Bella

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​    Poucos a conhecem, quase ninguém sabe de sua existência e tão pouco se preocupam com ela.
​Suas lembranças são sempre embaçadas, pelo menos aquelas que ela achava serem felizes. Há... Doces lembranças... Se ela soubesse como poderia ter sido feliz se não tivesse aberto aquela porta, destrancado aquela fechadura, rodado aquela maçaneta...
​    Bem, provavelmente ela não se lembra de nada. Não conhece a própria história, nem o quanto é poderosa. Mas (sempre há um "mas") ela sabe que é uma bruxa e deseja com todas as forças ir para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, um lugar considerado por muitos MÁGICO!
​Não era para menos, lá viviam e estudavam os maiores bruxos de todos os tempos, incluindo o tão odiado pelos seus amos, Harry Potter, aquele que havia sobrevivido ao Lord das Trevas e seus temíveis poderes...
​- Acorda sua maltrapilha! – gritara de longe Alex, que particularmente sentia muita pena da menina que estava encolhida perto da parede tentando gerar algum calor humano. Desde que tinha sido trazida na noite em que o Lord havia caído, nunca fora tradada bem (ninguém ali era tratado bem), mas ela, especialmente ela, era tratada pior que um elfo doméstico. Alex não sabia quantas vezes essa menina já havia sido açoitada sem ao menos ter feito algo errado.
​     Acordar, naquela manhã, não seria algo difícil para Bella, não dormira a noite por causa da tremedeira do frio e os gritos de Alex para acordá-la não a fariam ter mais disposição para enfrentar mais um longo dia árduo de trabalho.
​    Bella sabia que a maior parte dos criados daquela casa podiam tomar banho logo de manhã, ter roupas limpas e até cobertores para se aquecer durante as noites frias de inverno, só não entendia por que ela não.
​    Há anos remendava a mesma roupa, que infelizmente não acompanhava o seu crescimento, ia, as escondidas, ao lago tomar um banho, para poder se sentir um pouco limpa, mas, nas noites frias, ela não tinha o que fazer... Parecia que todos os trapos da casa simplesmente desapareciam! Se já não bastasse às más condições que vivia, seus amos tinham uma empatia especial com ela.
​    Haviam dito para Bella que os pais tinham morrido na noite em que Você-Sabe-Quem havia caído e que eles tiveram a "bondade" de acolher a órfã em sua humilde residência.
Bella tinha suas teorias para duvidar dessa história. A principal delas era um colar em forma de coração que ela escondia a unhas e dentes. Dentro dele havia uma foto de sua mãe, uma de seu pai e na borda estava escrito: "Nunca irão tirar de mim as pessoas que eu amo".
As fotos estavam em preto e branco, mas ela adorava imaginar que seus cabelos tinham a mesma cor dos cabelos de sua mãe e a cor dos olhos também. Para ela, sua mãe era a mulher mais linda que já existira, mas no fundo de seu coração, tinha a impressão de que ela já não estava mais entre os bruxos, trouxas ou fantasmas, já tinha ido para outro lugar...
​    A vida de Bella nunca foi fácil naquela casa: varia, polia, tirava pó, lavava roupa, louça, mais roupa, lavava o chão, arrumava as camas, ascendia as lareiras, cortava lenha, ajudava na cozinha... Tudo era a Bella e, infelizmente, se ela ousasse se negar a fazer algum serviço que seus amos a mandavam fazer, seu castigo seria muito pior do que ficar sem comida durante quatro dias...
​    Bella quase nunca comia, sentia muita fome, mas qualquer menção de poder comer algo já fazia seu estômago dar voltas e voltas. Nunca comera direito naquela casa.
​Quando finalmente terminou todo o seu serviço, incluindo desgomizar o jardim (retirar todos os gnomos que haviam se estabelecido lá), comeu uma fatia de pão e foi dormir, aquela noite foi à primeira em anos que ela sonhou.

    Ouvia-se gritos por todos os lados, Bella com 2 anos, estava no colo do pai chorando pela ressente perda de sua tão amada mãe e seu pai Sirius Black afagava seus cabelos e dizia que tudo iria ficar bem...
