CAP 2

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Lily:
- Você tem certeza de que é isso que você quer ? - Mariela arregalou os olhos.

- Sim. - Comprimi os lábios.

- Mas minha linda! Você pode voltar após a gravidez! - Insistiu.

- Não, Mariela! Eu quero parar por tempo indeterminado! - Falei decidida.

- Mas você sabe muito bem, que esta não era a vontade do Ettore! Se ele estivesse aqui, não permitiria que você desistisse do seu sonho dessa forma, Lily! - Arfou.

- Me desculpa,Mariela. Mas desta vez, ao menos uma vez na vida, eu quero seguir a minha própria vontade. - Fiz uma pausa. - Estou sem forças para dançar, e eu não irei dançar! Se por um acaso um dia eu sentir vontade de voltar á dançar, eu voltarei. - Falei pesadamente.

- Tudo bem minha linda. Se quer assim, eu irei cancelar a sua matrícula. - Respirou fundo.

- Obrigada por tudo. - Nos abraçamos.

- Mas pensa com carinho tá? Você vai fazer muita falta para mim,e para a companhia. Ah, e por favor não nos abandone! E quando  esse bebê lindo nascer, eu faço questão de conhecê - lo,hein?! - Riu.

- Lógico! - A abracei novamente.

Cancelei a minha matrícula, e saí daquela escola de dança de cabeça erguida.
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Fui ao médico,fiz uns exames, e ele me disse que eu estava entrando para o quarto mês de gravidez, e estava tudo bem com o meu bebê. Após, fui para casa.

Chegando lá...

Ouvi um barulho muito alto, e entrei. Haviam alguns homens dentro de casa montando móveis.

Sem saber do que se tratava,
fiquei desnorteada,mas não falei nada.

- Lily! É um menino! - Sam disse com uma alegria sem fim.

- Ah, sério? Que bom. - Forcei um sorriso.

- Eu ia esperar para saber o sexo só depois que nascesse, mas o seu pai não aguentou esperar! - Riu. - Ele está muito feliz por papai novamente! - Disse animada.

- É,eu sei. - Comprimi os lábios. - Vou tomar uma ducha, e deitar um pouco. Por favor não incomodar. - Pedi, e subi para o meu quarto.

Tomei um banho, vesti um vestido leve, e fiquei deitada em minha cama pensando na vida.

- O que eu estou fazendo aqui? - Me perguntei.

Esta casa é da Sam e do meu pai, eles são um casal, estão esperando um bebê, tudo gira em torno deste bebê, e o que eu estou fazendo aqui realmente? Este não é o meu lugar. Pensei.

- Preciso tomar uma atitude em minha vida! - Falei sozinha.

De imediato troquei de roupas, peguei a minha bolsa, e fui até a escola para "negociar" a minha situação,na intenção de voltar á estudar.

Depois, saí á procura de trabalho.
Aliás, eu não poderia me confiar no meu pai a vida inteira. Precisava de uma estabilidade.

Grávida, e sem ter exatamente nada para o meu filho além de alguns poucos pacotes de fraldas descartáveis, eu não poderia me deixar afundar, e levar o fruto do meu amor por Ettore junto.


Lily:
Acordei cedo, e li mais duas cartas que Ettore havia me deixado: Primeiro natal sem mim, e primeiro ano novo sem mim, eram os títulos delas.

Era como se em cada linha que ele me escreveu, ele soubesse como eu estaria me sentindo naquele dito momento.

Etto se foi em outubro,e com apenas três meses após a sua partida, eu tentava seguir em frente mesmo levando comigo, uma vontade imensa de viver trancafiada em meu quarto sem ter contato com exatamente, ninguém.

Levantei da cama, tomei um banho, troquei de roupas, desci para tomar café, e depois fui para a escola.

Voltar para a escola agora no terceiro ano do ensino médio, de certo era uma grande vitória, já que eu tinha tudo para ter ficado reprovada e repetir o segundo ano, por conta das minhas faltas enquanto Ettore estava em tratamento.

A aula foi tranquila,e eu fui bem recebida por todos.

Os meus amigos do ano anterior até tentaram "puxar" assunto, mas eu preferi ficar neutra, e não me envolvi logo de cara.

Ao meio dia voltei para casa, e chegando lá.. Haviam balões, flores, bolo, meu pai, Sam, Catarina, e Eliéser cantando os parabéns para mim.

Dei um sorriso sem graça, e fiquei sem ação.

- Pensou que a gente ia esquecer?Feliz aniversário meu amor! - Papai me abraçou.

- Meu aniversário! - Arregalei os olhos.

Meu pai não esqueceu, mas eu esqueci! Na verdade, depois de tudo o que havia acontecido, datas especiais iam, e vinham, mas para mim todos os dias eram exatamente iguais.

Após a pequena festa surpresa que fizeram em comemoração aos meus dezessete anos, Cat e Eliéser foram embora, e eu me tranquei em meu quarto como de costume.

Fiquei deitada olhando para o teto, até perceber que alguém estava me ligando via webcam.

Peguei o notebook que estava em cima da penteadeira, e atendi.

Quando vi a imagem de minha mãe sorrindo na câmera, também sorri.

- Oi! - Ela disse.

- Oi mãe. - Respondi emocionada.

- Filha.. Eu tive alta da clínica hoje. Estou curada meu amor! - Ela disse sorrindo, e chorando ao mesmo tempo.

- Que maravilha,mamãe! - Chorei.

- Agora já podemos ficar juntas novamente, minha princesa! - Sorriu.

- Queria te abraçar.. Está tão difícil mãe.. - Desabei em lágrimas.

- Hey! O que houve? Hoje é o seu aniversário filha! É um dia de comemorações,e não de lágrimas! - Disse com certa preocupação no olhar.

- Tudo bem. - Enxuguei as lágrimas.

- Fica calma. Mamãe está indo te ver. - Soltou um beijinho.

- Quê? É sério isso? - Arregalei os olhos.

- Seríssimo! Daqui a alguns dias,estarei aí com você,e você vai poder me dizer o por quê de tanta angústia, e sofrimento. - Falou.

- Como sabe? - Baixei a cabeça.

- Eu te conheço, Lilith. - Respondeu.

Nos despedimos, e em seguida eu desci as escadas correndo.

- Pai, pai! - Eu gritava.

- O que houve, Lily? Algum problema com o bebê? - Ele correu ao meu encontro, assustado.

- A mamãe saiu da clínica, e está vindo pra cá nos ver! - O abracei forte.

- Que notícia boa,filha! - Ele sorriu, e beijou a minha testa.

- Eu estou tão feliz.. Este foi o melhor presente de aniversário que eu poderia ganhar! Meus pais juntos novamente..  - Falei por impulso.

Quando dei por mim, Sam estava nos olhando.
Lágrimas percorriam o rosto dela.

- Sam! - Meu pai disse.

Ela abriu a porta,e saiu correndo.

Ele foi atrás dela.

Ouvi um barulho estranho seguido de um grito, olhei pelo vidro da janela, e levei as minhas mãos até a boca de imediato.

Lily:

Corri para a rua.

Sam estava jogada no chão,e havia muito sangue.

Entrei em total desespero.

- Sam! Fala comigo! - Eu gritava.

- Não mexa com ela! - Meu pai me puxou pelo braço de forma brusca.

Me afastei.

O socorro chegou, papai entrou na ambulância, e Sam foi levada para o hospital.

Fiquei no meio da rua desolada sem saber como agir, e me sentindo a culpada por tudo aquilo ter acontecido.

Sentei - me na grama e lá fiquei,completamente sem rumo.
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- Lily! - Uma voz masculina falou.

Olhei de soslaio.

- Oi. - Arfei.

- Aconteceu alguma coisa? - Perguntou.

- A minha madrasta foi atropelada, e eu não sei o que pode acontecer com ela, ou com o bebê. - Respondi cabisbaixa.

- Se quiser te levo até o hospital. - Propôs. - Se isso te deixar mais calma, claro! - Coçou a cabeça. - Não quero que nada de ruim aconteça com o meu sobrinho. - Forçou  um sorriso.

Fiquei em silêncio.

- Eu estou de carro! - Completou.

- Eu não suportaria perder a Sam e o meu irmão. - Chorei.

