Prólogo

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  O barulho da máquina de café era tudo que eu ouvia enquanto ele dizia tudo que passava em sua mente. Não que eu estivesse sem interesse por ele, mas no momento minha atenção estava nele pegando seu café gelado e levando ao seus lábios carnudos. Sem que eu pudesse me conter, esse gosto amargo estava na minha boca rachada, efeito do chá escaldante que eu havia tomado segundos atrás. Não que eu ligasse, porque tudo que rondava minha cabeça, como sempre, era o fato de estarmos nos beijando.

  O choque de realidade me bateu fazendo eu abrir os olhos. O que eu faria depois de sua boca não estar mais na minha? Foi eu que o beijei. Sem avisos prévios ou perguntas. Afinal, eu não tinha o direito de fazer isso, não depois do que eu o disse. A timidez deu as caras me fazendo nem perceber quando ele se distanciou. 

  Meus olhos ficaram fixos nas minhas mãos, pois não tinha coragem de olhar para a expressão em seu rosto. Ouvi um pigarreio fazendo me perguntar se eu devia ignorar. Mas como eu não estava no jardim de infância, levantei meus olhos focalizando no seu sorriso pretensioso.

  Porque ele estava me olhando dessa maneira? Não tinha noção de que isso tudo era errado? Claro que foi eu que o beijei, mas o fato de que minhas mãos estavam brancas de tanto apertar a mesa ou de que minha bochecha mais vermelha do que meu casaco, denunciavam o quanto estava nervosa. Uma raiva repentina tomou o lugar da timidez me fazendo levantar com rapidez.

  - Por que me chamou aqui? Já não bastava me encher na escola, tem que ser no meu tempo livre também?

  - Porque todo esse ataque? Foi você que acabou de me beijar. – ele me olhou confuso. Suas palavras fizeram minha raiva diminuir um pouco. Um pouco.

  - Foi algo impulsivo. – falei baixo com as bochechas coradas.

  - É desse tipo que eu gosto. – ele levantou e tocou meu ombro e foi descendo até minha mão, levando um rastro de fogo consigo.

  - Para - me distanciei dele- Por favor.

  Abaixei a cabeça o impedindo de ver meus olhos marejados. Eu o queria. Como queria. Mas nossa situação era difícil, poderia dizer até impossível. Mas em meio a tanta coisa ruim na minha vida, ele consegue ser o único que realmente me faz sorrir. Porém, não estávamos pensando direito. Pelo menos, eu não. Tinha que parar de ser egoísta e o querer não importa o que lhe aconteça. Eu tinha que parar, antes que fosse tarde demais. 

  Respirei com dificuldade e dei as costas a ele, mas não antes de localizar sua expressão magoada. Com uma pressão em meu peito, sai da cafeteria dando de cara com o frio de inverno chicoteando minha pele e com as gotas de água caindo que preenchiam minha visão. O cheiro de chuva entrou pelas minhas narinas me fazendo relaxar.

  Uma vontade de chorar veio à tona. Por que? Eu não sei. Talvez seria porque eu sabia que tudo era um farsa. Talvez eu tivesse sendo um pouco dramática. Mas enquanto eu andava para minha casa em meio a chuva, as perguntas que eu evitava rondavam minha mente. O que eu devo fazer? Meu amor por ele era o suficiente? Eu não fazia ideia.  Mas o que eu realmente sabia era que não importava. Nunca iríamos poder ficar juntos e não saber a resposta talvez fosse o melhor.

  Abri a porta de casa e subi sem nem dar a chance de meu pai falar algo. Entrei no meu quarto e comecei a balbuciar as coisas que eu deveria fazer hoje mas que provavelmente não vou.

  Uma batida na porta me assustou. Corri para abrir e dei de cara com Abby. Ela me abraçou sem falar nada, mas conhecendo bem ela, isso não duraria muito tempo.

  - Sua louca! Por onde andou? Você não atendia o celular nem dava noticias. - ela respirou fundo e disse mais calma – Fiquei preocupada, Claire.

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