capítulo 1

15 2 0
                                    

Vergonha. Sf [abstrato] significa timidez, acanhamento, opróbrio, desonra.

Eu tenho um problema e ele não se trata somente do de saúde. Eu acabei de acordar e lembro tudo que aconteceu antes de eu apagar por completo, por isso tenho um problema ultra mega máster bláster grande. Eu ainda não acredito que passei aquela vergonha diante do gostos... quer dizer, do homem muito bonito que eu estava apreciando. Que humilhação!
Eu estou com tanta raiva de mim mesma nesse momento, que se não estivesse ocupada demais tentando entender como cheguei em cima de uma cama, iria dar socos na minha própria cara para que assim, talvez, eu pare de passar vergonha na frente dos outros.
Abro os olhos devagar, somente deixando uma fresta para minha observação. Esse, definitivamente, não é o meu quarto de hotel. A cama é bem maior e confortável e a decoração do quarto é mais... suntuosa. Lembro de ter sido amparada por alguém antes de cair igual manga madura no chão, será que foi aquele homem? Será que esse é o quarto dele? Ai meus Deus! Será que ele fez alguma coisa comigo? Já ouvi falar em umas pessoas que realmente gostam de necrofilia.
— Não se preocupe, eu não te toquei. — uma voz grave vem de um dos cantos do quarto.
Sento-me num rompante sobre a cama e grito, apertando o lençol entre meus dedos. O homem acaba soltando um palavrão, depois de derramar o conteúdo do copo que tinha em mãos sobre o terno caro. Ele semicerra os olhos na minha direção, como se repreendesse.
— Você me assustou! — acuso, apontando um dedo trêmulo para ele. Porém, ele falou junto comigo, também me acusando. Nós acabamos rindo um da cara do outro, parecemos duas crianças birrentas.
— Me desculpe, eu não devia ter gritado. É que não é sempre que eu acordo com um locutor de rádio ao lado da cama. — suspiro.
Ele me encara sério por um momento, então começa a gargalhar, preenchendo o quarto com o som melodioso. Observo os dentes brancos contrastarem com sua pele morena, os olhos criando ruguinhas nos cantos pelo riso. Lindo. Completamente lindo.
— Locutor de rádio? — ele ainda tem a voz risonha — Oh, não, baby, eu não sou locutor de rádio.
— Baby? — arqueio uma sobrancelha — Então, você é tipo um magnata, né? Igual o Christian Grey? Porque, deixa eu te dizer, eu não estou interessada em BDSM, porque isso me assusta e muito. E também não estou interessada em presentes caros e palmadas e possessividade e invasão de meus dados pessoais...
Percebo que estou tagarelando, então mordo minha língua para controlar as palavras garganta a dentro. O que eu estou fazendo? Tem um moreno lindo na minha frente e eu estou falando da droga de um homem fictício! Qual o meu problema?
— Desculpe, eu não...
— Não precisa se desculpar. Na verdade, estou me divertindo com isso. — ele dá um sorriso matador.
Espera, ele está rindo da minha cara? Sinto minhas bochechas arderem e sei que estou com as mesmas vermelhas, seja de raiva ou de mais vergonha.
— O que eu estou fazendo aqui? — indago, mudando de assunto nenhum pouco sutilmente. Não posso me deixar levar pelo sorriso enternecedor e os olhos cativantes deste homem, pois, no final de tudo, ele é um estranho e eu estou sozinha num quarto com ele.
— Você passou mal na recepção, desmaiou, eu a peguei e te trouxe para o meu quarto.
— Oh, claro. — soo irônica — E por que não me levou à um hospital?
— Porque não queria que meus hóspedes se assustassem com o alvoroço, fazendo com que meu hotel fique mal falado.
— Seu hotel? — grasno, sem acreditar que paguei tantos micos, micos não, king-kongs, diante do dono do hotel. Tem como ficar pior?
— Sim, meu hotel.
— E por que não me levou para meu quarto?
— Além de ajuda-la, você queria que eu a levasse para o seu quarto? Não acha que está pedindo demais?
Semicerro os olhos, porém, sei que ele tem razão. Ele realmente me ajudou, então, decido somente agradecer.
— Obrigado. Muito obrigado mesmo.
— Não de quê, moça. — ele acena. Jogo minhas pernas para o lado da cama pronta para descer. No entanto, antes que eu posso colocar as solas dos pés no piso, duas mãos grandes e quentes me impedem. Olho para os olhos castanho-amarelados do homem, dono do hotel, e perco a linha de raciocínio.
— Eu tenho que ir. — balbucio, respirando fundo. Ele pigarreia antes de responder.
— Eu vou leva-la.
— Não precisa, eu posso ir sozinha, já.
— Não sei se essa é uma boa ideia. Você realmente esteve mal, afinal, o que lhe aconteceu? Seu nariz sangrou e...
— Não foi nada. — interrompo, sem querer prolongar o assunto — Eu realmente tenho que ir.
— Tudo bem.
Solto um gritinho quando ele põe uma mão na minha costa e outra por baixo dos meus joelhos, suspendendo-me em seguida e caminhando comigo em seu colo até a porta.
— Eu sei andar! — ok, andar não é uma das melhores coisas que eu faço, ainda assim eu consigo fazê-lo sozinha.
— Só estou garantindo que chegue inteira em seu quarto, moça.
Nós caminhamos pelo corredor até para no elevador, o que me faz franzir o cenho. Achei que o dono do hotel só ia querer ficar na cobertura, nas nos andares normais junto com os reles mortais, como eu. No entanto, decido não perguntar para não soar intrometida. Porém, quem disse que eu obedeço minhas decisões?
— Por que você não fica na cobertura? — questiono assim que as portas do elevador se abrem. Um grupo de adolescentes encaram a mim sendo carregada e começam a cochichar entre si, o que me faz querer incorporar um avestruz para que eu posso enfiar minha cara na terra.
Nós descemos somente dois andares mais abaixo, e ele ainda não me respondeu. Ele caminha comigo em seu colo até a porta do meu quarto e me deposita no chão com um cuidado tão exagerado que me deixa incomodada.
— Eu ainda acho que podia ter vindo sozinha. — resmungo, alisando a saia de meu vestido.
— Estava ocupada. — viro o olhar confuso para ele, que parece perceber que eu não estou entendendo — Você perguntou por que não fiquei na cobertura e eu estou respondendo: Estava ocupada.
— Ah sim.
— Eu sempre preso pelo bem-estar de meus hóspedes e, aliás, eu estou só de passagem. Não preciso de tanto exagero.
Sorrio amigavelmente para ele. Pelo menos, ele não é um megalomaníaco obcecado por tudo que for o melhor, assim eu me sinto menos oprimida. Claro, tirando o fato de que sangrei na frente dele e desmaiei porque a beleza exacerbada de seus olhos, combinados com todo o resto, deixaram-me ansiosa o suficiente para afetar meu sistema nervoso.
Eu vejo suas pupilas dilatarem de uma maneira... sei lá, estranha, e isso me causa mais incômodo. Novamente, a beleza dele e seus olhos estão me deixando oprimida, e eu não gosto disso. Pigarreio.
— Bem, — bato uma mão na outra — muito obrigado por me ajudar senhor...
— Jason. Pode me chamar de Jason.
— Ok. Muito obrigado Jason. Mas, eu preciso mesmo resolver... hum.. umas coisas.
Ele parece perceber que o estou dispensando, pois anui rapidamente e constrói uma postura perfeitamente ereta.
— Foi um prazer ajuda-la, Alessandra. Tenha uma boa noite.
— Como você sabe meu... — ele se afasta pelo corredor, chamando o elevador e embarcando no mesmo sem olhar para mim mais nenhuma vez — ... nome?
Solto um resmungo irritado e entro em meu quarto de uma vez. Sinto o chão frio sob mim e encaro meus pés nus, não acredito que minha sapatilha novinha ficou com ele. Choramingo sozinha e me jogo na cama, notando que realmente já está de noite. Perdi um dia inteiro de minha viagem dentro de um quarto, com um estranho e a gente nem transou! Que ódio! Ainda perdi minha sapatilha favorita.
Pego meu celular da cômoda e percebo que ele está com a bateria cheia, então o ligo. Assim que o sistema reinicia, uma enxurrada de mensagens e de notificações de ligações perdidas chega com bipes ininterruptos. Fecho os olhos e massageio as têmporas, antes de abrir a primeira conversa.

Rachel:

Sua vadia sem coração! 14:23h

Não acredito que me deixou falando sozinha! 14:23

Qual seu problema? 14:24h

Alessandra, você está bem? Passou mal? 15:31h

Alessandra! Me responde logo, porra! Estou preocupada. 16:08h

Se você não me ligar em meia hora, vou ligar para a polícia daí! 17:53h

Porcaria! A última mensagem foi há duas horas atrás e, pelo que conheço Rachel, ela é bem capaz de ligar mesmo para a polícia de Veneza com alguma história absurda. Saio da conversa e olha a mensagem mais recente, de uma pessoa que eu nunca achei que fosse me mandar mensagem.

Alessandra, Lia e eu estamos torcendo para que você tenha transado com ele, porque se não, eu vou te matar! Segurar a doida da Rachel foi quase impossível!

Aretha Lawson

Sinto minhas bochechas arderem novamente. Como diabos Aretha sabe que eu estava com um cara? Afinal, como Aretha consegue descobrir essas coisas? Parece uma espiã dos E.U.A. na verdade, se ela me revelasse ser uma agente do governo, eu nem me assustaria. Sempre achei Aretha meio suspeita, com aquele jeito paradoxo de simpatia e introspecção.
Resolvo responder à mensagem dela.

Alessandra:

Me pergunto como você descobriu isso, Aretha! Pelo amor de Deus, mulher! E, não, eu não transei com ninguém.

Não demora muito para que meu celular comece a vibrar na minha mão, mostrando o nome dela na tela. Atendo a ligação via Whatsapp.

— Alessandra Moraes, eu vou te matar e vender teus órgãos para o tráfico! — a voz de Rachel retumba no meu ouvido. O que essa doida faz com o celular da Aretha?
— Rachel?
— Não, a Madonna. Claro que sou eu!
— Cadê a Aretha? Você não está no Rio?
— Estamos, meu bem, nós estamos no Rio. Aretha ganhou uma folga de uma semana, porque a escola em que ela trabalha está sendo dedetizada e veio para cá, conosco.



Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 13, 2016 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

amor Inesperado(em Revisão )Onde histórias criam vida. Descubra agora