Alone

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Layla's P.O.V

Quando acordei estava meio zonza, o remédio era realmente forte. Mais alguns comprimidos poderiam ter me matado. Pensando bem, isso não é tão ruim.

Ao abrir os olhos não identifiquei o lugar onde estava, e o sol entrando bem na minha cara não estava ajudando em nada. Até que lembrei que nunca mais acordaria em meu quarto.

Aos poucos tudo o que aconteceu foi voltando em minha mente e me deu uma vontade enorme de chorar, mas segurei, tenho que ser forte ou vou passar o resto da minha vida chorando.

- Vamos lá, Layla. - Sussurrei para mim mesma tentando criar coragem. - Aguente só mais esse dia.

- Falando sozinha, querida? - Disse minha tia invadindo meu novo quarto sem antes bater na porta.

- Não. É que... - Minha voz foi morrendo ao perceber que não tinha uma desculpa para aquilo. Eu estava falando sozinha, mas estava apenas me encorajando a levantar.

- Olhe, Layla, está sendo difícil para mim também. E hoje ficará ainda mais difícil - Disse ela dando uma pausa e desviando o olhar para as próprias mãos. - Hoje é o velório deles. Passei o resto do dia ontem acertando as coisas com seus avós.

Fechei meus olhos tentando assimilar tudo o que estava acontecendo e a minha tia continuou:

- Se arrume, vamos sair daqui uma hora.

- Que horas começa? - Disse, ou melhor, sussurrei.

- Às 13h. Por quê?

- Eu não vou. Não consigo. - Disse determinada.

- Claro que vai. - Lilian disse. Senti uma pontada de autoridade no tom de voz dela.

- Desculpe, tia. Isso é demais para mim. - Disse abaixando a cabeça com lágrimas loucas para escapar dos meus olhos. Senti os braços da minha tia passarem por minhas costas em uma tentativa de me consolar. - Eu sinto muito!

- Tudo bem, querida... - Ela disse sorrindo com pena. - Você não comeu nada ontem, - percebeu ela - então só deixo você ficar se me prometer que vai comer algo.

- Tudo bem, eu vou comer - Disse forçando um sorriso.

- Ótimo! - Ela disse saindo do quarto.

Deitei na cama novamente e lembrei das penas. E aquelas asas do espelho? Será que elas realmente apareceram ou foi apenas fruto da minha imaginação? Bom, acho que se fosse fruto da minha imaginação não teria uma pena no chão. Seja o que for o que está me perseguindo espero que seja para o bem, porque mal e acontecimentos ruins é o que não faltam na minha vida.

Após pensar um pouco mais sobre asas e penas, ouvi a minha tia gritar:

- Estou indo, Layla. Não se esqueça de comer algo.

- Não vou esquecer. - Gritei de volta. Apesar de não sentir com fome, eu tentaria comer algo. Minha tia é legal, ela se parece muito com a minha mãe. Ambas tem os olhos verdes, cabelos castanho-escuros e a pele branca como neve, ri sozinha lembrando dos contos de fada que a minha mãe me contava quando eu era menor.

- Eu sinto sua falta, mãe. - Sussurrei para mim mesma sentindo um aperto no coração. É, mais uma vez eu estava falando sozinha e me torturando lembrando deles. Como em tão pouco tempo alguém pode fazer tanta falta? - Mãe, pai, se vocês puderem me ouvir, o que eu acho meio impossível, queria dizer que eu queria que vocês estivessem aqui. - Disse me sentindo uma idiota.

Bom, eu teria que me levantar da cama em algum momento. E se eu fosse dar uma volta? Não que eu esteja com ânimo para isso, por mim eu passaria o resto da minha vida trancada nesse quarto, mas talvez lá fora ,cercada de pessoas, eu me sinta menos... sozinha.

Levantei da cama e fui direto para minhas malas que estavam jogadas no chão exatamente como eu deixei na noite anterior. Peguei a primeira coisa que me apareceu: um moletom cinza. Vesti o moletom por cima da roupa que eu nem me dei o trabalho de tirar antes de dormir. Saí em disparada ao centro da cidade onde eu sabia que teria várias pessoas. Logo senti o frio da cidade e agradeci mentalmente por ter pego um moletom.

