UMA OBSERVAÇÃO DE GREG GAINES, AUTOR DESTE LIVRO

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Não faço ideia de como escrever este livro idiota.
Será que posso simplesmente ser sincero com vocês por um segundo? Esta é a verdade literal. Quando comecei a escrever o livro, tentei iniciar com a frase "Era o melhor dos tempos, era o pior dos tempos". Eu pensei mesmo que podia começar o
livro deste jeito. Simplesmente achei que fosse uma frase clássica para o começo de um livro. Mas, então, não consegui nem imaginar como deveria continuar. Fiquei olhando para o computador durante uma hora e foi tudo o que pude fazer para não ter um megassurto. Desesperado, tentei mexer na pontuação e usar itálico, tipo:
"Era o melhor dos tempos? E era o pior dos tempos?!!"
Que diabos isso quer dizer? Por que alguém sequer pensaria em fazer isso? Ninguém pensaria, a menos que estivesse com um fungo que comesse o cérebro, o que provavelmente eu tinha.
A questão é: eu não faço ideia do que estou fazendo com este livro. E a explicação é que eu não sou escritor. Sou cineasta. Então, agora provavelmente vocês estão se perguntando o seguinte:

1. Por que este cara está escrevendo um livro, em vez de fazer um filme?
2. Será que isso tem a ver com essa história aí do fungo e do cérebro?

Resposta

1. Estou escrevendo um livro em vez de fazer um filme porque parei de fazer filmes para sempre. Para ser mais preciso, eu parei depois de fazer o Pior Filme do Mundo.
Normalmente a intenção é parar depois de fazer a melhor coisa que você pode fazer - ou, melhor ainda, depois de morrer -, mas fiz o contrário. Um breve resumo da minha carreira seria assim:

I. Muitos filmes ruins

II. Um filme medíocre

III. Alguns filmes legaizinhos

IV. Um filme decente

V. Dois ou três filmes bons

VI. Uns filmes muito bons

VII. O pior filme do mundo

Fin. Será que o filme é muito ruim? Ele matou uma pessoa, é ruim nesse nível.
Causou uma morte de verdade. Vocês vão ver.

2. Vamos dizer que, se um fungo estivesse comendo meu cérebro, isso explicaria um monte de coisas, ainda que o fungo tivesse que estar comendo meu cérebro por basicamente toda a minha vida. Mas, nessa altura, é possível que já tenha ficado entediado e ido embora, ou morrido por desnutrição ou coisa assim.

Na verdade, eu quero falar sobre outra coisa antes de começarmos com este livro sem assunto algum. Vocês já podem ter percebido que é sobre uma garota com câncer. Então há uma chance de pensarem: "Sensacional! Vai ser uma história sábia e perspicaz sobre amar, morrer e crescer. Provavelmente vai me fazer chorar literalmente o tempo todo. Já estou muito empolgado!" Se essa é uma representação fiel dos seus pensamentos, talvez vocês devessem jogar este livro na lixeira e, então, sair correndo. É o seguinte: eu não sei absolutamente nada sobre a leucemia da Rachel. Pra ser sincero, talvez eu tenha me tornado até mais idiota sobre as coisas da vida por causa dessa história toda.
Na verdade, não estou contando isso direito. Meu problema é: este livro contém zero Importantes Lições de Vida, zero Fatos sobre o Amor que Poucos Sabem, e zero Momentos em que nós Sabíamos que Tínhamos Deixado a Infância para Trás de uma vez - ou coisas assim, sentimentais e melosas. E, ao contrário da maioria dos livros nos quais uma garota tem câncer, definitivamente não há parágrafos de uma frase só, paradoxais e açucarados, que vocês deveriam achar profundos porque estão em itálico:

O câncer lhe tirara seus olhos, mas ela via o mundo com mais claridade do que nunca.

Nojento. Esqueçam isso. Pra mim, as coisas não adquiriram mais sentido porque eu conheci a Rachel antes de ela morrer. Na melhor das hipóteses, as coisas têm menos sentido. Tudo bem?

Então acho que deveríamos simplesmente começar.

(Eu acabo de perceber que vocês podem não saber o que significa "fin". É um termo de cinema. Especificamente, é a palavra francesa para "o filme acabou, o que é bom, porque provavelmente eu fiz uma tremenda confusão pra vocês, porque ele foi feito por franceses".)

O fin é pra valer desta vez.

Eu, você e a garota que vai morrerOnde histórias criam vida. Descubra agora