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Eu havia acabado de chegar na casa dos meus pais, as coisas permaneciam no mesmo lugar depois de longos meses que eu fiquei fora. Os pássaros que minha mãe adorava ouvir cantar, haviam aprendido uma canção nova, as flores do jardim que eu e meu pai havíamos plantado no ultimo verão, já estavam todas florescidas, e totalmente deslumbrantes, e meu quarto permanecia exatamente como eu o havia deixado, os pôsteres de minhas bandas favoritas colados na parede, meu pequeno rádio velho que havia deixado de funcionar a anos, e o quadro de fotos que eu tinha ganhado da Page em meu ultimo aniversário, ela estava cursando Arte na universidade do Texas. No meu aniversario de 21 anos, choramos horrores por ser também a nossa despedida, ela dizia que sempre estaria aqui para mim, e eu estava precisando disso mais que tudo.

- Olha, temos que fazer uma lista de coisas para fazermos juntas. – disse Page, pegando um caderno do ensino fundamental que eu tinha escondido em meu guarda-roupa.

- Precisamos mesmo fazer isso?

- Claro, seu ultim... o que é isso? – ela segurou meu caderno à sua frente, fazendo uma cara de idiota a ponto de rir. – Calvin Mickels? Então você realmente gostava dele.

- Me devolve isso. – peguei o caderno de sua mão, e voltei a deitar em minha cama totalmente confortável, já havia escolhido o lugar pra minha morte.

- Sabe que ficar com raiva não vai resolver em nada, não é?

- Eu sei, só que não é fácil descobrir que vai morrer e não ter nada pra mudar isso. – senti algo quente em meu rosto, eu estava chorando, um choro de amargura e tristeza, a única coisa que eu seria capaz de fazer nessa situação. Senti a mão acolhedora de Page sobre as minhas, ela como ninguém sabia como eu estava me sentindo, e se ela pudesse, ela moveria montanhas pra mudar essa situação. – É estranho, um dia eu estou completamente feliz com a minha vida, e com todos que estão nela, estou cursando Direito, o que sempre foi meu sonho, e no outro caio dura no chão e descubro que estou com câncer! – cubro meu rosto com as mãos, e solto o que tanto estava preso em mim, eu não havia chorado para ninguém, nem mesmo pros meus pais, e eu não pretendia chorar, mas rever a minha situação várias vezes me fez ver o quão ferrada eu estava.

- Você acha que eu estou bem com isso? Que nós estamos? Se eu pudesse doar meu coração para você eu o faria, mas não é disso que você precisa agora, por favor, curta o ultimo tempo que te resta, curta comigo, vamos para Califórnia, e andar num carro aberto ao som de Aerosmith, é o nosso sonho, lembra?

- Meus sonhos foram destruídos junto com a Califórnia. – me viro de costas para Page, e deixo sair lágrimas que se encontravam escondidas, molhando meu rosto e meu travesseiro.

- Então fica aí, amargurada pelo resto da sua vida. – ela diz irritada, e sai do meu quarto batendo a porta.

- Não se preocupe, não vai ser muito tempo. - digo, para mim mesma.

Todos agem como se a culpa fosse minha, como se fosse simples eu tirar a amargura de meu coração, eu estava deprimida, e nada ia me tirar dessa, eu só precisava ficar em paz nesse tempo que me restava, que tudo ficaria bem.

Após eu me lamentar , e a trilha sonora da minha vida passar pela minha mente, e me deixar ainda mais triste, ouço batidas na porta, e ela sendo aberta lentamente.

- Filha? Está acordada? - me viro para meu pai, que logo muda sua expressão acolhedora para uma de tristeza, deve ser muito difícil ver sua princesinha se transformando em um zumbi aos poucos.

- Oi pai. – abro um sorriso fraco, e me sento na cama novamente, o observando sentar ao meu lado.

- Eu sei que isso tudo aconteceu de repente, eu e sua mãe também ficamos surpresos, mas não pense que é sua obrigação ficar ao nosso lado nesses últimos meses, você também tem que ser feliz, e viver tudo que tem vontade.

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