    Então os gritos cessaram, Bella parou de chorar e o pai olhou-a com os olhos inundados de esperança e tristeza, não sabia se Tiago, Lílian ou até mesmo Harry estavam bem... Ele só queria ver mais uma vez os olhos de sua tão amada Lince, roxos, uma cor tão linda e que, por sorte, sua filha herdara da mãe.
    Sirius de repente levantou em um pulo assustado, se os gritos param, algo estava errado! Com certeza algo havia acontecido e ele sabia o que era. Pedindo desculpas a Bella, pegou sua jaqueta e falou:
- Não sai de casa Bella, está me ouvindo?! Volto logo, preciso resolver uma coisa. Não sai de casa! Te amo!
    Mas quando o pai saiu pela porta para pegar sua moto voadora, Bella pulou do sofá e se dirigiu ao jardim... Queria olhar as estrelas, como fazia quando sua mãe era viva. Mal sabia ela que naquela noite os Comensais da Morte fariam seu último estrago, seu mestre havia caído, mas eles ainda podiam deixar seu rastro.
    Enquanto Sirius descobria a morte de Tiago e Lílian, Bella estava contemplando as estrelas que pareciam brilhar mais ainda naquela noite... Pfft! A visão de Bella escureceu e ela foi levada pelos Comensais...

    Bella acordou assustada, seu sonho havia sido real demais, e, de repente, milhões de lembranças inundaram seus pensamentos: Quem eram seus pais, a data de seu aniversário, as diversas brincadeiras feitas com magia, os seus jogos favoritos, os seus apelidos, tudo!
Podia estar assustada, mas o cérebro trabalhava a mil pensando em um plano pra fugir daquele lugar, não era seu destino ficar ali e agora, mais do que nunca, queria ir para Hogwarts, seu pai ainda está vivo e ela queria achá-lo.
    Bella passou a semana trabalhando como nunca, parecia que recuperar suas lembranças tinha lhe dado mais força do que o normal. Passava as noites acordada arquitetando um plano que fosse bom o suficiente... Em sua rapidez para terminar suas obrigações para ter tempo de pensar em sua rota de fuga, acabou fazendo alguns trabalhos mal feitos e isso lhe rendeu, naquela noite, cinco chicotadas, pelos cinco trabalhos que não ficaram tão bons...
​ Como doía e ardia... Bella odiava quando isso acontecia, mas não derramava uma única lágrima, nunca derramou e agora quando o plano já estava quase pronto não iria se render aos caprichos da dor.
​    Quando seu castigo terminou, encolheu-se em seu canto e pensou profundamente no final de seu plano. Ele precisava funcionar, se não todos os esforços de Bella teriam sido em vão.
​Estava quase pegando no sono, entretida em seus pensamentos, quando Alex apareceu com um frasquinho e ataduras, ela nunca tinha mostrado compaixão por Bella, mas aquela injustiça não poderia ter sido feita! Foi apenas um prato mal secado e uma cortina fora do lugar! Não foram cinco coisas, foram só duas que teriam sido passadas em branco se Bobby, o elfo doméstico, tão adorado pelos seus chefes e que amava ver a menina sofrer, não tivesse comentado.
​    Alex levou Bella até o porão e pôs-se a cuidar dos ferimentos da menina. As costas de Bella eram infestadas de cicatrizes que nunca se curariam... Bem, talvez se curariam, mas apenas com mágica. Alex era um Aborto, então não poderia usar magia para curá-las, só os velhos remédios trouxas.
    Mas Bella poderia curar a si mesma, se tivesse domínio e sabedoria de sua própria poder. A maior parte de suas cicatrizes não foram consequências de trabalhos mal feitos, mas sim de explosões de magia que muitas vezes aconteciam nas horas mais inesperadas e faziam uma tremenda bagunça.
