Parte 1 - AS MELANCIAS

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Era um casebre no deserto. Não mais a grande construção de madeira, imponente nos verdejantes campos de uma fazenda, como costumava ser. Quando as mudanças chegaram, aquilo havia sido reduzido a destroços. Destroços que foram utilizados na construção do casebre. Casebre que ocupava uma extensa faixa de areia e terra seca. Sem vida, sem alegria, sem qualquer coisa que lembrasse os bons tempos. Um pobre casebre no deserto.

Ali vivia uma família. Uma família devastada e aterrorizada pelo horrível destino que a espreitava - um futuro nada promissor, de infelicidade e miséria. O fim daquela história em nada fazia jus ao seu início. Quem poderia imaginar que o velho fazendeiro Raimundo, pai de três belos rapazes e dono de terras a perder de vista, seria condenado a passar o resto de seus dias na dúvida se haveria algo para comer na manhã seguinte? Talvez a vida fosse mesmo uma caixinha de surpresas, como rezava o ditado.

Mas ninguém jamais garantiu que tais surpresas fossem sempre presentes da vida. Raimundo e seus filhos eram provas vivas de que, quando menos se esperava, algo poderia dar terrivelmente errado. E nem sempre havia como se preparar para isto. Do contrário, todos teriam previsto o dia em que a fúria da Bruxa fizera com que fossem mergulhados num estado de escuridão eterna.

Aquele era um dia cinzento e amargo, como todos os outros. No entanto, o silêncio pairava na velha cozinha de madeira do casebre, e os três filhos de Raimundo encaravam o pai com ar de surpresa. Diante deles, sobre a mesa, três enormes melancias brilhavam tão intensamente que pareciam ter luz própria. Em tempos como aquele, tal visão significava uma fartura que nenhum dos rapazes conseguiria sequer imaginar.

- A rama estava carregada. - Raimundo lançou-lhes um sorriso, ao mesmo tempo, cansado e esperançoso. - Eu chamaria isso de milagre. Pode ser um sinal. Acho que deveríamos levá-lo em consideração.

- De onde elas surgiram? - o mais novo dos irmãos, Ronaldo, aproximou-se da mesa com uma expressão de interrogação. - Ontem mesmo fomos até a horta e tudo estava murcho e mirrado, como costuma ser. Isso não faz o menor sentido.

- Eu disse que é algo realmente especial. - Raimundo sorriu novamente, enrugando a pele ao redor dos olhos. - Em tempos como este, meus filhos, nada pode ser ignorado. A esperança precisa prevalecer sobre o sofrimento. Eu sei como todos queremos que as coisas mudem, de uma vez por todas. E é por isso que devemos estar atentos às oportunidades que surgem.

- De fato, parece que temos o suficiente para saciar nossa fome por algum tempo. - Romildo, o irmão do meio, arqueou uma sobrancelha. - Mas não vejo como isso possa mudar as coisas. Assim que as melancias acabarem, vamos ter que sentar e esperar por outro milagre. Ainda estaremos vivendo da mesma maneira. Sinceramente, papai, eu não sei de onde o senhor tira essas ideias.

- Talvez você deva apenas dar uma chance, Romildo. - o primogênito, Raul, finalmente interveio. - O papai está certo. Nada pode ser ignorado. Afinal, o que temos a perder? Pode ser que as coisas não mudem, mas, se não acreditarmos, não teremos a chance de provar o contrário.

As Três Melancias (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora