everything is blue

tudo é azul

Pintei ela de azul. Era a sua cor favorita.

Azul para quando estava triste, e só aquelas pílulas serviam para deixá-la bem.

Azul para quando saíamos juntas e ela usava aquele jeans cós alto que eu amava.

Azul em toda sua mão enquanto tocava no cabelo recém-pintado.

Seus sonhos – mais parecidos com pesadelos – eram cinzentos. Obscuros. Eu não me atrevia a perguntar nada. Não queria saber. Ela sabia se virar sozinha enquanto lançava aquele sorriso cheio de dentes e aqueles olhos – de um tom azul claro – me encaravam, toda cheia de esperança.

Esperança com o que, eu não sabia, mas eu sorria de volta. Porque não havia possibilidade de permanecer séria enquanto ela se aproximava de mim, murmurando "ah, Natasha".

Ela era espontânea, cheia de respostas rápidas e divertidas. Tinha aquele humor que não deixava ninguém sério por muito tempo. Mas também tinha aquela garota dentro dela, querendo sair. Uma garotinha pequena que não teve uma infância agradável ou sequer aceitável. E queria se divertir. Dançar sem música. Pular sem sair do chão. Voar, livre como um pássaro, pelo céu azul da cor do seu cabelo. Aproveitava a chuva como ninguém. Abria os braços e ficava girando.

Amava o céu. Estrelado ou não. Amava quando conseguia ver o sol por entre algumas nuvens enquanto iluminava sua face e ela levantava o rosto, satisfeita com aquela iluminação repentina.

A primeira vez que ela me beijou eu fiquei nervosa. Não esperava por aquilo. Era minha melhor amiga, nada mais. Ou tudo isso. Quase uma irmã.

Mas então tudo se encaixou. Toda minha paixão por ela. Quando eu a encarava e pensava "como ela consegue ser assim?". Assim. Tão perfeita. Tão linda. Tão minha.

Eu tinha tanto medo de ser apenas mais uma para ela.

Mas não havia como. Éramos nós duas. Não importava como.

Tínhamos uma a outra e não importava se era enquanto nos beijávamos ou enquanto saíamos por aí, lado a lado, apenas conversando.

Ter Valerie comigo era a única coisa que importava.