- Não vai acontecer nada com ela e o bebê! Confie em Deus. Ele sabe o que faz. Vem, levanta! - Estendeu a mão para mim.

Entrei no carro de Eliéser, e fomos para o hospital.

- Aliás, o que você estava fazendo na minha rua novamente? Você havia acabado de sair de lá com a Cat! - Questionei.

- Eu estava correndo, e me exercitando. - Respondeu sério estacionando o carro. - Eu não sabia que aquela rua era sua. - Ironizou.

Revirei os olhos.

- Sem brincadeiras sem graça, por favor! - Bufei.

Ele parou o carro, eu abri a porta, e agradeci pela carona.

- Não, espera! Eu vou com você! - Falou.

- Por quê? - Franzi o cenho.

- Preciso garantir a sua segurança, e a segurança do meu sobrinho que está aí! - Apontou para a minha barriga.

- Vamos. - Falei sem emoção.
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Entrei naquele hospital quase correndo acompanhada por Eliéser, e procurei pelo meu pai por todos os corredores possíveis, até achá-lo.

- Como ela está? - Perguntei ofegante.

- O bebê nasceu,e está na encubadora lutando pela vida. - Papai respondeu de cabeça baixa.

- E a Sam? - Perguntei com um aperto enorme no coração.

- Ela está bem. Teve apenas alguns ferimentos superficiais pelo corpo,e está no quarto em recuperação. - Fez uma pausa. - Mas o seu irmão.. - Chorou. - O seu irmão corre grande risco. - Completou.

O abracei forte.

- Me sinto tão culpada, papai! - Desabei em lágrimas.

- Você não teve culpa de nada, meu anjo. - Beijou a minha testa. - A Sam sempre teve um ciúmes doentio de mim com a sua mãe, e sempre tratou Olívia como o fantasma que rodeava a nossa relação. - Falou.

- Ué, mas você está com ela! Vocês tiveram um filho juntos, vocês irão casar um dia! - Exclamei.

- A Sam não acredita em nada disso. - Meu pai baixou a cabeça, pensativo.

- Posso ir no quarto falar com ela? - Perguntei.

- Se ela quiser lhe receber, pode! - Arfou. - A Samantha não quer mais me ver filha! - Pôs as mãos sobre o rosto visivelmente desesperado.
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Entrei no quarto em silêncio.

Ela estava olhando fixamente para um lugar específico.
Seu olhar pareciam perdido.

- Oi? - Sorri levemente.

- O que você quer? Está satisfeita por quase ter matado á mim, e ao seu irmão? - Me olhou com raiva.

- Sam, esta não era a minha intenção,eu juro! Eu jamais faria mal para você, nem muito menos para o bebê! - Tentei  explicar. - Só falei que a mamãe está vindo para o Brasil me ver! Só isso! - Fiz uma pausa. - Eu amo muito você, e o meu irmãozinho,e jamais falaria ou faria algo para  prejudicar vocês dois. - Segurei a mão dela com firmeza.

- Você é muito fingida mesmo, hein garota? Pra falar a verdade,eu nunca acreditei em nenhuma palavra que saía da tua boca! - Torceu a cara.

- Mas, Sam! Tudo que passamos juntas não foi fingimento não! Eu te considero te verdade! Você é como uma segunda mãe para mim! - Chorei.

- Você tentou me matar! E se tem uma coisa que eu quero de você, é distância! Fica longe de mim, e do meu filho! - Disse entre dentes.

- Mas, Sam.. Eu não fiz nada! - Chorei ainda mais.

- Vai dizer que não prefere o seu pai com a sua mãe? Estaria mentindo se dissesse que preferia ele comigo, não estaria?- Cruzou os braços.

Fiquei em silêncio, aos prantos.

- Para a sua felicidade, se  preciso for,eu abro mão do amor do Olavo,pela segurança do meu filho! Por favor, não faça nada com o meu filho! - Me implorou.

- Sam, pára com isso! Você não está nada bem. - Respirei fundo. - Me desculpa? - Tentei abraçá-la.

Ela fez um escândalo dizendo que eu estava a atacando, e os seguranças me tiraram do quarto como se eu fosse uma criminosa, ou algo parecido.

Retalhos (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora