Capítulo - 3- Não ia dar certo mesmo

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  Meus pais e os pais do Marcos não ligaram para a novidade do nosso namoro, segundo eles isso já estava escrito e na cara que ia acontecer.

O que eu achava que seria mais difícil era enfrentar a Niela, mas ela não estava nem aí, ainda nos desejou felicidades. Ela não era como eu. Romântica e apaixonada.

Claro que nessa época tudo era flores e corações. Ah, como são boas as sensações do primeiro amor. Minha mãe ainda me falava "filha toma cuidado, primeiro amor normalmente a gente nunca esquece, é o que mais marca a gente, então não pense que vocês vão ficar juntos para o resto da vida pois a vida não é um conto de fadas".

Ela me assustou falando aquilo. Mas eu era muito bobinha e ingênua nessa época. Para mim o Marcos seria meu primeiro e se tudo desse certo meu único namorado.

Minha prima Graziela ainda ia lá em casa e ficava perguntando o tempo todo dele, e eu falando que MEU namorado estava muito bem obrigada. Ela fazia só para me irritar mesmo.

Um mês depois, notei que o Marcos andava meio estranho, isso que era ruim namorar o melhor amigo, você conhece a pessoa bem demais.

No intervalo do colégio perguntei o que ele tinha e ele falou que precisávamos conversar na hora da saída, pois era uma história muito longa e ele precisava de mais de meia hora para me contar. Meu coração já gelou. Mal consegui prestar atenção na aula naquela noite.

Na hora da saída finalmente ele veio falar comigo, aquela seria a pior e mais serias de todas as conversas que tive com ele:

—Então Vi.... Tenho más notícias...

—O que foi?

—Nós...nós não podemos mais ser namorados. Eu não queria, mas não vai ter outro jeito. – E me olhou sério.

—Que? Mas porquê? O Que eu te fiz? Você está interessado em outra é isso?

—Não! Será que depois de quase dois meses de namoro você ainda duvida do que sinto por você?! Não tem nada disso. É que.... Minha avó...mãe da minha mãe, que mora no Rio Grande do Sul, ela está muito doente, e meus pais decidiram que nós vamos nos mudar para lá...daqui duas semanas.

—Como é?

Claro que eu tinha entendido tudo. Ele ia embora para outro estado. E acabava ali meu conto de fadas.

—Marcos, eu nem sei o que falar...

—Me dá um abraço?!

Eu sorri com lágrimas nos olhos para ele. Ele tinha até comprado um par de alianças de compromisso para gente fazia uma semana.

Depois desse dia eu e ele não ficamos mais juntos, só conversamos como bons amigos, e não nos desgrudávamos um minuto.

Ele me fez prometer que escreveria para ele sempre. Sim escrever cartas, na época não existia esse negócio de redes sociais como o antigo Orkut, ou facebook, celular então era só para ligações mesmo e só tinha quem era rico.

Eu nem tive coragem de me despedir dele no dia dele partir. Ele me deixou o par de alianças para guardar de lembrança, e se um dia por acaso ele voltasse. Mas essa esperança eu nunca tive. Eu e ele seriamos apenas bons amigos de papel.

Passaram-se então uns 6 meses. Minha mãe já estava nos dias de ganhar o bebê. Nós estávamos em março, lembro bem daquele dia. Ela levantou disposta e deu a louca de fazer aquela faxina na casa, eu e meu irmão odiávamos isso pois sobrava até para gente também.

Enquanto eu e o Marcos, nos correspondíamos semanalmente, ele contando as novidades de lá e eu as daqui. Mas as cartas dele vinham cada vez mais curtas, mais sem assunto. Até que fiquei duas semanas sem receber uma única notícia.

Mas voltando aquele dia 10 de março, minha mãe levantou disposta. Paramos a limpeza para almoçar, e de repente meu ela colocou a mão na barriga e um líquido escorreu de suas pernas:

—Oh mãe se estava apurada porque não foi ao banheiro?

—Oh Cadu seu burro, não tá vendo que a bolsa da mãe estourou! Liga agora para o pai! O bebê vai nascer!

O Cadu ficou desesperado ligamos para o pai enquanto isso eu e meu irmão a levamos para a maternidade. E naquele dia nasceu meu irmão caçula o Lucas. Nunca vi um bebê tão mimado. Eu e meu irmão Cadu estávamos bobos com um bebê em casa.

Dois dias depois quando minha mãe e o bebê já estavam em casa que vi na caixa do correio a carta do Marcos. A última carta dele. Eu fiquei toda feliz, mas ao abrir o envelope vi o que estava escrito nela:

14 de maio de 1996

Vivian, peço desculpas pela demora em escrever essa carta. Mas é que as coisas mudaram um pouco. Conheci uma garota. E me apaixonei por ela. Me apaixonei de uma maneira que pensei que não fosse capaz.

Acho que nossa história não teria mesmo como continuar. Minha intenção não é e nem nunca foi te magoar. Não esperava mesmo conhecer ninguém, mas sou jovem ainda preciso aproveitar. E você também logo me esquecerá.

Você sempre terá um lugar especial em meu coração. Mas essa será minha última carta. Siga em frente com sua vida e seja feliz...

Com carinho....Adeus....Marcos...

O que eu poderia sentir naquele momento a não ser raiva. Eu ali morrendo de saudades contando os dias por uma única bendita carta e depois de duas semanas é só isso que ele tinha para me dizer? Eu quase rasguei a carta. Mas no fundo no fundo eu sabia, que eu é que havia fantasiado demais. O Marcos não passava de um cara bonitinho como os outros garotos da idade dele. E eu esperava o que exatamente? Eu tinha só dezesseis anos, ele dezessete, como ia dar certo um namoro assim à distância, na base de cartas? Nunca.

Eu chorei. Meu irmão Cadu continuava conversando com ele pelo telefone uma vez por semana, e quando ele me viu chorando falou que sabia que isso ia acontecer:

—Irmãzinha, eu te amo, você sabe, mas vocês dois, tanto ele quanto você são muito jovens para namorar a sério. Eu entendo você, mas entendo ele também. Pensa que é melhor assim, até porque ele mora em outra cidade e relacionamentos a distância não funcionam. Chore porque é bom você passar por esse momento. Mas amanhã sorria. E siga em frente! Quero ver você feliz.

Eu sabia que meu irmão tinha razão mesmo assim não significava que aquilo não estava doendo muito em mim.

Num ponto essa decepção grandiosa, me faria bem e estava na hora de parar de ser uma boba romântica esperando um grande e verdadeiro amor, como um príncipe de contos de fadas. Estava na hora da minha grande mudança.

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Dando o braço a torcer - (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora