Capítulo 1- A chama do Desespero.

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   Mal podia-se ver a luz do Sol com tamanha escuridão cobrindo os céus. Uma tempestade se aproximava, dava até para ver diversos raios à distância, como se os seres controladores do clima quisessem apagar o fogo do dragão, sem muito sucesso. Sasah estava sentada no chão, com os olhos vermelhos e inchados, assim como a ponta de seu nariz, resultado de horas de choro que de nada adiantaram. Um pingo solitário cai sobre seu rosto pálido e ela dirige seu olhar para cima, sendo atingida por mais outros, junto de um vento frio.
   Não movera um músculo sequer, só recebia aquilo como um castigo por deixar Gustave para trás. Parara de comer e beber, só às vezes e bem pouco, apesar dos esforços de Alire e de Jackson, ninguém conseguia fazer com que a culpa saísse de seus ombros e o sentimento de pura justiça se acumulava mais e mais.
   A chuva fina caia como um manto na ruiva, que apenas continuou observando o vento em seus cabelos, com sua mente em um turbilhão de pensamentos. Todos do dirigível corriam para se proteger e guardar os objetos ali, enquanto uma certa elfa de olhos negros se aproximava lentamente, com uma capa cobrindo seus cabelos compridos e escuros.
-Sasah. -ela a cumprimenta.
-Alire.
-Não compreendo o porquê de estar aqui em meio ao frio, sendo que possuímos cobertores lá dentro... -a morena se senta no chão.
-Porque eu quero estar aqui, gosto de sentir a chuva.
-A culpa não é sua. E sim minha..
-O que? -a ruiva pergunta sem entender.
-Eu devia saber que eles estariam armados, devia ter me preparado mais, ter contatado a Ordem..
   -Alire! -a outra a segura pelos ombros e balança-a de leve. -Pare de se culpar! A culpa não é sua e sim minha!
   -A culpa não é de nenhuma das duas. -o professor aparece e as interrompe. -Parem de colocar a culpa dos acontecimentos recentes em seus ombros, a culpa é inteiramente da General, que com toda sua maleficência e crueldade, que todos mortos.
   As duas se olharam e abaixaram as cabeças, concordando com o que o sábio velho dissera, apesar de o peso da culpa não sair. O vento ricocheteava contra o dirigível e em cada indivíduo ali presente, causando arrepios.
    Sasah se levanta com ajuda de Alire e os três vão para a frente do navio, ainda sentindo a chuva em suas pesadas capas e podiam ver, ao longe, uma cidade em volta de árvores grandes, onde o Sol não transmitia um raio sequer de luz. A chuva era constante e o chão, junto das casas simples e até grandes, estavam encharcados. O céu nublado era iluminado pelos raios, que preenchiam toda sua imensidão, um pouco mais ao longe, havia uma fortaleza de pedra e musgo que possuía cortinas cor de vinho e azuis, que apenas podiam ser vistas pelos grandes vitrais ali presentes.
   -Senhorita Sasah, seja bem vinda à Antiga Cidadela de Ragneds, também antiga capital do Reino de Embar. -a morena diz, colocando os braços nas costas.
-É incrível! Como... A General ainda não atacou?
-Simplesmente a cobrimos com um feitiço de camuflagem. Simples porém eficaz.
   -Nós vamos pousar logo, melhor entrarem e prepararem suas coisas. -um homem apareceu de dentro da cabine principal e fora embora logo em seguida.
   Todos se retiraram para o interior do dirigível, sentindo-o se movimentar para baixo, segurando-se nos móveis simples dali. Quando finalmente aterrissou, as pessoas cambalearam para frente, pelo visto o piloto não era muito experiente em pousos perfeitos.
   Alire desceu primeiro, junto do professor Jackson, deixando a ruiva sozinha em uma sala perto da saída. Um homem bem baixo, mais parecido com um anão, com uma barba curta loira escura com alguns fios brancos e os cabelos da mesma cor, com alguns cachos mal definidos.
   -Senhorita Sasah?
   -Sou eu... -a outra respondeu meio receosa.
   -Me acompanhe por favor, todos estão lhe esperando. -ele sai da pequena sala, sendo seguido à distância por ela.
   Os dois pararam em frente à uma porta de ferro, onde dois guardas aguardavam ordens.
   -Me perdoe, mas não me disse teu nome. -a mais alta diz, encolhendo de leve.
   -Meu nome é Gamling. Agora... Preparada para uma seção de horrores com eles?
   -C-como? -ela deu uma gaguejada, meio assustada e confusa.
   -Não! -o anão ri. -Sessão de horrores que digo é ter de conhecer todos os importantes daqui.
   -Ah sim... Acho que estou pronta.
   -Ótimo. Podemos ir então. -ele afirma positivamente para os guardas, que abriram a grande porta, deixando o vento forte entrasse, fazendo-os estremecer de leve.
   Gamling e a ruiva foram caminhando lentamente para fora, sentindo a chuva forte os atingir novamente, colocando os capuzes e se enrolando nas capas. Algumas pessoas esperavam, além de Alire e Jackson, mais 2 pessoas estavam ali, um homem alto, com cabelo loiro acinzentado bem cacheado, com sardas, que aparentava ter 25 anos, as vestes esverdeadas e os olhos bem castanhos.
   Já a outra pessoa não dava pare se identificar suas características, pois estava extremamente coberta pelo capuz e capa marrom.
   -Bem... Senhorita Sasah. É um prazer em finalmente conhecer nossa heroína. -a pessoa de capa marrom falou alto. -Meu nome é Jeanin, líder dos artesãos.
   -Eu sou Edrik, o embaixador, diplomata. Eu impeço que eles se matem. -ele ri e aponta para Gamling e Jeanin.
   -Eu sou o líder dos mineradores, mas não ligo muito pra isso. -o anão diz rabugento.
   -Existem 5 líderes, 4 deles estão aqui. Eu sou a comandante dos caçadores rebeldes, minha função é basicamente proteger tudo. -Alire diz sorrindo de leve.
   -Se são 5, onde está o quinto? -a ruiva pergunta em dúvida.
   -Ah... Ela... -a morena tentou pensar em algo para dizer, sem muito sucesso. -Eu juro que vou matar a Avery quando a ver.
   -Quem é Avery?
   -Só uma outra líder. -Edrik diz meio desconfortável. -Vamos entrar logo? Antes que alguém nos veja...
   Todos entraram por fim, retirando os casacos e capas. Jeanin revelou seus cabelos castanhos dourados, raspados na lateral e seus estranhos olhos cor violeta, o rosto fino e magro. Os presentes ali podiam jurar ouvir um suspiro inquieto do anão, seguido de risadas baixas de Alire e Edrik.
   Foram andando por um corredor repleto de armaduras antigas, paredes com um tecido macio e cor de vinho. No chão de madeira escura dava para se ouvir o barulho do saltos de Jeanin e as botas pesadas de Gamling, junto dos passos leves de Alire e Sasah, que eram acompanhadas de Jackson e Edrik.
Chegaram à uma sala grande, com algumas escadas e vitrais coloridos, um trono simples se erguia ali, cortinas azuis e prateadas cobriam as janelas enormes. Pararam em frente ao trono, fazendo uma pequena roda, com a ruiva em frente ao móvel de madeira.
-Bem... Avery é a líder dos Assassinos. Eles formam a Ordem, que protege o povo indiretamente. -diz Jeanin.
-Por que indiretamente? -Jackson pergunta ajeitando seus óculos e barba.
-Pois ninguém pediu para que eles fizessem isso, apenas fazem.
-Agora, Sasah, devemos lhe falar. Quero que preste total atenção. -a ruiva se virou para ouvir Alire. -Você é a escolhida, o Livro da Sangria te escolheu, você está destinada à nos salvar do fogo do dragão! Compreende isso?
-Compreendo perfeitamente.
-Precisamos que você nos comande, nos guie nesta Inquisição, para que finalmente possamos ser livres! Seja nossa Inquisidora, seja nossa guia, nossa líder! -Gamling diz.
-Por favor, aceite este pedido singelo e desesperado de um povo que sofre à tempo demais! -Edrik profere com sua voz calma.
-Sem você jamais poderemos vencer a General Sáfira! Jamais teremos justiça! Jamais poderemos ser livres como todos sonhamos! -Jeanin fala com algumas lágrimas escorrendo dos olhos, borrando um pouco de sua maquiagem.
-Aceite! Podemos resgatar Gustave, teremos justiça pelas pessoas que foram mortas injustamente e sem motivo algum. -o professor lhe diz, segurando em seu ombro de maneira encorajadora.
Sasah respira fundo. Tudo o que mais queria era Gustave de volta e justiça para seu povo, que já sofrera por tempo demais. Fechou os olhos, colocando a mão sobre a pequena bolsa de couro na qual o Livro estava guardado e teve a visão de seu precioso mundo se fracassasse. Chamas e cinzas no céu, milhares de mortos e os que ainda restavam, eram terrivelmente maltratados em uma era de escravidão e tortura. Um dragão se erguia sobre uma pilha de corpos, com Sáfira montada nele.
Ela abre os olhos, que brilhavam em determinação, duas lágrimas escorrem pelo seu rosto repleto de sardas e caem em seu vestido bege amarelado. Já tomara sua decisão.
-Eu aceito ser a Inquisidora.

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⏰ Última atualização: Oct 25, 2016 ⏰

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As Crônicas de Embar, Livro 2. - A Inquisição Onde histórias criam vida. Descubra agora