Destinos

Capítulo 1- Uma manhã diferente

O relógio marcou 7 horas e começou a tocar. Um barulho chato, mas Tiago já havia se acostumado com aquela rotina:

Despertar, fazer a higiene pessoal, fazer suas preces, vestir-se, trancar a porta de casa e passar na padaria onde tomava o melhor café do bairro, depois ia até o metrô e seguia para TreinerCorporações.

Tiago tinha 27 anos, cabelos negros com um corte que fazia-o parecer alguém muito sério, barba sempre bem-feita e olhos da cor do mar. Era alto, jogava basquete com os amigos e fazia caminhadas diárias o que lhe garantia um corpo bem definido. Seu talento para os negócios revelou-se cedo, pois geriu a fábrica da família.

Naquele dia parecia haver algo diferente no ar. Abriu e trancou a porta de cabeça baixa, estava exausto. Quando olhou para frente teve uma surpresa: não estava na sua rua. Virou-se novamente e, no lugar onde deveria estar sua casa, havia um prédio residencial de uns três andares onde as luzes se apagavam aos poucos. Percebeu que estava numa avenida pouco movimentada e havia um carro em frente a uma loja de conveniências fechada onde se recostava uma figura feminina. De acordo com o Tempo Vivo (aquele negócio que fica na rua e brilha data e hora) eram 23h17min.

Confuso Tiago Atravessou a avenida e se aproximou da mulher a fim de pedir informações quando sentiu um arrepio partindo da sua nuca e percorrendo todo corpo. Viu sair de dentro de si uma figura pouca mais baixa que ele, encapuzada e empunhando uma 38 em direção à jovem. Sentiu-se enjoado e mesmo assim tentou impedir o assaltante de aproximar-se mais da moça, mas seus esforços para mover-se foram em vão, suas pernas simplesmente não obedeciam suas ordens. Em meio à confusão o arrepio na nuca voltou e alguém tão alto quanto ele passou correndo pelo seu corpo que se esvanecia no ar.

De súbito acordou suado e ofegante, permaneceu sentado e com as mãos nos cabelos molhados por longos minutos. Quando o som do relógio o retirou de seus pensamentos. O pesadelo que tivera parecia tão real! Abriu a porta para verificar se realmente estava no mundo físico e o frio que lhe tocou a pele comprovou que sim. Fez tudo como de costume, mas seu coração a todo momento o mandava voltar para casa, pesquisar, tentar entender o que estava acontecendo. Absorto em ideias desconexas acabou andando na direção oposta ao metrô e quando deu por si estava parado em frente à Primeira Igreja Batista do Guará.

Várias pessoas chegavam para reunião e o saudavam, era conhecido de todos ali, quando o pastor o viu ficou surpreso, pois Tiago não frequentava as reuniões de oração devido ao seu trabalho.

--Como é bom vê-lo em um dia que não o domingo filho! dizendo isso aproximou-se e o abraçou.

O pastor Misael era um homem gordo com alguns cabelos grisalhos que despontavam em sua cabeça, aspecto gentil, sua sabedoria e paciência eram notórias.

_ Bom dia pastor! falou Tiago ainda um pouco desnorteado.

_ O que houve filho? Aconteceu algo de errado? Venha! Vamos ao meu gabinete.

Dizendo isso passaram por entre as pessoas e foram até a parte superior do templo onde ficavam as salas infantis e o gabinete pastoral. Sentaram-se e Tiago começou a relatar o que tinha acontecido, o seu pesadelo, e como havia chegado à igreja sem perceber. Misael não se alarmou, era um tipo de pastor diferente, acreditava que coisas sobrenaturais podem acontecer.

_ Eu preciso encontrá-la pastor?

_ Quem?

_ A moça da visão!_ Há essa altura ele já sabia que aquele não tinha sido um sonho comum, era uma revelação. E se os fatos vindouros foram mostrados para ele, ele deveria fazer algo para impedir que algo trágico acontecesse.

Misael não compartilhava da mesma ideia. Achava que se Tiago tinha visto um relance do futuro, aquilo era apenas para que ele e as pessoas próximas à jovem se conformassem com o destino dela.