Prefacio

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Nunca se apaixone pela pessoa errada...

Prefacio

Eu não podia acreditar no que eu mesma estava fazendo, o que tinha me dado na cabeça pra pegar aquela arma e apontar para a cabeça do Sr. Runski da lojinha de conveniência. A troco de que ?. Uns poucos trocados que não chegariam a pagar a bebida mais cara da prateleira, umas balinhas de menta, uns docinhos borrachentos, comida enlatada e só. Mas havia uma coisa a mais do que apenas roubar inutilidades na loja de conveniências do posto da estrada. O sentimento de medo do Sr. Runski da lojinha fazia-o rir com prazer, ele sentia prazer com o medo que causava aos outros. O som da sua risada me fazia arrepiar dos pés à cabeça. Ela me tomava por completo como o teor alcoólico de uma bebida muito forte ao primeiro gole, sensação a qual só tinha sentido com ele. Ele me impulsionava a fazer tudo que não era certo, tudo o que não podia e eu só estava nessa agora por causa dele.

Senti ele chegar bem perto de mim, eu estava dura, ereta, com uma arma na mão, carregada, pronta para atirar mas ainda assim nervosa e insegura. Era a primeira vez que segurava uma arma e eu não conseguia sentir os meus dedos, apesar da força com que a segurava em minhas mãos. Estávamos na frente do balcão de atendimento da lojinha, os outros meninos já tinham quebrado metade da loja com suas correntes e tacos de basebol enquanto as meninas terminavam de saquear a outra metade com besteiras gordurosas e calóricas que só podiam ter numa lojinha de conveniência a beira da estrada. Ele olhava fixamente e zombeteiramente para o Sr. Runski quando tirou uma mecha de cabelo da minha orelha e falou de uma forma bem sexy ao meu pé do ouvido:

- Você não vai querer vê-la usar esse brinquedinho vai?

O Sr. Runski suava mais do que uma panela de ensopado quente e tudo o que ele conseguiu fazer foi acenar com a cabeça e emitir uns grunhidos de negação e de medo enquanto tremia dos pés a cabeça. Kyle riu com desdém da covardia do Sr. Runski, o que fez balançar umas mechas do meu cabelo que ele não conseguiu tirar da minha orelha. O halito dele era intoxicante, tinha um cheiro doce de vodka destilada e pirulito de cereja que estava preso no cano da arma que ele segurava. Na outra mão a garrafa de vodka destampada estava quase na metade, ele se serviu de seu pirulito no cano se sua arma.

- Isso seu velho babão é pra você aprender a nunca mais me negar nem uma porcariazinha dessa sua lojinha de merda. – Cuspiu Kyle com uma cara assustadora para o Sr. Runski.

- E...eu só quero que vocês saiam da minha loja; rápido. – Brandiu o Sr. Runski ainda com a voz e as pernas trêmulas.

- Hum; nós vamos sair sim. – Disse Kyle com um sorriso maquiavélico no rosto. – Mas antes vamos deixar um presentinho pra você.

Nesse mesmo instante Kit e Tom, que eram os mais robustos da gangue pegaram o Sr. Runski pelo colarinho e o ergueram encima do balcão. Katy e Lisa trouxeram fitas isolantes e começaram a amarrar os braços e as pernas do Sr. Runski. Os garotos o colocaram de bruços com a barriga encima do balcão de uma forma que quando as meninas terminaram de amarrar o Sr. Runski parecia com um frango no dia de ação de graças.

- Olha só brother o porcão tá pronto pra ir pro forno. – Tom falou zombando da humilhante condição em que encontrava o Sr. Runski.

- Sei não ein bro, acho que seu comer esse porcão aí eu vou ter é uma baita de uma indigestão. – Disse Kit em meio aos risos.

Enquanto isso as meninas riscavam a cara do Sr. Runski com batons rosa e vermelho fazendo-o ficar ainda mais ridículo do que ele estava. Kyle se aproximou do balcão, pegou um saquinho de algodão que ficava numa prateleira perto das barrinhas de cereal e o abriu. Ele me passou a garrafa de vodka para que eu pudesse segura-la e com a coronha da arma que estava na mão bateu com toda a força nas costas do Sr. Runski que arqueou com a dor e deu um grito que o fez pular. Kyle aproveitou que a boca do Sr. Runski estava toda aberta e enfiou o monte de algodão na boca dele.

- Espero que tenha aprendido a lição, velho babão. – falou Kyle bem próximo ao rosto do Sr. Runski que agora estava vermelho como um pimentão por ter o seu grito abafado pelo algodão.

- Vamos embora cambada. – Ordenou Kyle para o resto da gangue. Kit e Tom estavam encima do balcão dançando e cantando uma dança italiana esquisita ao mesmo tempo em que chutavam todas as coisas de cima do balcão.

- Venham logo seus bastardos de merda. – Gritou Kyle que já estava com um braço apoiado sob o meu pescoço. Nesse braço ele segurava sua arma. Os meninos atenderam ao chamado de Kyle, mas antes eles acionaram o alarme de incêndio da loja com um isqueiro. O som do alarme ecoava atrás de nós com um ruído insuportável enquanto nos dirigíamos ao Cadilac 87 azul claro de Kyle. Um dos tesouros que Kyle roubara de seu pai antes de sair de casa.

- Vocês são uns putos mesmo. – Disse Kyle para Kit e Tom quando eles chegaram ao carro.

- Você também é. – Retrucou Kit. As garotas riram com os insultos dos meninos o que acabou desencadeando um show de risadas no banco de trás do carro. Só eu não achava graça naquilo tudo, não mais. Eu já estava cansada de tudo isso. Mas nem sempre foi assim. Houve tempos em que fazer esse tipo de coisa me divertia. Agora não mais.

Kyle ligou a chave na ignição do carro o que fez o motor do Cadilac roncar e ligar automaticamente o som do carro num rock pesado no estilo que ele gostava. Eu estava sentada no banco do carona ao seu lado, como sempre fora.

- Você se saiu bem honey, muito bem. – Kyle me disse dando tapinhas na minha coxa. Minha reação não mudou, estava com a cara fechada. Ele sabia que eu não aprovava esse tipo de atitude dele. Não mais. Mas ele fingiu não notar, apenas acendeu um cigarro e começou a dirigir a toda velocidade pela estrada de areia e terra que dava até a cidade.

Eu só esperava que a idiotice dos meninos de ter acionado o alarme de incêndio não fizesse o Sr. Runski apenas ficar molhado e um pouco surdo, mas que pudesse chamar a atenção de alguém que passasse pelo local e pudesse vir ajuda-lo. As ações de Kyle ultimamente vem me distanciando cada vez mais dele. E eu que um dia cheguei a pensar que ele poderia ser o meu príncipe encantado. Todo fora do padrão, sem cavalo branco, sem espada na mão, sem derrotar o dragão. Ele com todos esses padrões quebrados estava mais para ser o meu príncipe envenenado.

Poison Prince (Principe Envenenado)Onde histórias criam vida. Descubra agora