Capítulo Único

4.8K 476 687
                                    


Near sabia que aquilo não normal. Sentir aquele palpitar no peito, a respiração acelerada. Não... não era normal. Era asma.

Sentou-se, arrastando-se no chão por entre os dados enquanto apertava o peito. As mãos agarravam o tecido do pijama como se assim pudessem tocar os próprios pulmões e se obrigar a respirar devidamente. Em vão. Sabia que era inútil, sabia que tinha que achar sua bombinha antes que aquilo se agravasse e faltasse oxigênio ao cérebro.

Afastou-se da parede, engatinhando pelo chão enquanto os olhos corriam pelos dados, cartas e brinquedos no chão.

Irresponsável. Tinha sido irresponsável mais uma vez. O que L pensaria se o visse naquele estado? Se soubesse? O detetive se zangaria. Ao modo dele, é claro. Iria o repreender e fazer com que alguém vigiasse Near novamente para evitar situações daquele tipo.

Ar, ar, ar.

Gemeu dolorido, ouvindo o chiado do peito, sentindo a dor se alastrar naquela região enquanto os olhos se umedeciam. Bateu em sua construção de dados, destruindo-a, passando a mão pelos cubos a fim de ver se sua bombinha estava ali entre eles. Mas a verdade era que Near sabia que não estava.

Havia esquecido o aparelho no quarto, sobre o criado mudo, do lado do ursinho branco, a quatro centímetros da quina.

Arfou sem que o ar entrasse em seus pulmões. As lágrimas escorreram quentes. O corpo tremia enquanto se deitava de costas no chão encarando o teto e sentia a garganta arder. A vista ficou turva.

Falta de oxigênio.

Não demoraria a perder a consciência.

A visão escurecia, o corpo doía, mas o desespero que sentia não era pela possibilidade de morrer, mas sim pela falta de ar, uma resposta puramente biológica. E foi assim que, de repente, não viu mais nada.

Acordou na enfermaria com o silêncio e o nada como companhia. A enfermeira apareceu em pouco tempo, obrigando-o a fazer inalação enquanto o repreendia severamente.

Os olhos negros miravam o chão sem interesse pelas palavras que ouvia. Murmurou um agradecimento baixo e indiferente ao ser liberado e caminhou para seu quarto. Trancou a porta, indisposto a ouvir Roger, o diretor do orfanato, vir lhe passar outro sermão. Coçou os olhos e, de repente, pendeu a cabeça para o lado ao ver o urso de pelúcia caído no chão. Enrolou uma mecha do cabelo branco, analisando a cena.

A bombinha para asma estava ali no criado mudo como previra, mas o urso estava caído perto de sua cama. Os lençóis estavam bagunçados como deixara, mas a coberta estava caída parcialmente como ele nunca deixaria. Alguém estivera em seu quarto.

Mello? Matt? Com certeza, um dos dois. Só eles tinham cara de pau o suficiente para invadir seu quarto e ainda por cima mexer em suas coisas. É, eles tinham ido ali para verificar se ele havia mesmo sido levado à enfermaria provavelmente já que era muito mais fácil invadir o quarto do que convencer as enfermeiras a uma visita fora do horário e sem autorização de Roger.

Aliás... Há quanto tempo não via Mello? A última vez tinha sido na sala de brinquedos quando ele estranhamente não destruíra seu castelo de cartas.

— Presente de aniversário — foi o que Mello usou como justificativa.

Near sorriu de leve com a lembrança. Mello podia ser explosivo e violento, mas ele nunca esquecia de seu aniversário. Mesmo que fosse para simplesmente irritá-lo mais ainda no dia, o que não acontecera aquele ano. É... Seu aniversário de quinze anos havia sido mesmo diferente. Mello simplesmente aparecera com uma barra de chocolate e a deu a Near, "jogou" seria o termo mais adequado, enquanto deitava no sofá e ignorava o castelo de cartas.

O que nos tira o ar...Onde histórias criam vida. Descubra agora