O Fumador de Ilusões

O Inevitável

  04:00 da manhã,

 não consigo dormir, na verdade já não me lembro da última vez que dormi, quando tenho apagões sinto o arrepio gelado dos meus pesadelos.  Esse frio mantém-me acordado se bem que há uma parte de mim que desesperadamente quer dormir. Observo pela janela do meu quarto, a rua cheia de lixo do meu bairro, alguns carros passam mas tudo está calmo. Levanto-me encho o meu cachimbo, daqui a umas horas tenho teste de português, estou completamente fudido por dois motivos.Não estudei e não os quero ver...nem a ele nem a ela, sei que ambos vão estar presentes, é inevitável.Desde que as nossas vidas se cruzaram, não sei como explicar por palavras a energia, a vibração que nos fez inventar a palavra inevitável.Não consigo olhar para eles, nem para mim próprio, sento-me na minha cadeira pego nas minhas cábulas começo a preparar as cenas.Vai sair o pedrado de certeza decoro um poema dele, talvez tenha mais sorte na composição: 

"Não durmo, nem espero dormir. 

 Nem na morte espero dormir, 

Espera-me uma insónia da largura dos astros,

 E um bocejo inútil do comprimento do mundo."

 Lavo os dentes, tenho as pupilas dilatadas o cabelo tá estiloso, uso uma camisola para tapar os cortes nos braços. Ás sete já estou no portão da escola, vendo uns picas aos habituais, trouxe uns drunfos para os finórios delirarem, com este dinheiro vou comprar um bilhete para bem longe daqui.Ás 8h00 estou na minha, num lugar isolado, não quero entrar antes deles, quando a campainha toca e já estão todos sentados eu bato à parto.Chego sempre atrasado para sentir que controlo o tempo, eles não olham para mim, fingem que estão concentrados na folha de teste.Ás vezes pergunto-me de quem é que gosto mais, dele ou dela? Será errado amar os dois? São irmãos gémeos falsos, o olhar dela é doce o olhar dele consome-me. Não sei contar como é que chegámos aqui, é uma pena termos chegado ao inevitável, quem me dera continuar naquele eterno andar