1. Aniversário

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Branca



Brandi a espada e investi na lateral de Sebastian. Sebastian desviou e tentou me acertar por baixo, mas fui mais rápida e desviei de sua investida, encaixando a lança de madeira bem na base de seu pescoço. Sebastian sorriu amarelo e empurrou a espada falsa com força. Deixei-a cair no chão.

— Morto — comentei, vitoriosa.

— Você que acha.

Girei os olhos. Por que os homens não se davam por vencidos quando eram derrotados por mulheres?

Desenrolei o nó que prendia meu vestido acima das botas. O vestido era incrivelmente pesado quando solto, quase como se uma bigorna enorme estivesse presa à sua barra. Sebastian, o principal cavaleiro do castelo e capacho de minha madrasta, pareceu mais feliz ao me ver com a roupa novamente "apropriada".

Um corvo piou acima de nossas cabeças. Olhei para cima e notei Agnes observando-me da torre de seu quarto, o olhar pesado e baixo de quem olha um verme nojento se rastejando.

Ignorei a expressão dela. Depois de tantos anos recebendo-o de graça eu já não era mais afetada. Ela que quisesse agir como uma criança; logo logo eu faria vinte anos e seria maior de idade, pela lei de Prada, assim assumiria o cargo de Rainha. Agnes estava com seus dias de regentes contados.

— Georgiana!

Respirei fundo. Agnes sabia que eu odiava quem me chamava pelo meu nome. Branca!, eu quis gritar, Me chame de Branca!

Segurei nas barras do vestido e pisei duro na direção da entrada no castelo. Um dos guardas do portão principal sussurrou "Salão Principal" para me indicar onde ela me esperava.

Os corredores de pedras estavam frios e vazios enquanto eu os atravessava apressada para chegar ao meu destino. Criados corriam de lá para cá com utensílios nas mãos, cestas de comida e tecidos para roupas de cama.

O Salão Principal era um enorme cômodo circular com uma cúpula no teto, onde toda corte e nobres se reuniam para festejar. Janelas amplas com vitrais interceptavam a luz que vinha de fora, criando estampas coloridas elegantes no teto e no chão. Dois tronos gigantescos se encontravam num palanque de pedra, no extremo norte do espaço, adornados com ouro e pedras preciosas.

Agnes me esperava sentada numa poltrona alta de tecido oriental importado. Frederico Bardric, seu marido, estava com ela, também sentado numa poltrona à distância, forçado e casualmente entretido com um pergaminho velho.

Cruzei os braços e esperei que ela se pronunciasse. Tentei ignorar seus olhos críticos que corriam de cima a baixo, avaliando meu estado terrível de sujeira, suor e cansaço.

— Georgiana.

— Branca.

— Georgiana — ela frisou —, precisamos discutir alguns pontos sobre seu aniversário.

— É daqui a uma semana — choraminguei. — Precisamos falar disso agora?

— Claro, será dada uma festa em sua homenagem, futura rainha — Frederico respondeu com um sorrisinho, enquanto brincava com uma maçã falsa cheia de pedrinhas brilhantes que enfeitava a mesa perto de sua poltrona.

— A corte inteira será chamada, Georgiana — completou Agnes.

— Branca! — rugi novamente.

— Seu nome é Georgiana, irei chamar-lhe assim — ela disse com autoridade.

Agnes sabia o quanto eu gostava do nome Branca, ela sabia o que ele significava para mim, mas simplesmente ignorava para poder me provocar, me provar que ela podia mais do que eu, quando não podia. Agnes era apenas a rainha regente, deixada na posição por um pedido no testamento de meu pai antes de morrer. Ela não podia mais do que eu — o trono me pertencia.

A Maçã de CristalOnde histórias criam vida. Descubra agora