Era uma vez,ha muito tempo atrás

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Mas agora sei que não haverá uma 'grande vida' para mim. [...] Pelo menos, quando estava na aldeia, eu podia imaginar algo no horizonte. Aqui na cidade, a sensação que tenho é que os sonhos que antes cresciam na minha imaginação agora não são mais do que um carocinho seco chacoalhando, e a única coisa que consigo ver é o rastro de migalhas das obrigações me conduzindo de um dia ao outro." (PASULKA, 2009, p.97)

"Era uma vez, há muito tempo atrás...", primeiro romance de Brigid Pasulka, caiu na minha mão, por sorte - literalmente, visto que ganhei em um sorteio - e que se não fosse por isso jamais teria chamado a minha atenção. Diga-se de passagem que não me despertou interesse nem nessa ocasião quando vário blogs se uniram para sortear vários livros, sendo que os primeiros sorteados escolhiam seus prêmios. "Era uma vez, há muito tempo atrás..." foi o último livro, aquele que ninguém quis, e veio para mim. E que agradável surpresa eu tive.

O livro intercala duas histórias ambientadas na Polônia. A primeira, às vésperas da II Guerra Mundial, narra o romance e as dificuldades enfrentadas por Pombo e Anielica, dois jovens de Meia-Aldeia. Ela, a menina mais bonita da região. Ele, o rapaz sério, dedicado e digno de confiança. A segunda história, cinquenta anos depois, foca na jovem Baba Yaga que após a morte de sua avó deixa a Meia-Aldeia e vai morar com Irena, uma prima de sua mãe, e Magda, a filha dela.

A autora conta as duas histórias paralelamente, usando a voz de Baba Yaga para contar sua própria, enquanto opta pela narrativa em terceira pessoa para a história de Pombo e Anielica. Ambas histórias são igualmente interessantes. Enquanto o jovem casal vive um romance terno e até inocente, enfrentando as dificuldades dos tempos de guerra, Baba Yaga leva uma vida sem grandes emoções e tenta descobrir quem é e quais são os seus sonhos, ao mesmo tempo em que se aproxima de Irena e Magda. Em momento algum eu pude dizer que gostava mais de uma história do que da outra, principalmente porque depois de entender o elo que as une elas passaram a ser uma só. Ambas são cativantes, bonitas e emocionantes.

Todos os personagens soam verossímeis e acredito que seja justamente nisso que reside o encanto da história. É fácil se deixar envolver por eles e por seus desejos, dilemas e frustrações. A amizade que surge aos poucos entre Baba Yaga e Magda foi uma das minhas partes preferidas. Justamente por se tratar de personagens tão reais, em nenhum momento é possível descobrir como a história irá terminar. O que quero dizer é que se em um romance policial sabemos que o fim da história é a revelação do criminoso ou em um romance "romântico" é o desfecho da história de amor, em "Era uma vez, há muito tempo atrás..." a sensação que se tem é que estamos acompanhando apenas um período da vida desses personagens. Não sabemos se Pombo e Anielica tiveram um "final feliz", como foram as suas vidas e temos ainda menos ideia do que acontecerá com Baba Yaga, pois ela vai vivendo a vida como a vida vai surgindo. Seus romances, seus objetivos, sua rotina, mudam de tempos em tempos pelos mais diversos motivos. Exatamente como com todos nós. Provavelmente tenha sido por isso que, quando terminei de ler tive a sensação que a história não acabava ali, mesmo eu tendo virado a última página. E estou dizendo isso como um elogio - não como um daqueles casos, com os quais infelizmente já me deparei algumas vezes, em que parece que o autor ficou com preguiça de continuar escrevendo e terminou o livro como deu - porque os personagens me pareceram tão reais que, para mim, a história deles não acabou ali na última linha do último parágrafo e teria uma continuidade que eu não sou capaz de prever. Suas histórias acabaram apenas para mim, mas não para eles.

Um elemento interessante da narrativa da autora é o uso de palavras em polonês. A princípio elas me eram incompreensíveis, mas no decorrer da leitura fui me acostumando com algumas e deduzindo o seu significado, o que deu ao livro certo charme.

"Era uma vez, há muito tempo atrás..." soa, como o nome sugere, como um conto de fadas, onde apesar das dificuldades e das tristezas, o amor e a esperança prevalecem. Como eu disse no início, foi uma agradável surpresa. Quem bom que quando o sorteio aconteceu, eu não tive a chance de escolher o meu prêmio, porque, confesso, provavelmente não teria escolhido o livro de Brigid Pasulka e isso teria sido um erro.
Espero que gostem amores

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⏰ Última atualização: May 16, 2016 ⏰

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