Passei a tarde toda andando sem rumo, apenas queria me sentir melhor. Apesar do frio, a cidade estava bem movimentada. Rodeada de pessoas e mesmo assim ainda me sinto só...

Entrei em uma viela com várias lojinhas, mesmo sendo uma viela, estava lotada de turistas em busca de lembrancinhas do país. De longe avistei um homem, ou melhor: um garoto, com cabelos loiros que batem no pescoço e vestindo uma jaqueta preta e calça de lavagem escura. Ele me chamou atenção, mas não pela beleza, e que beleza, e sim pelo fato de eu ter uma grande impressão de conhecer ele. E ele estava olhando para mim. Comecei a andar mais rápido em direção ao garoto sem tirar os olhos, mas distraída esbarrei em uma mulher que passava, pedi desculpas e dirigi o olhar de volta à ele, mas ele não estava mais lá. Saí correndo em direção ao lugar que ele estava, porém, olhei ao redor e nada. Aquilo é uma viela, uma rua sem lugares para onde escapar, ou ele subia ou descia. Será que eu estou ficando louca? Será que aquilo foi outra coisa da minha imaginação?

Cheia de perguntas resolvi voltar para casa. Já no táxi, me peguei pensando nos meus pais, como eles fazem falta. Resolvi mudar o curso da minha viajem e pedi para o taxista me levar até o cemitério da cidade, já estava anoitecendo e eu sabia que aquilo era loucura, mas eu precisava me despedir deles.

Nathan's P.O.V

Hoje não é um dos melhores dias de Layla. Não que ontem, o dia do acidente, tenha sido melhor, mas o fato de hoje ser o velório dos pais dela não ajuda em nada.

Hoje enquanto ela andava sem rumo entre as lojas apinhadas de gente, acho que ela me viu. Rafael está certo, eu tenho andado muito distraído quanto a me esconder de Layla. Mas acho que é inevitável. Eu sinto que é disso que ela precisa, me ver, entende? Acho que ela precisa de alguém para abraçá-la e estar ao lado dela, fisicamente, não só em sonhos. Eu estou me sentindo o pior anjo do mundo. Como posso deixar ela mal assim?!

Fui arrancado de meus pensamentos quando senti Layla entrando em local perigoso, e foi aí que percebi que a tinha perdido de vista. Fiquei tão ocupado pensando nela que esqueci de cuidar dela! Parabéns, Nathan. Você é um babaca.

Fui atrás da minha protegida e senti uma dor forte no peito quando fui parar no cemitério. Eu estava há um passo dentro daquele lugar, e quase me ajoelhei de dor antes de conseguir sair de lá. O cemitério é um lugar realmente carregado pra mim. Se eu colocar meus pés lá dentro, almas me pedem ajuda e eu perco completamente o ar de meus pulmões. Me sinto queimando. Ou o meu coração acelera como se eu tivesse tendo um infarto. Ou tudo junto. Ao pisar naquela terra, eu sinto a dor de como cada pessoa enterrada lá morreu.

Não podendo entrar lá, fiquei plantado no portão, olhando para Layla. Não foi difícil acha-la. Àquela hora do dia pouquíssimas pessoas se sentiam à vontade indo ao cemitério, então lá estava ela. Seus cabelos escuros estavam cobrindo o rosto e eu podia ouvi-la chorando. Ela dizia sentir muito por nem sempre ter seguido as expectativas dos dois. E pediu para que olhassem por ela do céu, porque ela não queria ficar sozinha daquele jeito.

E... Eu senti como se garras estivessem rasgando cada parte da minha carne. "Deus, por que eu não podia me mostrar a ela agora? Ela não está sozinha. Por favor, mostre a ela que ela não está sozinha", pedi aos sussurros. E decidi mandar Layla para casa, já estava escurecendo e eu não queria ela onde eu não poderia me certificar de que ela estava segura.

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