1859
Já estava chovendo havia quase uma hora. Yoshio Nakadai se ajoelhou no abrigo à beira da estrada na posição sei-za - joelhos e canelas no chão, pés cruzados debaixo das nádegas - para esperar a chuva estiar. Não estava com pressa. Este abrigo havia sido construído exatamente para proteger os viajantes das tempestades. O ritmo repetitivo da chuva batendo no telhado lhe dava um foco para suas meditações.
Mas estava sendo difícil alcançar este foco ultimamente. Mesmo agora, esvaziar a mente provocava-se algo complicado ou impossível.
Em outros tempos, um samurai como Nakadai teria cometido seppuku - suicídio ritual - quando as posses de seu senhor fossem confiscadas, suas terras tomadas, seu título cancelado. Mas esses dias eram coisa do passado. Ninguém mais conhecia os preceitos da honra, e o código do bushido tornara-se uma história para crianças escutarem em volta da fogueira, ao invés de ser um modo de vida como deveria.
Nakadai agora era mais um dos muitos ronins, samurais sem senhor, que vagavam pelo interior do país na esperança de utilizar suas habilidades para sobreviver. Durante o ano que havia passado desde que seu suserano caíra em desgraça com a capital Edo, ele havia trabalhado como espadachim de aluguel para proteger pessoas e caravanas, assumindo a tarefa de investigador, atuado como árbitro num litígio entre dois mercadores, trabalhando em construções e sido professor de defesa pessoal do filho de um homem rico.
Sua reputação havia-lhe servido bem, principalmente nas cidades mais próximas a Edo. Ao contrário de muitos ronins, Nakadai sempre agia com honra.
Ele não sabia como fazer isso de uma forma diferente. Além disso, se uma pessoa o contratasse e ele executasse sua tarefa adequadamente e bem, era muito provável que o contratassem de novo.
Contudo, mesmo sendo capaz de ganhar bastante para viver, não conseguia obter a satisfação pela qual ansiava. Tivesse ele cometido seppuku, como exigia a tradição, poderia muito bem encontrar a paz. Mas morrer por lealdade a um homem desonrado?
Nakadai não morria de amores pelo xogunato, mas nesta instância eles estiveram certos em censurar seu senhor, que havia provado ser covarde e ladrão. A desonra foi de seu amo, não de Nakadai.
Não havia nenhuma razão para morrer por gente dessa espécie, embora a honra exigisse que assim fosse. Ele havia jurado fidelidade, e o fato de seu suserano não merecer tal lealdade não alterava o fato de que Nakadai havia prestado um juramento.
Ele ainda estava sendo assolado por este dilema. Sua mente se recusava a ficar vazia.
O ritmo da chuva foi subitamente quebrado pelo som rápido de pés chapinhando na lama.
Nakadai abriu os olhos e olhou pela cortina de chuva. Viu um homem baixo correndo em direção ao abrigo. Mal chegou, o baixinho tentou inutilmente secar a água do resto e das roupas. Por fim, conformando-se com o fato de estar encharcado, o recém-chegado riu e disse:
— Saudações, espero que você não se incomode de eu dividir esse abrigo com você.
— Claro que não — replicou Nakadai em voz baixa. Então fechou os olhos de novo, esperando que o homem entendesse que ele não queria ser perturbado.
Contudo, o baixinho não chegou nem perto de entender.
— Sinceramente, pensei que a chuva já teria parado a essa altura — continuou o homem, olhando por baixo da beira do telhado. — Pensei comigo, "Cho, você está só a uma hora de distância da cidade. Você pode fazer isto antes que a chuva aperte". Em vez disso, o aguaceiro só piorou! — Voltando-se para Nakadai, o homem chamado Cho o examinou com mais atenção. — Ei, você não me é estranho!
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Supernatural - Coração Do Dragão
Ficción General(ATUALIZAÇÃO QUANDO A SENHORA INTERNET COLABORAR) Livro de Keith R. A. Decandido com tradução de Gilson B. Soares. --------------------- Um romance 'Supernatural' novinho em folha que revela uma aventura nunca vista antes dos irmãos Winchester, bas...