Delírios

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"Havia uma época,que haviam anjos e humanos,que só o humano mais puro e verdadeiro,poderia se dispor a ver uma das criaturas mais perfeitas,criadas por Deus."

A manhã se encontrava barulhenta,cheia de trovões e respingos de água caindo sobre o teto da pequena casa no subúrbio.Alguns odiariam morar naquele lugar,não,se culpariam por se pouparem de pensar no futuro,futuro aquele da jovem de origem oriental,de grandes cabelos cor de corvo.

Era culpa dela?Não,ela não poderia escolher seu futuro no útero de sua mãe falecida,sendo desafortunada pelo destino herdado pelo seu próprio sangue.Seus olhos cor de jaboticaba,piscavam com o cair dos pingos sobre a madeira úmida de seu modesto portão,retirado de pinheiros próximos.A pequena rã,de origem incerta pela garota,coachava com o som da chuva.Pedindo abrigo talvez?A criança não sabia ao certo.
Porém ela ficou em silêncio mais uma vez,se concentrando em apenas ouvir.Então o coração acelerou,era realmente lindo,seus ouvidos apreciavam,uma orquestra tocando a sinfonia de Chopin n1? Ela negou com a cabeça,algo mais profundo,ela se deliciou com a idéia de ser algo que atravessava o tempo.
Profundo,ela se questionava sentir sensações tão inigmáticas em sua vida,como a sua adorável orquestra de ventos folhas,ventos,madeira e até mesmo a pequena rã,dando significado a todo compasso a canção.

Plin...Plin...Plin.

Anunciava a última gota de água,mordendo seus lábios de leve,sentindo o sabor de fel em seu paladar,ela bem estava avisada,seu corpo era uma pintura esculpida a mão,tão única,formidável e delicada.Sabia que seu corpo era frágil,mas ela desejava mais!Mais que apenas uma janela dando passagem as suas sensações.
Era bel-prazer?Não obviamente,apenas desejo tendo em vista as sensações.
Sensações aquelas jamais tocadas pelo seu piano de madeira clara,de uso de sua família,Chopin poderia ter vívido estás emoções?

A criança olha ao redor,realmente,o piano era o único bem mais precioso da casa enmadeirada,música representa riqueza,ela sabia disso.
Pois bem,eram ricos os ouvidos que a poderiam apreciar.

-Esmeral-disse a velha senhora,que a adotará no último suspiro de sua mãe.-Trouxe um livro da cidade,o vendedor avisou-me algo que não me recordo bem-ela colocou a mão em seu queixo perto da pequena verruga que se encontrava perdida em seu rosto.-Não importa!

Desistiu a senhora parteira,com respingos de chuva por sua capa improvisada cinzenta caindo também sobre a porta do local esfriando o ambiente apagando o avermelhado do fogo na lareira ,de encontrar resquícios do estranho vendedor,Lúcia era sempre assim,adorava dar felicidade a mulheres,mas não prestava muito atenção nisso.Era de sua natureza a bondade e a mansidão,Esmerel reconhecia isso.
Esmerel saltou da pequena poltrona,virada a janela pela mesma.

"Encontrou música?"
Esmeral disse com apenas o olhar,brilhando como um cachorro abandonado por seus donos.Aquele era o subúrbio,pobre e mal visto,pelos moradores com condições apropriadas a uma vida confortável...
Música como havia dito,é riqueza.A cidade sabia quando a pequena tocava,era como mágica.

Até cadáveres com seus espíritos desejam voltar para ouvir apenas mais uma vez.

A cidade era próxima,mas não próxima aos sonhos de sensações da garota,nem se pensava isso por ela.
Ela não queria morar na cidade,nem ao menos fazia questão,acreditando que no "nada",ela conseguiria a riqueza feita por ela,pelo mais expressivo dedilhar de seus rosados dedos.

-Música?-a senhora com postura encurvada suspirou-É uma raridade no mercado,os cidadãos procuram mantimentos...Está em falta.-terminou a frase,já tendo noção que sua criança ansiava por música.Ou ao menos,uma nova partitura.

Uma nova chuva recomeça,ao menos ela teria uma momentânea ascensão em seus ouvidos.Sorriu,mesmo em alguns segundos atrás suspirar,pela decepção atrás.Não por Lúcia não ter trago,mas pela cidade a privar de encontrar uma nova essência.

Era gélido,a canção se modificou com alguns segundos,os olhos da menina brilham,ela começa a fazer sons com sua língua,batendo o compasso de cada gota.
Uma canção?
Ela pensou,a natureza havia a presenteado,só poderia,pois agora o gelo do inverno se mostrava com majestade.
Pequenos flocos de neves.
Uma batida sensacional,cheia de ritmo,a pequena rã saltou na janela,começando a pegar sua parte nas notas recém formadas.
Os olhos da garota se sentiam estupefados
Era lindo,magnífico,ela se sentia regendo aquela canção melódica,adormecendo em seguida de cansaço ao reger a orquestra,criada por ela.

Anjo de ÉpocaWhere stories live. Discover now