Cap.1

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                                  MIRANDA

   Acordo com o barulho do despertador e dois minutos depois escuto a minha mãe me chamar na cozinha. Ela não me larga. Levanto para tomar café antes que ela me chame novamente mas decido tomar um banho antes. Depois que já fiz tudo, coloquei uma calça jeans escura, e uma blusinha verde, minha cor preferida. Prendi meu cabelos negros em um coque bagunçado, não ligando muito para a minha aparência mas mesmo assim decido me olhar no espelho. Meu reflexo não me surpreende, continuo magra, morena e pequena. Continuo mesma garotinha que a 10 anos recebeu a noticia de que seu pai tinha sido morto. Por que você está pensando nisso agora?! Para! Desço as escadas correndo porque vou ficar atrasada. Me assusto um pouco ao ver que a minha roupa estava bem parecida que a da minha mãe, mas não ligo muito. Somos muito parecidas em todos os aspectos.

   Levamos 10 minutos de carro para chegar a escola, e tenho que admitir, ela é muito bonita. É bem maior do que eu imaginava e o jardim é maravilhoso. Logo de entrada, eu esbarro em uma menina e sinto uma sensação estranha, diferente, uma pontada do lado direito da minha cabeça chama a minha atenção. Ela tinha cabelos ruivos e seus olhos eram claros, mas neles estavam estampados profunda dor. Decido deixar para lá a sensação e a tristeza na menina mas elas me perseguem, deixando claro para mim que tem algo errado.

    Fui falar com o diretor antes de ir para a aula para eu receber o meu papel de horários e aulas. Ele ate que parecia ser legal, se não fosse pela cicatriz assustadora na testa acho que ele até seria bonito.

    Entro na sala e a primeira coisa, ou melhor, a primeira pessoa que vejo é o fotografo mirim. Olhando assim de perto percebo que ele é bem atraente. Tem uma pequena câmera tatuada no pulso e é levemente musculoso. Fico me perguntando se...... Para Miranda!! Você tem um namorado que te ama! Para. Apesar de tudo, decido sentar ao seu lado, é melhor eu fazer amizade com ele já que somos vizinhos.

- Oi – é a única coisa que me vem na hora.

- Oi – ele responde, mais sem criatividade que eu. Se eu o conhecesse, diria que ele ficou incomodado, e até um pouco assustado com a minha presença

- Então..... notei que você gosta de tirar fotos, e que tirou uma minha ontem e saiu correndo depois que viu a foto, como se tivesse visto uma assombração. Porque? – cuspo as palavras, e me repreendo mentalmente por ter tocado nesse assunto tão cedo, nem me apresentei ou perguntei o seu nome, mas antes que eu possa  dizer qualquer coisa para melhorar a situação, ele já esta pegando as suas coisas e levantando da cadeira.

- Hum.... desculpe mas eu preciso ir, conversamos depois. – ele da um sorriso tímido ( posso jurar que vi um piercing em sua língua ) e apressado ele sai da sala. Legal, nós teremos uma relação muito saudável ( se é que teremos ), parabéns Miranda.

   - Bom dia turma. Temos uma aluna nova. – diz o professor Godoy surpreendendo à todos e me arrancando dos meus pensamentos. Ninguém nem tinha me notado até agora e em questão de segundos, todos os olhares estavam voltados para mim. Levanto timidamente e me apresento

- Oi, é...... Meu nome é Miranda Ferraz. – Alguém taca uma bolinha de papel em mim, o professor nem percebe e foi tão rápido que nem eu vi quem foi, ótimo. A aula começa e eu mudo a minha atenção de "quem tacou a droga da bolinha em mim?" para  "quem foi o droga do rei que matou a Ana Bolena?"

                                       * * *

   Depois do que se pareceu uma eternidade, finalmente bate o sinal. Não sei por que eu estava pensando que a escola daqui seria diferente da de Orlando, acabou sendo mais chata ainda porque meus amigos e meu namorado não estão aqui.

   Saio do prédio 2 e vejo que está chovendo.... e minha mãe está me esperando no meio do pátio com cara de quem não vai descer com o guarda-chuva para me buscar só porque eu atrasei um pouquinho, e como consequência eu a atrasei também para o seu trabalho. Quando eu não achava que o meu dia poderia ficar pior, a droga do meu salto ( por que eu fui vir de salto?! ) prende em uma pequena rachadura no asfalto e se solta do sapato.

- Mais que merda!! – grito em voz alta e depois dou uma voltinha discreta para ver se alguém estava me olhando. Não, e mesmo se tivesse, eu não ligaria.

   Arranco os dois sapatos e saio correndo pela grama molhada, afundando os meus pés cada vez mais e encharcando o meu cabelo e as minhas roupas inteirinhas. Entro no carro e fecho a porta. Só tenho tempo de olhar pela janela e ver que exatamente onde eu tinha pisado na grama.... ela morreu. Vou embora deixando para traz pegadas de grama morta no meio do jardim da escola.

    - Oque você estava pensando Miranda! Como você quer que eu vá bem no meu trabalho se logo no primeiro dia e chego atrasada?! – murmuro um desculpa  mas acho que ela nem escutou por que ela continuou brigando. Em algum ponto eu parei de prestar atenção no que ela dizia , estava muito concentrada pensando no que havia acontecido no jardim. O que foi aquilo? Depois de muito pensar, acabo percebendo que estou exausta e concluo que por causa disso, eu alucinei. Mas bem lá no fundo, eu sabia que eu estava errada.  

                                                                     

As Câmeras não mentem Onde histórias criam vida. Descubra agora