. Nunca tive paciência para pessoas assim. Maldita hora que minha irmã me inscriveu naquilo. Porém, era aquele tipo de lugar que você pensa "se eu sair daqui sem ficar com alguém, me jogo escada à baixo" e eu quase o fiz, até conhecer alguém. Infelizmente ele era lindo. Mas, como na vida sempre tem um "mas". Ele era lindo no sentido "só para ver de longe, sem falar com ele, ou qualquer outro tipo de coisa". Parecia um cara ideal. (Moreno, alto, usava barba, lentes azuis, e certamente fazia academia)
A única coisa nele que era suspeito nele era o rebolado esquisito. Se ele fosse gay, tudo bem, mas ele era hetero, e rebolar nem é uma característica gay. Seria ótimo se ele me dissesse que era. Nesse caso seriamos grandes amigos, apenas. Cheguei a perguntar à ele o porquê de rebolar com tanta frequência.
"Desculpa se tenho bunda grande." Foram exatamente essas palavras que ele me disse. (Oi?) Claramente foi a invenção mais tola que ele já deve ter contado há alguém.
Horas depois meu celular vibrou.
Ícaro, era uma mensagem dele que eu esperava. Seria imprescindível agora.
Onde é que a senhora tá?! – Every, 21h00.
Every é seguramente minha melhor amiga. Se isso fosse algum tempo atrás eu estaria mentindo, mas acontece que a Finn começou a andar com um projeto de cobra desde o fim das aulas. Isso mexeu muito comigo. Ela emagreceu, e logo depois desapareceu. Foi trágico, pois eu precisava dela.
Respondi segundos depois.
Em casa, sua louca. Onde mais eu estaria a essa hora? – entregue, 21h00.
Não lembro de ter marcado nada com ela naquele momento. Além disso, minha vida á noite pertence à quarto paredes brancas e uma dose de tédio. Fui direta todas às vezes que me chamaram para sair. "Eu não vou" ou "eu não posso" inventava, quando eu poderia. Talvez eu nunca tenha sido realmente sincera comigo mesma. Sempre fracassei, e eu me atormentava todas as noites, me autorizando a ficar no meu próprio cativeiro. Seca, inocente, singela e incrédula. Me irritava por não ter vivido aqueles momentos em que eu poderia.
Esqueceu da inauguração das luzes no parque? Você tem 10 minutos pra chegar aqui. – Every, 21h01.
Estou indo. – respondi.
Na verdade eu nem sei o porquê respondi aquilo. Droga, já furei tantas vezes ela. Mais uma vez ela não me perdoaria.
Saí de cima da cama e fui até meu guarda roupa. Dei uma olhada por cima no espelho da parede ao lado e puxei meus cabelos para trás. Voltei até a cama na esperança de ter uma mensagem do Ícaro. E claro, fiquei surpresa ao ver que não tinha nada. Vesti rápido uma calça jeans e joguei a jaqueta preta sobre meus ombros, por cima da blusa branca que eu estava. (E não troquei)
Voltei na frente do espelho prendendo meus cabelos exageradamente grandes e me encarei por alguns segundos.
Você não é trouxa. – sussurrei, confirmando à mim mesma. Olhei minhas unhas curtas, senti muita vontade de roê-las novamente, ou o que restou delas. Fico assim quando meu lado pessimista domina. Me sinto eletrizada novamente.
Vi o notebook ligado em cima da escrivaninha bege do lado oposto ao espelho.
Havia algumas notificações em uma das minhas redes sociais. Finn acabará de postar uma foto com sua nova amiga. A mesma pela qual ela me abandonou sem me explicar o porquê. Não entendo como as pessoas mudam de uma hora para a outra. Um dia de sol e outro de tempestade.
Vacas. – comentei.
Brincadeira, eu jamais comentaria uma foto delas. Fiquei aborrecida ao ver Finn sorrindo com ela, mas feliz por saber que aquela amizade não era nem um pouco sincera ou honesta. Dava pra ver claramente o tom de falsidade na representação grotesca do sorriso delas.