    A noite se passou e as costas de Bella já estavam melhores, na próxima noite ela iria fugir. Já havia pensado na carta que entregaria a Alvo Dumbledore, só faltava escrevê-la. Iria pegar tudo que precisava na escrivaninha de seu amo, alfabetizá-la foi um dos poucos caprichos que seus "chefes" a deixaram aprender.
    Bella tomou mais cuidado dessa vez com seus afazeres, terminou tudo em seu tempo normal e esperou seus amos dormirem. Quando os amos já estavam pregados no sono, Bella entrou em seu quarto e furtou uma pena de escrever, o nanquim e um pedaço de pergaminho. Desceu as escadas silenciosamente, a poiou-se na mesa de jantar e se pôs a escrever...
    Naquela carta, Bella abriu-se por inteira e finalmente soube quem era. Ela se chamava Bella Black, era filha de Sirius Black e Lince Gryffindor, tinha 15 anos e nunca, nada, jamais irá tirar dela as pessoas que ela amava.
    Na manhã seguinte, preparou, as escondidas, sua mochila de fuga. Quando o carteiro chegasse com as cartas logo cedo, iria pular a cerca e correr o mais rápido que conseguisse. Se a pegassem, provavelmente morreria, mas o risco valia a pena.
    E assim o fez, enquanto todos estavam preocupados com as cartas de seus parentes (as quais ela nunca recebia), Bella pulou o murro e correu, e correu e correu como nunca em sua vida. Mal ela sabia, que naquela terrível casa, seu "ex-amo" havia notado sua ausência, pois Bella sempre tinha a esperança frágil de que alguém se lembraria dela. Mas como poderiam? Todos achavam que ela estava morta!
    Então foi atrás dela. Não estava eu seu canto habitual, nem em um dos quartos, muito menos no porão, não mostrava sinal de vida no jardim. De repente um pensamento lhe ocorreu: "Ela fugiu!". Não! Ela não poderia fugir, se o Lorde das Trevas descobrisse ele estaria morto! A herdeira de Godric Gryffindor estava à solta e se chegasse a Hogwarts, Dumbledore a acolheria com todo prazer e acabaria na mesma casa de Harry Potter, Grifinória, se Bella e Potter se juntassem o retorno do Lord nunca aconteceria!
    Ele, então, pôs todos os adeptos ao Lord das Trevas para encontrar Bella, ela não poderia escapar...
    Bella só sabia correr e ver feixes de luz cortarem o ar como raios ao redor dela. Seu amo descobrira sua fuga, mas ela não conseguia mais correr... Estava tão cansada... Foi só um momento de desatenção e um dos feixes a acertou. Caiu no chão rolando, estava acabado, tudo fora em vão.
    Mas para a surpresa de todos, uma enorme fênix surgiu do breu da noite, Bella ficou tão feliz por saber que algo poderia dar certo ainda, que acabou se lembrando de um dos feitiços que o pai um dia havia lhe falado para espantar o mal ou o medo. Bella o gritou:
- EXPECTO PATRONUM!
    De seu peito uma fortíssima luz branca prateada começou a nascer e dela se formou um enorme leão. Ele investiu contra os Comensais da Morte, derrubando alguns de suas vassouras e outros perdendo suas varinhas.
    Sem entender nada, Bella assistiu tudo àquilo abismada. A fênix, com suas enormes garras, segurou a menina pelos ombros e as duas alçaram voo. Bella nunca se sentiu tão livre e, ao olhar para baixo, viu o seu leão correndo entre a mata acompanhando-a.
​    Na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts havia dois homens extremamente preocupados: Alvo Dumbledore que sabia que sua fênix, Fawkes, não fugiria se não fosse algo de extrema importância e Sirius Black que desafiava a própria segurança indo até Hogwarts para falar com Dumbledore sobre alguns sonhos que andava tendo com a voz de sua filha Bella.
​Dumbledore entendia a preocupação de Sirius: naquela noite Black não perdeu só seus melhores amigos e sua filha, ele perdeu por um tempo a sanidade. E escutar a voz da filha, que todos achavam estar morta, era um indicativo que ele ainda não a recuperara totalmente.
