Capítulo - 1

326 13 0
                                    

Estava um verdadeiro "pé d 'água". Não conseguia ouvir nem as piadas dos humoristas na TV. As janelas da cozinha batiam forte e o vento frio passava sobre os fios de energia elétrica e faziam um barulho, um assovio, que penetrava na cabeça da gente.
Bred desmontou sobre o sofá, estava segurando uma long neck pela metade em uma das mãos, e a outra permanecia pendurada sobre o braço do sofá.

-Cara, como ele é grande! -Pensei.
A televisão piscou umas três vezes e apagou com tudo, ficou muda por alguns instantes e as luzes da casa toda começaram a piscar, totalmente fora de sintonia.
A televisão ligou novamente, alguns ruídos saíam, mas a tela ainda estava totalmente apagada.

-Vocês vão morrer, morrer, morrer... - sai uma voz distorcida e, ao mesmo tempo, ensurdecedora do aparelho. Fiquei apavorado olhando fixamente para a TV.
O show de humor começou a ser exibido novamente.

-Como faz para uma galinha ficar quieta? - disse o humorista.
O silêncio novamente tomou conta do lugar.

-Não tem para onde fugir, eu vejo vocês! - disse a voz misteriosa.

-Coloca ela na panela! - continuou o humorista.
Olhei para o Bred e ele estava olhando para mim, assustado.

-Você ouviu isso? -Aham, e você? -Sim! -respondi.
Ele estava pálido e com uma cara de assustado, mas a minha não devia estar diferente.
O que eu tinha de xeretar na casa do lago, devia ter ficado em casa, não deveria ter vindo aqui. Bem que "minha irmã" tentou me avisar!

-TOC, TOC. - Tinha alguém batendo. As batidas na porta eram fortes, e já estava tarde pra caramba.

-Pegue a faca perto da mesa! - falei batendo a mão no bolso, verificando se o canivete ainda estava lá. -TOC, TOC, TOC.

-Quem é? -perguntamos juntos.
As batidas continuaram, dava para ver a porta tremer à cada batida, fazendo a poeira que estava em cima do batente ser refletida pela luz.
-Segure isso! -disse Bred, me dando a faca e saindo em disparada, subindo as escadas até chegar ao andar de cima.

-Onde você esta indo? -resmunguei baixinho. Minhas mãos suavam e os pensamentos estavam todos embaraçados.
Quem será que bate na porta a uma hora dessas? Ainda mais aqui, nesse fim de mundo. Coisa boa não pode ser!

-Droga! -gritei. Agora eu vi que a coisa tá feia. Bred desce as escadas com uma pistola 9 milímetros, verifica o pente e a destrava. A arma era quase inteira cromada e refletia com a luz da casa.

-Quem está ai? -pergunta ele, apontando a arma para o centro da porta.

-Sou eu, vacilão! -era a voz do Fill.

-Que susto, cara! Peguei até a arma, - disse Bred, abrindo a porta.
O ar gelado da noite entra com tudo na casa, que chega a dar um arrepio na espinha. Fitei a porta aberta por alguns instantes.

-Não tem ninguém aqui! - exclamou o grandão. Em sintonia com suas palavras, meu celular começou a tocar dentro do bolso da calça. Olhei para o visor que mostrava: "Fill chamando".

É ele! -falei. Atendi no terceiro RING!

-Fala, biba! -falei. Notei que tinha algo estranho na ligação. O silêncio no telefone não durou muito, mas parecia ter permanecido por horas até que ele começou a falar:

-Cara, está acontecendo algo muito estranho aqui! Minha moto não quer pegar e parece que tem gente me perseguindo.

-Mas, você está onde? -perguntei depressa.

-Não sei carinha, está muito escuro aqui! -Fill foi interrompido, a bateria do meu celular acabou e a ligação caiu. A porta, perto de Bred, bateu com tudo na nossa frente.

-E aí? Ele está perdido lá fora, e a moto dele não quer pegar!

-Estranho. Já era para ele estar na casa dele faz tempo. Tem algo muito estranho acontecendo aqui!
A tempestade tinha se acalmado, somente alguns respingos de garoa permaneceram firmes abaixo das nuvens carregadas, e o frio não deu trégua.

A Garota Do LagoOnde histórias criam vida. Descubra agora