Minha primeira Júlia

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Pra mim todas as Júlia lembram uma velhinha carismática. Porque a minha primeira Júlia era assim. Risonha, atrativa. Daquelas pessoas que você conhece e não consegue esquecer. Eu a conheci na igreja. Quando eu cheguei já vi aquela senhorinha, simples mas radiante. Ela me cativou à primeira vista. Ela sorriu pra mim e eu sorri tbm.
Eu tinha uns 8 anos. Sempre procurava ela quando chegava na igreja. É tão bom gente que nos cativa assim. Um dia ela estava vindo do centro da cidade com várias sacolas. E minha mãe e eu também, então eu ajudei ela com as sacolas. Minha mãe disse que ela era avó da minha prima, e foram conversando. Ela morava 5 ruas antes da minha, e eu fui com ela até em casa. Ela morava num primeiro andar. E eu subi com ela pensando no quanto ela parecia frágil.
Conversamos bastante, sempre gostei das pessoas mais velhas. Elas têm cada história pra contar. Ela me lembrava minha avó, só que mais comportada ( sem palavrões, kkkkk). Acho que ela foi uma das pessoas que me incentivaram na leitura. Eu lia pra ela quando chegava da escola. Estudava pela manhã e antes de ir pra casa passava lá. A gente passava as tardes cantando, conversando ou lendo. E quando ela cozinhava eu ficava fascinada.
Ela me fez entender quando meus pais se separaram. Ela me ensinou a cozinhar. Ela me falou que se eu estudasse, um dia eu não dependeria de ninguém. E disse que isso seria uma das melhores coisas. Dizia: Casar é maravilhoso, mas ser dependente de marido não é. Ela era uma das poucas pessoas que me impediram de fazer besteira e bem sabem.
Minha primeira Júlia era doce, amável e eu era criança queria repartir ela com todo mundo. Dizendo o quanto ela era maravilhosa. Falava tanto dela, parecia até que era uma religião e eu uma missionária. Tinha que falar da Júlia pra todos os povos, línguas e nações. Passamos muito tempos compartilhando nossa história. A minha ainda nos primeiros capítulos e a dela nos capítulos finais. Amava ela, sabe? Era o mais perto de melhor amiga que tive na vida e acabo de me tocar disso.
Ah, Júlia, que falta me faz. Lembro como hoje quando me falou que iria morar em outra cidade, e que apareceria pra visitar, mas não voltou nunca. E eu entendi, foi a única pessoa que me fez essa promessa e não cumpriu que eu entendi. De uma forma eu já sabia, eu não teria muita participação no seu gran finale.
Mas foi linda a existência dela. Perfeita ao seu modo e inesquecível. Nunca haverá uma Júlia igual. Mas ela está viva em mim, em algumas coisas que faço, falo, escuto, vejo. E quando vou à igreja as vezes me pego olhando pro cantinho onde a Júlia sentava.
Por mais pessoas parecidas a ela, iguais seria impossível.

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