Eu, a Noiva e a Loja de conveniência

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EU, A NOIVA E A LOJA DE CONVENIÊNCIA

Pov Lexa

- Odeio a minha vida! Realmente odeio! - Resmunguei, batendo a cabeça no balcão de madeira.

Sei que parece exagero, mas não é. Experimenta ficar no meu lugar! Trabalho naCHINA 24h, a loja de conveniência ligada ao posto de gasolina self service do Sr. Chang. Meu expediente vai das 08:00h às 18:00h, em troca de um salário que faria os mineradores explorados do Camboja parecerem executivos. O ambicioso Sr. Monty trabalhava todas as madrugadas desde que imigrou para os EUA, ou seja, há uns vinte anos. Durante todo esse tempo, nunca se ausentou de sua loja, porém, o Tio Patinhas chinês foi atropelado essa manhã. Sei que é feio dizer "bem feito", mas: BEM FEITO! Meu patrão estava no hospital e, como sou a única funcionária, ou se preferir, escrava branca, fiquei encarregada de substituí-lo. Mesmo trabalhando dobrado, não reclamei. Aliás, nunca reclamo. Sou sempre muito tranquila e não esquento a cabeça com quase nada. Quando acontece algo ruim comigo, paro, conto de uma até dez, respiro fundo e sigo em frente.

(...)

Levantei-me para checar se todas as sessões estavam devidamente organizadas. A loja não era grande. Três estantes dividiam o espaço central, enquanto as prateleiras nas paredes permaneciam quase intocadas. As geladeiras com bebidas alcoólicas e não alcoólicas ficavam no fim da loja, em um local bem iluminado. Tínhamos os mais diversificados tipos de produtos, no entanto, quase nenhum cliente. Eles estavam entrando para a lista de animais em extinção, pois o velhote pão duro se recusava a baixar os preços.

Entediada, fitei o relógio de parede, indo me sentar atrás do caixa. Atirei-me na cadeira giratória e joguei os pés sobre o balcão. Incrível, eram 19:30h na cidade de São Francisco, Califórnia e a CHINA 24h permanecia vazia. Nem mosca chegava perto. Por que eu continuo trabalhando nesse cemitério de salgadinhos e refrigerantes? Bem, essa é exatamente a pergunta que me faço todas as manhãs. Sabe aquele tipo de garota de 19 anos que tem tudo que sempre sonhou na vida, um futuro brilhante, simpatia e beleza invejáveis? Bem... Essa não sou eu! Nunca fui e a tendência é, talvez, nunca ser. Se te serve de consolo, sou Lexa Carey, a operadora de caixa. Só isso! E não é pouca coisa não, hein?! Até tenho meu nome bordadinho no horripilante uniforme azul e laranja. Argh! A quem estou tentando enganar? Sou uma fracassada de pai e mãe! Se procurar a palavra "fracasso" no dicionário, é provável que tenha uma foto minha ao lado.

Não estava chateada só porque ia passar a madrugada trabalhando sozinha, mas, também, pelo fato de ser 3 DE MARÇO. Até a pronúncia mental da data me causava arrepios. Para todo mundo, pode ser só mais um dia normal, no entanto, para mim, era o dia fatídico da minha maldição. Sou amaldiçoada! Não entendeu ainda? A-M-A-L-D-I-Ç-O-A-D-A! Ok...ok...Soletrar não vai explicar. Imagine que você já teve várias namoradas, sim eu sou gay, muito gay, super super gay, enfim, vocês entenderam e, inconscientemente, todos elas escolheram a mesma data pra te dar um pé na bunda: 3 DE MARÇO! Como se sentiria? Respondo pra você: amaldiçoada!

Não é exagero. Só eu sei por quantos rompimentos passei e o como foram dolorosos. O namoro estava indo às mil maravilhas, mas, ao chegar ao dia amaldiçoado, eu ouvia:

# 2005 #

Costia: "Lexa, não vai dar certo. Você é muito madura!"

# 2006 #

Luna: "Lexinha, não vai dar certo. Você é muito imatura!"

# 2007 #

Niylah:"Lexão, não vai dar certo. Você é muito... você!"

Eu, a Noiva e a Loja de convênienciaOnde histórias criam vida. Descubra agora