Capítulo 1: O metrô

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-Eu estou bem... Eu só não estou feliz. Sinto dores no meu corpo, sindo dores na alma, eu coloco o meu rosto contra a travesseiro para abafar o choro todas as noites, meus pulsos doem, parece que estão presos numa espécie de corrente emocional. Minhas mãos pesam, meu corpo todo pesa, eu não aguento manter as aparências, eu não estou feliz! Estou enganado a mim mesma, e mais uma vez tendo que chorar em silêncio. - Eu dizia à minha psicóloga, depois dela perguntar pela terceira vez aquela semana como eu estava.

-E como você se sente com isso?- Perguntava a Dr. Samanta, minha psicóloga, desde quando as minhas crises começaram.

-Como acha que eu posso me sentir? Estou destruída por dentro e quem me vê percebe isso. Eu me sinto tão cansada, estou tão cansada...- Eu cai no choro novamente, era o que eu mais fazia, depois que terminei o meu namoro com a Lúcia.- Me desculpe, ultimamente tenho chorado por qualquer coisa- Disse.

-Não é por qualquer coisa, Amanda. Você sofre com ansiedade e depressão, e acabou de terminar seu namoro, é compreensível que você esteja assim. -Disse a Dr. Samanta, ela me olhava com um olhar de pena, isso fazia eu me sentir pior. - Vou recomenda alguns calmantes para você dormir, na próxima sessão falaremos mais, agora você precisa descansar.

Levantei daquela maldita poltrona e fui embora, à última coisa que eu queria era ter que tomar remédio para me sentir bem, iria virar um zombie vivo, sem emoções... talvez não fosse tão ruim, só por enquanto talvez...
Desci as escadas para pegar o metrô. Enquanto eu esperava, um cara ao meu lado me perguntou se eu estava bem. Ótimo, mais um para me lembrar do lixo ambulante que eu me tornei.

-Estou bem, é só uma gripe - disse à ele, as pessoas não querem saber como nós realmente estamos, são perguntas vazias, com palavras vazias do tipo "eu te amo" e "eu te amo também".

O metrô chegou, finalmente! Entrei e logo sentei perto da janela e coloquei meu casaco no outro banco, não queria que ninguém sentasse perto de mim. Foi pela janela que eu conheci ela, pouco menos de 6 meses, no mesmo lugar em que estou agora, olhando para o mesmo lugar, mas ela não está lá.
Sinto meu corpo se contorcer contra o banco, eu sinto vontade de chorar, mas não posso, as pessoas irão ver e me perguntar novamente "você está bem?". Peguei meu celular e apertei o play da minha playlist, as mesmas músicas que eu ouvia à tempos, Fix you do Coldplay começa a tocar, recosto a minha cabeça na janela e sigo assim até a minha estação.

-Moça? - Uma garota me cutucava, eu havia adormecido. - Me desculpe acordar você, mas é que o metrô está lotado, queria saber se poderia retirar o seu casaco para eu poder sentar.

-Ah, nossa, claro...- Disse, um pouco sem jeito para dizer não.

-Obrigada.

-Imagina. - Disse não querendo prolongar a conversa.

-Não me apresentei. Prazer, meu nome é Joyce, mas pode me chamar de Joy.

Ela abriu um sorriso que confesso que era o sorriso mais bonito que eu tinha visto à  tempos, tinha olhos castanhos tão penetrantes que eu poderia jurar que ela podia ver como eu estava por dentro. Seus cabelos eram castanhos, um pouco mais escuro que os olhos. Tinha as unhas pintadas com um esmalte cinza escuro, da cor do vestido que usava, All Star preto e bolsa marrom terra. Carregava um livro do Harry Potter na mão, era o " Harry Potter e o cálice de fogo" eu já havia lido à uns meses atrás.

-Amanda, meu nome é Amanda. - Falei logo em seguida.

-Já leu?.

-Desculpe...?- Perguntei confusa.

-Esse livro, já leu?- Ela disse.

-Ah, sim, a uns meses atrás, não queria que Cedrico Digory tivesse morrido. - Disse sem muita importância.

-O Cedrigo morre?!- ela me olhou supresa, pude ver que ela não esperava por isso.

-Infelizmente, quando ele é Harry pegam à taça tribruxo, eles são transportados para onde Valdemort está. Valdemort usa o feitiço Avada kadrava em Cedrico e ele morre na hora...- Quando terminei de falar pude ver os olhos dela se enchendo de lágrima, senti uma certa pena dela.

-Não se deve falar no nome de "você sabe quem"- Ela disse com um sorriso no canto da boca.

-Ah sim, desculpe.

-Você gosta do Coldplay?

-Gosto, é a minha banda favorita.- Disse a ela.- Mas por que à pergunta?

-Você está com seu celular virado pra mim, deu para ver o nome nele.- Ela sorriu sem graça pra mim.

-Ah, claro. Não percebi que tinha deixado ele lig... Droga! - Tive que sair correndo, a porta do metrô ia fechar e eu teria que andar muito se passasse da minha estação.

Pude ver ela pela janela, acenou para mim e disse algo do tipo "Até logo" depois abriu um sorriso enorme. Eu dei de costas, sabia que não ia ver ela novamente, comecei a andar e logo depois à subir os degraus, queria ir para casa o mais rápido possível.

Apertei número 12 no elevador, era o meu andar, assim como na música do Nando reis. Abri à porta e vi todas as minhas coisas no chão, espalhadas por um ataque de fúria que tive na noite passada. Fui tomar um banho, devia ter demorado uns 40 minutos embaixo dele. Eu chorava, não me aguentava e escorria pela parede do chuveiro, eu sentia a água caindo sobre mim, como se passasse a mão na minha cabeça e dissesse: "Eu sei, eu sei, pode chorar, tira isso tudo de dentro de você, estou aqui pra isso".
Saí do banho e fui para o meu quarto, enquanto a água que molhou os meus cabelos escorria pela minhas costas, lembrei do calmante que a Dr. Samanta tinha passado. Eu tomei um comprimido e deitei na cama, sem me vestir, por cima das roupas que tinha tirado do guarda-roupa mais cedo, e adormeci.

JoyOnde histórias criam vida. Descubra agora