Hopeless

Capítulo 3

   Fiquei parada o olhando enquanto percebo que ele trava uma guerra em seu pensamento. Achava impossível ele ficar mais bonito, mas percebo agora que estava errada.

  Com uma calça jeans preta e uma blusa preta por baixo de sua jaqueta favorita que logo reconheço. Seus cabelos castanhos estavam bagunçados e caindo em sua testa, quase tampando seus olhos perfeitos.

  Meu deus, no que eu fui me meter? Qual era a probabilidade de ele ir justo para o mesmo lugar que eu? Um aperto no meu peito foi aumentando a cada piscada que esse homem dava.

  Ele me olhava com uma hesitação evidente. Quase posso ouvir um estalo em sua cabeça antes de começar a se aproximar.

  -Claire. - ele solta o ar rapidamente- Faz anos que eu não te vejo. Quase não te reconheci.

  - Doze. - digo baixo me sentindo idiota imediatamente.

  Ele assente e olha para o chão. Ficamos em silencio longos segundos até que Evan resolve quebrá-lo:

  - Você veio por causa do Joe? - mexo a cabeça, então vejo a raiva em seu olhar – Por que, Claire? Como pode fazer isso? Depois de tudo que ele nos fez, você venho ver como ele está?

  - Claro que não, eu vim por você. Queria saber como estava. - as palavras patéticas saíram da minha boca antes que eu pudesse me conter.

  Mike me olha por um tempo como se tivesse decidindo se eu estava dizendo a verdade ou só um bando de merda.

  - Veio por mim? - ele sussurra- Onde estava essa consideração toda doze anos atrás? Quando foi embora me deixando apenas uma carta?

  Sabia que iria chegar a isso. Mas eu não podia fazer isso. Pelo não agora.

  - Eu preciso ir. - deixo um dinheiro na mesa e saio da lanchonete, deixando um homem que já amei muito para trás.

                                               ////////........ ////////

  - Mas poderia pelo menos tentar? - Abby continuava falando.

  - Não é questão de tentar, é só que não quero ir. - eu disse pela milésima vez.

  Ela revirou os olhos e ficou em silêncio. Por pouco tempo, eu sabia.

  - Olha – ela para na minha frente- Vem para minha casa, nós nos arrumamos, ficamos gatas e sexys e vamos para a festa. Se não gostar, eu vou embora com você.

  Pensei no assunto. Eu não saia desde que minha mãe ficou doente, talvez fosse uma boa ir para essa festa. Mas nunca que eu iria admitir.

  - Tanto faz. - dei de ombros a fazendo sorrir e bater palmas.

  Saímos do colégio e fomos direto para o carro de Abby. Passei o caminho todo ouvindo-a falar do que iriamos vestir. No que fui me meter?

  - Come alguma coisa e pega suas roupas que daqui a pouco passo para te buscar. - ela diz assim que chegamos em minha casa.

  Saio do carro e corro para dentro de casa por conta da chuva. Abro a porta e vejo minha mãe dormindo no sofá velho. Chego perto dela e percebo que está tremendo de frio, então saio correndo atrás de uma coberta para ela.

  - Mãe? - tento acordá-la. - Mãe? -começo a ficar desesperada.

  - Ela não vai acordar tão cedo. - meu pai diz atrás de mim- Tomou um remédio bem forte.

  Tento relaxar, mas quando estou perto desse homem, nunca consigo. Subo diretamente para o meu quarto e começo a arrumar minhas coisas.

  Não é que eu odeie meu pai, só não sinto nenhum afeto por ele.

  Jordan era um empresário bem-sucedido. Tinha tudo o que queria para si e para sua mulher e filha. Até que começou a enfrentar apostas e perder, o que nos levou a nossa atual situação. Perdemos praticamente tudo e antes o que era um pai amável, virou esse estranho. Piorou quando minha mãe adoeceu e só vem piorando cada dia mais.

  Meu celular começa a tocar e percebo uma mensagem de Abby, avisando que já estava vindo. Então desci, comi uma sobra de macarrão e corri com minha mochila nas costas para o carro da minha amiga mas não antes de deixar um bilhete avisando onde eu estava para meus pais.

  O tempo passou rápido e quando fui ver, Abby já estava me puxando para seu armário.

  - Usa esse vestido aqui, por favor?

  - Não. - falo para ela- O que tem de errado com a minha calça?

  - Nada, na verdade. Mas é uma festa. Pode, pelo menos, experimentar? - ela balança o vestido na minha cara.

  Percebendo que estou sem opção, pego o vestido da mão dela.

  Não ficou ruim. Na verdade, ficou muito bom. Ele batia na metade da minha coxa e tinha um decote alto. Era de um azul turquesa apertado no busto e modelava bem meu corpo. Abby me obrigou a usar um salto bege que doía meu pé após um segundo usando. Meus cabelos geralmente ondulados, agora estavam completamente lisos.

  Ela estava com seu vestido vermelho e seus saltos pretos. Linda como sempre, ela prendeu seus cabelos loiros em um rabo de cavalo.

  Minha amiga não parou de falar um segundo sobre a grande festa que rolava a apenas alguns quarteirões de distância e enquanto íamos para lá, eu só pensava em minha mãe. Em como ela estava e no que meu pai estava fazendo.

  Ao chegarmos, a casa estava lotada. Por todo lado tinha adolescentes bebendo ou fumando, pelo cheiro de maconha. Havia um garoto vomitando não muito depois de onde eu estava.

  Dentro do local conseguia estar pior. A música alta conseguia fazer mexer o lustre pendurado na sala de estar. Meninas dançavam praticamente sem roupa enquanto os meninos ficavam dançando atrás delas. Observei os outros para ver se estavam tão chocados quanto eu, mas isso parecia ser normal em festas assim.

  Depois de meia hora e duas cervejas depois, eu já estava de saco cheio daquilo. Olhei para o lado em procura da Abby mas ela deve ter ido para algum quarto com um garoto. Mandei uma mensagem avisando que estava indo e sai porta afora.

   - Já está indo, princesa? - Jake perguntou com aquela voz irritante.

   - Não me chame assim. - viro para ele- E não é da sua conta. Na verdade, nada é da minha vida é da sua conta. - viro de novo e começo andar.

   - Tem certeza? - ele diz com a voz mais baixa. Tento ignorar o calafrio que passou no meu corpo e finjo que não ouvi ele. 

  Como era minha carona era a Abby, resolvi andar já que não era tão longe. A rua estava escura, iluminada só por alguns postes em cada esquina. Havia pouca movimentação e quando eu já conseguia ver minha esquina, senti alguém atrás de mim.

  Queria andar mais rápido, mas o salto não deixava. Tive medo de olhas pra trás, então tentei ignorar essa sensação de estar sendo observada. Mas ao pisar em falso, causando minha queda e consequentemente a quebra do meu salto, tive que olhar para trás. Não havia ninguém.

  Respirei fundo e levantei. Tive uma surpresa, quando no bar vazio da esquina, sai o professor novo. Ele olhou diretamente pra mim antes de vomitar na calçada. Não sei o que deu em mim, mas quando percebi estava andando em sua direção.