Talvez um pouco perdida

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Wendy já estava no banho à mais de 1h, talvez 2h ela perdera um pouco a noção do tempo. Já vestida e lavada, Wendy arrumou a cozinha ainda sentido-se meia enjoada olhando para os pratos. Se a depressão não a matasse primeiro a má alimentação trataria do assunto. Riu com o seu pensamento, embora o mesmo não tivesse assim tanta graça ou mesmo graça nenhuma. Mas o que podia fazer? Sempre tivera a capacidade de rir por qualquer coisa, principalmente das quais não devia.
Wendy pegou nos seus pertences e saiu de casa. Os raios de sol chocaram-se com a pele pálida de Wendy fazendo a mesma sentir um pequeno arrepio, um vento acolhedor abraçava o seu corpo com carinho enquanto sussurrava pequenas palavras às mechas de cabelo loiro que balançava ao som dos sussurros e enquanto seus olhos azuis morriam de amores pelo azul do céu que se prolongaria até beijar o mar. Wendy lançou os seus braços para o alto como se tivesse intenção de tocar no céu e suspirou. Teria de ir à procura de um trabalho, tinha suas responsabilidades e não podia simplesmente esquecê-las por mais tentador que fosse.
Seu sonho de consumo desde criança era trabalhar numa livraria. Livros. Wendy nunca percebeu as pessoas que não gostavam de ler e sinceramente também não tinha intenção de perceber, ler um livro era entrar num outro mundo, ser outra pessoa, todos os problemas, todas as inseguranças, todos os medos que tinha como Wendy Scarlett desapareciam, não havia espaço para essa personagem num livro que não lhe pertence. Wendy suspirou, tudo que pensava fosse qual fosse o assunto levava-a para o seu passado não tão feliz e ela tinha realmente de se concentrar para encontrar um trabalho ou pelos menos para não cair.
Seus olhos começaram a vasculhar a rua e o desespero começou a tomar conta do seu corpo. Estava tão perdida nos seus pensamentos que acabou por se perder, riu um pouco com a ironia do destino, continuou a andar, afinal, já estava mesmo perdida. Passado alguns minutos a caminhar, no entanto desta vez concentrada no caminho, acabou por encontrar uma livraria. Wendy ainda pensou em voltar para trás mas ela precisava mesmo de entrar naquela livraria e rezar aos deuses que pudesse trabalhar lá e depois, e só depois, teria um ataque de nervos por estar completamente perdida.
Ao entrar, o sininho da porta fez-se ouvir por toda a extensão da loja e logo de seguida conseguia-se ver, a carregar vários e pesados livros, uma velhinha que descia a escadas calmamente.
- Seja bem vinda, em que posso ajudar? - perguntou a senhora que agora com os livros pousados sob o robusto balcão de madeira, massajava as costas mas em seu rosto estava depositado um sorriso carinhoso embora cansado
- Eu gostava de saber se estão a precisar de empregados. É que eu adoraria trabalhar aqui. - disse praticamente implorando pelo trabalho
A mulher riu com o desespero de Wendy. Qualquer um que olhasse para a pequena loira à sua frente percebia a vontade que a mesma tinha em trabalhar ali e não é todos os dias que alguém entra por uma porta a dentro com vontade de trabalhar fosse no que fosse.
- Claro que podes minha querida, podes começar amanhã - disse a senhora sorrindo voltando a pegar no monte de livros para os arrumar enquanto a Wendy só lhe faltava vomitar arco-íris pela boca - Como te chamas meu doce?
- Sou a Wendy e a senhora é? - perguntou Wendy ajudando a mulher com os livros
- Ohhhh minha querida, sem formalidades, podes-me chamar de Ana e quando te sentires mais à vontade, vovó - disse sorrindo de forma carinhosa, de uma forma que só as avós sorriem deixando a pequena Wendy um pouco corada
Wendy e Ana falaram sobre todos os livros que leram e Ana encontrou-se deveras impressionada com a quantidade de livros que Wendy lera.
- O que leva uma jovem tão bela vir-se esconder entre um monte de livros empoeirados?
- Obrigada pelo elogio. - disse Wendy um pouco corada - Mas não acho que seja bem essa a situação. Eu simplesmente gosto de livros.
- Ohhhh minha querida, normalmente as pessoas que gostam de estar entre livros são as que querem fugir da realidade. - disse a senhora olhando com um ar carinhoso para Wendy - Por isso, do que foges tu criança?
Wendy não respondeu, afinal do que é que ela fugia? Do seu passado? Mas se esse fosse o caso, era passado, algo que não podia ganhar perninhas e vir incomoda-la, pelo menos não teoricamente. Não, não podia ser o seu passado. Ela já convivia com o seu passado todos os dias para aprender que não valia a pena fazer nada que ele sempre a assombraria. Talvez fosse o medo constante que lhe percorria o corpo, a insegurança, a sua mente conturbada que lhe enchia de problemas a cada 10 segundos. Talvez não fosse realmente nada e ela simplesmente gostava de ler. Talvez fosse tudo. Talvez ela estivesse a ficar paranóica. Eram muitos "talvez", demasiados para o seu gosto.
Perdera a tarde toda na companhia de Ana e aquele labirinto de livros, perdera-se umas 10 vezes naqueles corredores que na sua opinião pareciam todos iguais, se não fosse Ana provavelmente ficaria lá o resto da vida. Já era de noite quando saiu da livraria e Ana insistira que ela jantasse lá para conhecer o seu neto e o seu marido no entanto Wendy recusou dizendo que tinha uma amiga em casa que já estava preocupada com ela. Agora sim Wendy estava a entrar em desespero, era de noite,não fazia a mínima ideia onde estava e para piorar a situação o seu telemóvel decidiu morrer bem no momento que ela precisava. O universo não estava a colaborar com ela. Decidiu ir até onde se lembrava e, talvez, com sorte, encontrasse alguma cabine telefónica pelo caminho.
Wendy olhava para os lados para ver se recordava de mais pormenores até que por distração foi contra alguém.
- Vê lá por onde andas! - disse a pessoa irritada
Wendy rosnou de raiva, tanta espaço no mundo, tanta gente no mundo e ela tivera de ir contra ele.
Adam olhava para Wendy com indiferença, como se nunca a tivesse visto na vida, seu olhos estavam opacos e as olheiras debaixo dos olhos denunciavam que ele não dormira bem, aliás, tudo nele dizia que algo de mal se estava a passar.
"- Conhece-la?"- perguntou Tara flutuando ao lado de Adam
Adam deu um sorriso de canto, talvez fosse impressão sua mas aquela pergunta parecia estar revelar um pouco de ciúme 
- Vem comigo. - disse Adam passando direito por Wendy
- Porque haveria eu de ir contigo? - perguntou Wendy com os braços cruzados à frente do peito
- Porque a Melissa já ligou a meio mundo para saber de ti e pôs todos na rua à tua procura - disse Adam olhando agora para Wendy de forma desafiadora - Mas claro que podes sempre dizer-lhe que não quiseste a minha ajuda para voltar para casa porque o teu orgulho era maior, isto é, se tu algum dia encontrares o caminho de volta.
Wendy bufou, o Adam tinha razão teria de aceitar a ajuda dele, teria de engolir o seu orgulho ou então teria de enfrentar uma Melissa furiosa quando, eventualmente, conseguisse chegar a casa.
- Está bem, venceste. - disse Wendy finalmente cedendo e seguindo o Adam
"- Quem é ela? São amigos? Como é que se conheceram?" - questionou Tara que andava de volta de Adam "- Ela muito bonita!"
Adam não se conseguiu controlar e acabou por se rir do comentário um pouco ciumento de Tara
- Do que é que te estás a rir? - perguntou Wendy que gostara de ouvir a risada de Adam
- Não te diz respeito - respondeu Adam voltando à sua pose de indiferente ouvindo Wendy bufar e a murmurar algo que não conseguiu decifrar
"- Não quero que te dês com ela" - comentou Tara séria em frente de Adam fazendo com que o mesmo parasse de repente o que levou que Wendy fosse contra as costas do mesmo
- Eu dou-me com quem eu quiser e vê se percebes de uma vez por todas tu estás morta - disse Adam olhando seriamente para Tara que o olhava da mesma forma
Wendy tocou-lhe levemente no braço tirando Adam do mundo em que se encontrava e se concentrasse na Wendy, naquele toque.
- Está tudo bem Adam? - perguntou Wendy um tanto preocupada fazendo Adam desviar os olhos dela
- Parece que estás entregue, o meu trabalho está feito. Vê lá se não te perdes mais vezes eu não vou estar sempre lá para te salvar. - disse Adam se afastando
- Idiota! - disse Wendy com um sorriso brincalhão no rosto
Mal Wendy pôs os pés dentro de casa foi mandada ao chão por uma Melissa em lágrimas.
- NUNCA MAIS VOLTES A FAZER-ME ISTO SUA ESTÚPIDA!!! - berrou Melissa enquanto sufocava Wendy em abraços
Wendy contou-lhe como foi o dia e o que estivera a fazer, como tinha se perdido e quem a ajudara e a Melissa contou-lhe como se desesperara quando não a encontrou em casa.
Ambas se foram deitar e Wendy estava tão cansada que nem teve tempo de ter medo simplesmente adormeceu com o desejo de rapidamente voltar a ser de manhã.
E pela primeira vez adormeceu sem medo da sua mente.

Nota de autora:
Eu sei que estive muito desaparecida e peço muitas desculpas por isso mas tive um bloqueio criativo do grandes e a prova disso é este capítulo que podia ter estado bem melhor.
Não sei quando voltarei a postar vou já avisando.
Ps - perdão pelos erros

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⏰ Última atualização: Jul 21, 2016 ⏰

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