Capítulo 1

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- "Nesta manhã, mais detalhes da lastimável tragédia na Usina Anka foram divulgados. Segundo relatos, o empresário inglês David Anka, CEO das Usinas Anka, estava no local do incêndio quando tudo começou. Alguns funcionários estavam do lado de fora da empresa, acompanhados por David a uma excursão pelos muitos polos da usina. A primeira explosão do tanque número 34 de gás, fez o empresário e seus funcionários desviarem o caminho, voltando para dentro da empresa para tentar conter as chamas. Sem sucesso, David tentou evacuar a usina o mais rápido possível. Algumas pessoas morreram, outras ficaram feridas, mas David Anka, infelizmente não resistiu até a chegada do socorro, e acabou deixando órfã sua única filha, Rebecca Anka. Alguns parentes, amigos e funcionários das usinas prestaram suas homenagens e desejaram os seus sinceros sentimentos à Rebecca nas primeiras horas do dia" - disse uma das apresentadoras do noticiário que Rebecca ainda insistia em ver.

Limpou mais uma lágrima que escorreu de seus olhos azuis, antes brilhantes e cheios de vida. Tudo quê se via nos olhos de Rebecca Anka agora eram lágrimas. Camadas tênues de água inundavam seus olhos, recusando-se a deixá-los desde que recebeu aquela trágica notícia.

- Acho que você deveria tomar um banho agora, meu anjo - Isabelle falou suavemente, chegando ao quarto da garota. Agarrou rapidamente o controle remoto, desligando a televisão.

Rebecca apenas levantou os olhos em direção à sua tia, sem forças para qualquer coisa, nem ao menos para falar. E mesmo que tivesse, Rebecca não sentia vontade alguma de fazer tal coisa.

- Rebecca, meu bem, estamos aqui para tudo o que precisar, não vamos deixá-la sozinha. Agora, eu preciso que você seja forte o suficiente para enfrentar àquele bando de gente que está lá em baixo, esperando para dar os pêsames a você. O seu pai ia querer que você fosse forte, e você vai ser - Isabelle falou, aproximando-se da sobrinha, que ainda fitava-a sem esboçar qualquer reação.

Rebecca agora estava diferente. Não era mais a garota brilhante, carinhosa, geniosa e cheia de vida que Isabelle vira crescer. Agora ela era apenas uma garota comum. Sem nenhum desses atributos para tornar-lhe uma pessoa especial ou encantadora. E Isabelle entendia completamente o lado da sobrinha; não haviam motivos coerentes para que a garota continuasse do mesmo jeito que antes. Alegre e cheia de vida. Nada mais fazia sentido para Rebecca, e sua tia compreendia isso perfeitamente, pois um pedaço de seu coração também se foi com seu irmão.

- Tudo bem - falou por fim, a garota - Estarei pronta em meia hora.

Sua tia abriu o sorriso mais satisfeito que pôde e beijou o topo de sua cabeça, deixando-a sozinha logo em seguida. Sozinha. Era assim que Becky se sentia. Nada nela, agora, parecia-se com a garota de um dia atrás. Então, dando-se por vencida, Becky caminhou vagarosamente até o banheiro de seu quarto, ligou o chuveiro e se livrou de suas roupas.

Meia hora depois, Rebecca Anka estava pronta para descer as escadas de sua casa e encontrar um bando de gente derramando lágrimas de crocodilo ao redor do corpo pálido e sem vida de seu pai, que era velado ali mesmo, na enorme casa onde sempre moraram. Trajando um vestido solto, simples, preto e sem vida, Rebecca pisou nos primeiros degraus da escada de mármore, seguido por mais um e mais um e mais um, até chegar ao térreo da casa e dar de cara com tudo o que ela mais queria evitar: pessoas.

- Rebecca, querida - a primeira falsa de plantão era Bridget Gates, a pior inimiga de seu pai. Que agora, se aproximava de Rebecca sem pudor, prestes a dar-lhe um abraço tão falso quanto suas lágrimas.

Bridget Gates era uma pessoa fria, Rebecca sempre soubera disso. Graças a David, que sempre a avisou e alertou sobre quem nunca confiar. Gates jogava baixo, e ela sabia disso. Poderia muito bem ter sido ela a pessoa que planejou o incêndio no tanque de gás, por que não? Ela já ouvira muitas vezes histórias sobre pessoas que faziam de tudo para acabar com a concorrência. Mas sempre achara tudo um grande absurdo, uma coisa quase que irreal. E agora, estava prestes a pôr toda a culpa da morte de seu pai em Bridget, a mulher que só estava lá para posar de boa moça.

- Meus sentimentos - a mulher apertou a garota sem piedade.

Um abraço apertado que, mesmo que falso, quase neutralizou os últimos pensamentos da garota em relação a ela. Parecia realmente sincera.

- Obrigada, Bridget - disse.

- Agora já chega Bridget, você já viu David morto e já disse tudo o que queria à Rebecca, agora, por favor, vá embora e não nos importune mais - Isabelle rosnou no ouvido da mulher, para que só ela ouvisse.

Atendendo ao pedido de Isabelle, a mulher deixou a casa sem dizer nada, deixando Rebecca mais confusa do que já estava.



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