Sete de março de 2015.
Levantei, tomei banho e , ainda de roupão fiquei sentada na cama me olhando no espelho. E , olha só, estou arrependida. Meu cabelo está de mal comigo. Não consigo controlá-lo. Meus cachos estão me deixando louca! Parecem ter vida própria. Que saco!
A minha boca parece nunca ter provado água. Meus lábios estão mais áridos que o deserto do Saara. Está como uma casca de laranja seca. Meu Deus, desse jeito Bruno nunca me beijará. E estes olhos?! Os pandas devem estar com inveja de mim agora.
_Maria Luísa, vai se atrasar!
_Se atrasar para quê, mãe?- gritei
_Como pra quê? Você tem que estudar. - a voz da minha mãe ia se aproximando do meu quarto.
_Mãe - eu dizia enquanto abria a porta do quarto para falar com ela.- eu não posso sair assim. Olha como eu estou.
_Como você está Malu?
_Como eu estou, mãe? COMO EU ESTOU? Eu estou péssima, horrorosa, eu não posso ir para a escola assim.
_Mas, espinha é coisa de adolescente, minha filha! É super normal.
_COMO ASSIM ESPINHA, MÃE? -rapidamente me direcionei para o espelho a fim de procurar a espinha citada por ela. Eu havia ficado horas admirando o inadmirável e não encontrei uma espinha sequer e, agora, além de tudo, poderei ler em Braille no meu rosto.
_Ah, filha, se apronte logo, esquece isso.
_Meu Deus, eu não acredito, é o fim mesmo, uma espinha, mãe! Uma espinha!! Essa espinha é o fim.
_Malu, deixa de drama e se arrume para a escola.
_Mas eu não vou sair assim de jeito nenhum!
_Mas é claro que você vai. Até onde eu sei, eu ainda te sustento e você ainda mora aqui. Anda, se arruma.
_Mãe, não faça isso comigo. - implorei, mesmo sabendo que não mudaria nada.
_Anda logo. Vou te dar trinta minutos. Se arrume e tome seu café. Estarei te esperando no carro.
Como eu esperava, nada mudou.
Eu tinha trinta minutos para resolver o que não consegui resolver durante as duas horas em que já estava acordada. Impossível. E isso significa que eu serei o centro das atenções na Escola.
Perdi cinco minutos me encarando no espelho. A essa altura, não dava mais para me admirar. Só encarar mesmo. E com aquela cara que você faz quando não vai com a cara de alguém. Eu não estava "indo" com a minha cara. Mas, nada ia mudar. Eu já sabia. Então, já atrasada, vesti meu uniforme e calcei meu all star vermelho.
_Anda, filha! Você está atrasada. - minha mãe dizia do carro, enquanto eu carregava lentamente minha mochila apenas pelas mãos, como se houvesse toneladas dentro dela.
_Estou indo. - disse desanimada.
_Não está, Malu. Desse jeito parece que não quer ir à escola.
Será que minha mãe estava falando sério? Era óbvio que eu não queria ir à escola. Nenhuma garota de dezesseis anos iria querer ir a escola cultivando uma espinha na testa, com o cabelo como o do professor Dumbledore e com a área dos olhos mais escura que a do Urso Panda. Isso porque não falei das unhas ou dos lábios ressecados. Minha mãe só podia estar brincando.
_Estou indo!
_Melhora essa cara, Maria Luísa. Não tem nada demais numa espinha. Logo passa, todo adolescente tem. Agora fecha essa porta e vamos logo, estamos quase atrasadas.
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A Crise dos 16 Anos
Teen FictionPra começar eu não sou problemática. Não sou bipolar, temperamental, nem nada disso. Quer dizer, mamãe sempre diz que sim, meu pai às vezes, minha melhor amiga diz todos os dias e, bom, o que importa é o que eu acho. Não é mesmo? E eu acho que eles...