​    Naquele exato momento, Alvo e Sirius escutaram um assovio, um enorme leão branco invadiu a sala de Dumbledore e, junto com ele, Fawkes, carregando uma menina.
Enquanto os dois ainda se recuperavam do susto, a menina se levantou segurando um medalhão em forma de coração e um pedaço de pergaminho. Estendeu a mão que continha essas duas coisas a Dumbledore e disse:
- Estou com muita fome e cansada, o senhor se importaria se eu me escorasse aqui? – a voz de Bella saiu calma, mas por dentro ela estava uma pilha de nervos e totalmente cansada da viagem. Alvo concordou com a cabeça e a menina se escorou na parede, o leão se enroscou nela para aquecê-la e ali ela dormiu.
    Na manhã seguinte, Bella não se encontrava mais na sala de Alvo Dumbledore. Estava em uma cama extremamente macia, em um lugar amplo e limpo e alguém segurava sua mão. Ela sabia quem era só pelo toque e o jeito que massageava seus dedos. Era o homem que estava ao lado de Dumbledore na noite anterior, o homem de quem herdara a coragem, o homem a quem chamaria de pai:
- Oi pa-pai... – gaguejou Bella.
    Sirius não sabia o que fazer, puxou sua filha para um fortíssimo abraço, não queria mais soltá-la, anos e anos achando que estava morta, que a única família que tinha ainda era Harry e os bruxos da Ordem da Fênix, mas ali na sua frente estava sua amada filha, a que herdara os cabelos quase brancos da mãe e os olhos roxos, mas o seu difícil temperamento. Há... Sua doce e amada Bella...
    Bella nunca esteve tão feliz! Abraçada ao pai chorou todas as lágrimas retidas durante tantos anos, não chorou de tristeza mas de uma felicidade sem fim que nunca havia sentido em qualquer momento de sua vida.
    Aquele dia ficou reservado para ela como o melhor do mundo, conversou tanto com o seu pai que não sabia mais o que era ficar calada. Contou sua história e o porquê daquele dia ter o desobedecido. Sirius pensou que Azkaban era um lugar ruim, mas pensar no que a filha passou, não parecia ser algo nenhum pouco bom... Bella havia perdido a infância.
Depois de muitas lágrimas, abraços e lembranças, Madame Pomfrey veio ver as cicatrizes de Bella e disse que poderia curá-las. Bella poderia gritar de felicidade! Dumbledore também veio visitá-la:
- Ficamos muito felizes em saber que a herdeira de Gryffindor está melhorando Papoula, mas você poderia deixar-nos a sós alguns minutos? – Madame Pomfrey concordou com a cabeça e se retirou – Querida... eu soube de todo o mal que você passou, seu patrono me mostrou... Eu acharia muito bom você começar a estudar aqui em Hogwards, mas até alcançar o nível de todos os alunos do quinto ano levará tempo... Por isso contei aos professores um pouco de sua história, Bella. Eles concordaram em lhe dar aulas particulares.
"Você irá conviver com os alunos da Grifinória. A Professora McGonagall já avisou aos alunos que eles irão receber uma aluna nova, você será a novidade da escola! Principalmente sua história... Então, peço desculpas adiantadas pelos interrogatórios. Tivemos a liberdade de lhe comprar roupas, sapatos, seus livros... só a varinha é que você terá que ir comprar pessoalmente no Beco Diagonal.- O Professor Dumbledore continuou explicando e explicando, mas Bella não prestava mais atenção...
    Ela havia conseguido! Estudaria em Hogwarts, poderia ver o pai (mesmo que ele estivesse sendo perseguido pelo ministério por um crime que não cometeu), teria amigos, algo que ela desconhecia... Roupas! Várias roupas que ela poderia escolher e trocar, poderia tomar banhos quentinhos e comer até a barriga estourar...
    Bella não poderia estar mais feliz, imaginava que nada poderia estragar sua felicidade, ela mesma repetia a frase de seu medalhão na cabeça "Nunca irão tirar de mim as pessoas que eu amo", uma pena que nada é para sempre...

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