O caminho até a recepção era longo e eu estava quase morrendo de preguiça. Tudo bem, eu não estava necessariamente morrendo, mas não é como se eu pudesse ignorar meu lado hiperbólico. E, querendo ou não, eu tinha que caminhar até a bendita recepção para fazer sabe-se lá o quê que a recepcionista falou ao telefone, do quarto de hotel. Claro que eu ouvi pouquíssima coisa do que ela disse, pois minha playlist de Sia estava muito mais interessante que a voz anasalada da moça.
Calçando minhas sapatilhas, praguejando baixinho, caminhei até a porta do quarto com cuidado para não tropeçar em nada, pois devido à minha coordenação motora de girafa recém-nascida, qualquer brisa podia me fazer desequilibrar. Até hoje não sei como conseguir sobreviver quase vinte e sete anos sem me matar em uma queda de escada ou algo semelhante. É um mistério.
Parando diante do elevador, chamei-o e aguardei um pouco. Estava de férias em Veneza, cortesia do meu chefe por ter sido uma boa funcionária. Se eu era mesmo uma? Bem, se ele acreditou nisso quem era eu para discordar? Quando recebi a notícia sobre minhas férias e a viagem, nem pensei duas vezes, agarrei a passagem de avião como se minha vida dependesse do ato.
Não faziam nem trinta minutos que eu tinha feito check-in no hotel e a recepção já tinha ligado para mim. Estava um pouco temerosa, será que eu tinha quebrado algum dos vasos decorativos do suntuoso hall? Choraminguei. Se eu tivesse mesmo quebrado, teria que dar adeus à viagem, pois eu teria que ocupar meus dias vendendo meu corpo até conseguir arranjar os seis salários mínimos necessários para pagar o prejuízo.
A porta do elevador abriu, interrompendo meu surto interno. Cumprimentei o casal de idosos que estava dentro do mesmo com um sorriso e foquei minha atenção em não cair dura no chão. Odeio elevadores mais do que odeio goiabada. Quase me ajoelhei no chão do saguão e agradeci aos céus ao sair daquela lata de sardinha. Lembro-me vagamente de uma vez em que Rachel, minha amiga, ponderou sobre a anormalidade de eu ter medo de elevadores, mas viajar de avião numa boa. Vai entender.
Caminhei pelo saguão esbarrando nas pessoas que passavam por mim, enquanto pedia desculpas em diversas formas e idiomas diferentes. Chegando à recepção, perguntei a moça do balcão o que porra ela queria comigo, não necessariamente com essas palavras.
— Tem uma ligação para a senhorita. — ela explicou-me, estendendo o telefone da recepção para mim.
— E não podia simplesmente transferir para o meu quarto?
A garota que não aparentava ter mais de 20 anos corou e sussurrou baixinho um pedido de desculpas. Senti-me uma cretina por tê-la deixado sem graça, com certeza havia começado a trabalhar ali há pouco tempo. Peguei o telefone e o coloquei sobre o ouvido.
— Alô... — antes de eu realmente acabar de falar, dois gritos estridentes esfaquearam meus tímpanos.
— Alê, sua vagaba! — a voz aguda de minha amiga se sobrepôs às risadas ensandecidas de Will, ao fundo. — Como ousa me fazer gastar meus preciosos créditos te esperando, sua vadia? Por que você não atende a porra do celular?
Bufei, irritada, tentando fazer meu tímpano esquerdo funcionar novamente.
— Meu celular chegou descarregado aqui, Rachel. — expliquei — Espera, como vocês conseguiram o número do hotel em que estou?
— Eu tenho meus contatos. — Will quem respondeu, ainda rindo.
— Não acredito que a Aretha ajudou vocês nisso. — soltei outra baforada de ar.
— Todos sabem que Aretha é a melhor nisso e a sua amiga Rachel estava quase tendo uma síncope por não conseguir entrar em contato contigo.
Soltei um silvo entredentes e imaginei o quão fácil deve ter sido para Aretha localizar meu hotel e, consequentemente, o telefone do mesmo. Aretha era uma boa amiga da faculdade que, apesar de ter um certificado da Escola de Artes e, posteriormente, ter se formado em Letras, era a melhor detetive que eu já tinha conhecido. Ela tinha a capacidade de descobrir em poucos minutos até mesmo qual a última coisa que a pessoa em questão comeu. Nem o fato de ela ter se mudado para Minas Gerais anulou as possibilidades de nos ajudar quando queríamos a ficha de alguém.
— Vocês dois são exagerados. — resmungo para o telefone — Eu iria ligar quando o celular estivesse carregado.
— Nós não podíamos esperar. — Rachel explica.
— Estávamos com medo de que você tivesse quebrado alguma perna, sabe? — Will completa.
— Eu não sou tão atrapalhada assim!
— Uhum, mas é claro que não. — pude sentir a ironia no “claro” e revirei os olhos. Tá, eu era muito desastrada. Ainda assim, eu não iria me matar só porque estava em um lugar muito longe de casa. Iria?
— Vocês são dois cretinos, isso sim.
— Nós te amamos, sua vaca! Larga de ser uma vadia ingrata.
— Amor, você consegue ter a boca mais suja que a minha. Incrível.
— Cala a boca, William!
Sorrio para o telefone. Estava pronta para fazer algum comentário sobre a sujeira da boca de Rachel, quando um estremecimento atravessou minha coluna. Virei-me um pouco e olhei para o lado, dando de cara com uma espécie de avatar vestido de terno, porque aquele ser humano era alto o suficiente para limpar o teto do saguão sem precisar de escada. Ok, eu estava exagerando novamente só porque o homem parado ao meu lado no balcão era relativamente mais alto que eu.
Eu não sei explicar se era a minha imaginação trabalhando, mas eu podia perceber que em baixo do terno cor de chumbo do gostos... quer dizer, do homem parado ao meu lado, os músculos proeminentes. Eu estava lá, ouvindo os gritos histéricos de Rachel em meu ouvido, chamando meu nome, enquanto secava o Sr. Gostosão De Terno sem o menor pudor. Até onde eu sei, o que é belo tem mesmo de ser apreciado.
Percorri meus olhos avaliativos desde o mocassin lustroso em seus pés, até o queixo perfeitamente delineado com alguns pelos ralos. Analisei a curva de seus lábios de tamanho razoável, com o lábio inferior um pouco mais cheio, e percebi que os cantos de seus lábios estavam repuxados para cima. Foi quando meus olhos pousaram sobre os dele que o ar me faltou.
Homens bonitos e sarados é fácil encontrar depois que inventaram Academias de musculação. Não vou dizer que sou imune à eles por serem corriqueiros, porque eu não sou, mas não é algo que me faça querer deitar de pernas abertas e provocar com um “Vem”. Mas, devo evidenciar que sempre tive um fraco terrível para olhos castanho-amarelados. Eu nem sabia se esse era realmente o nome da cor, mas eu via dessa maneira. E quando eu vi os olhos castanho-amarelados sorrindo para mim, quase caí durinha no chão. Patético, eu sei.
Senti a vertigem de antes com mais intensidade, junto com um líquido morno escorrendo de meus canais nasais e pingando no busto do meu vestido branco. Minhas pernas fraquejaram e minha mente deu um giro brusco, fazendo-me ficar tonta e pender para a frente. Só tive tempo de xingar à mim mesma mentalmente uma vez, antes de sentir um par de braços atentos em meu entorno e, em seguida, apagar.
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amor Inesperado(em Revisão )
RomanceFeita por mim e Errerodrigues Sinopse : Graças a uma cortesia de seu chefe Alessandra ganha uma viagem de férias para Veneza, onde ela conhece Jason, apesar do vexame inícial depois de ter desmaiado pateticament...