Capítulo 1

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É natural termos medo da morte, pois a Bíblia diz que ela é nosso enigma, aquele que nunca conseguiremos desvendar. Ninguém sabe ao certo o que acontece após à morte. Há relatos de pessoas que tiveram a experiência de quase-morte, que viram um túnel e no final dele uma luz, ou um jardim com todos os tipos de flores mais lindas. Contudo, ninguém sabe realmente o que ocorre com as pessoas além da vida, além do fim, e é aí onde mora o meu medo.

Vocês não devem estar entendendo nada, mas vou explicar. Eu sempre tive muito medo da morte - mesmo sabendo que esse é o fim de todos os seres vivos -, e esse medo só aumentou depois que perdi meu pai a exatos três meses. É algo surreal e dói todos os dias saber que não vou mais poder vê-lo, a não ser em uma fotografia, onde ele sempre permanecerá congelado. Desde então sou uma pessoa extremamente fechada, não falo com ninguém, com exceção de minha mãe, meu irmão, e de minhas duas melhores amigas, Lua e Martina - ou Tini como prefere ser chamada -, eles, dentre todas as pessoas, são as únicas que me entendem. Minha mãe vive falando que não é porque meu pai se foi que devo ir também, que onde quer que ele esteja, está bastante triste por eu estar assim, já que o que ele mais queria era que ficássemos bem mesmo após sua morte. Mas, eu simplesmente não consigo, choro quase todas as noites e agora será muito pior, já que hoje é o primeiro dia de aula do meu último ano na faculdade, artes visuais foi o que eu escolhi, e não estou com a mínima cabeça para aulas agora. Bom, deixa eu me apresentar. Meu nome é Jennifer Lawrence, tenho 20 anos e estou destruída desde que meu pai se foi, já fiz de tudo, mas a tristeza e a angustia simplesmente não me dão trégua.

Sou tirada dos meus devaneios com minha mãe gritando meu nome, dizendo que vou me atrasar para aula que começa em 1 hora. Faço minha higiene matinal, me arrumo e desço para tomar café. Ao descer as escadas dou de cara com Tini, já atacando a mesa de café da manhã que minha mãe havia preparado. Me junto a elas dando bom dia e tomo meu costumeiro café com algumas gotas de leite, talvez assim eu encontre forças para encarar todas as pessoas da faculdade, já que há três meses não saio de casa para absolutamente nada.

Chegando à faculdade vou em direção ao meu armário para pegar alguns cadernos de desenho, já Tini, vai direto para sua sala de aula, já que está atrasada. Ela está cursando música e não posso negar, minha amiga tem uma voz maravilhosa. 

No caminho em direção ao meu armário acabo trombando com alguém, o impacto é tão forte que acabo caindo no chão. Estou me preparando mentalmente para xingar essa pessoa de todas as maneiras possíveis, contudo, fico completamente parada só encarando o ser mais lindo que já vi em toda minha vida. Seu queixo quadrado lhe dar um ar sério e maduro, mas o seu cabelo castanho meio arrepiado vem para quebrar essa linha de seriedade, lhe dando um ar juvenil e despojado. Quando meus olhos pousam-se sobre os seus, eu simplesmente fico fora do ar. Eu não sei exatamente o quê ou como - talvez sejam seus olhos castanhos esverdeados tão hipnotizantes -, mas algo em meu interior se agita, fazendo meu coração bater em um ritmo acelerado enquanto minha respiração ficar descompassada. Tudo ao meu redor some, como se eu estivesse presa em uma bolha, onde nada pode me atingir. Aquilo me assustou, e assustou bastante, mas o mais estranho foi o fato de só por olhar em seus olhos, tudo o que eu sentia - e quando eu digo tudo estou me referindo a toda  angustia e tristeza que vinha sentindo nos últimos meses -, simplesmente parece não mais existir. E isso não é tudo, seu olhar, de alguma forma, também me transmite segurança, tranquilidade e paz. Isso parece loucura, eu sei, mas é algo que não sei explicar. 

Como uma pessoa pode transmitir tantas coisas com um só olhar?

Eu sinceramente não sei, mas quando saio da "bolha" momentânea ao qual seu olhar me levou, percebo que ainda estou no chão e o pior, que passei tempo demais o observando. Sua mão está estendida em minha direção para me ajudar a levantar, e assim o faço. Quando nossas peles se encontram, sinto uma corrente elétrica passar por todo meu corpo. Me ponho de pé, percebendo que o mesmo é da minha altura.

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