Seguinte - CAPÍTULO ÚNICO

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     Sabe o que acontece quando se mexe em algo desconhecido? Coisas horrendas.

Sério! Eu já tinha ouvido falar da "magia dos livros", mas nunca levei a sério. Sempre achei que "navegar na internet" fosse só um modo de falar, mas descobri da pior maneira que pode ser mais literal do que se imagina.

Minha irmã e eu estávamos em uma biblioteca. A bibliotecária Marina sempre nos dava bom dia quando íamos lá.

Havíamos ido fazer a pesquisa sobre a Primeira Guerra Mundial, Karoline estava bem mais interessada do que eu, admito. Pegamos quatro exemplares na seção de História e levamos à área de leitura. Karoline se sentou com os livros no sofá, e eu me ajustei em frente ao computador que ficava ao lado da mesinha dali.

– Não perca tempo aí – alertou ela.

Eu apenas assenti. Ela odiava que eu mexesse em qualquer coisa relacionada à informática quando tínhamos de estudar ou fazer trabalhos.

Encarei o monitor, aproximei de mim o teclado e digitei no Google o título da pesquisa. Abri três guias. Acidentalmente, meu dedo pressionou a tecla W e vários resultados instantâneos apareceram. Já ia apagar, mas um resultado específico me chamou atenção. "Wattpad – livros gratuitos" dizia o anúncio. Decidi clicar.

Fui redirecionado a um site com um template laranja-vivo. Resolvi criar uma conta. Apareceram logo vários e-books, destaques. Devo ter lido o título de um muito rápido, porque Karoline apareceu ao meu lado bufando de raiva.

– Eu não sabia que a Primeira Guerra falava sobre... – sarcástica, ela leu a sinopse de um dos livros – "Beijar, morder e..." – ela ficou boquiaberta com a palavra seguinte. – Brendo!

– Só estou vendo! – me defendi. –Não vai levar muito tempo!

– Eu devia ter vindo sozinha! Você nunca faz nada! Devia ser mais intelectual.

– Esse aí e meu segundo nome, minha chapa! – brinquei.

Sua cara de raiva mostrou que ela não curtiu muito.

– Fecha isso! – mandou, levando a mão ao mouse e quase fechando a janela.

Eu a interrompi, antes de prosseguir:

– São livros, garota!

– Bobeiras na internet não são livros!

Comecei a me preocupar com o barulho. Iriam nos expulsar dali, com certeza. Brigamos mais um pouco antes de vermos algo absurdo. A tela brilhou fortemente, nos assustando. Imagine que contamos até três. Um: a luz literalmente saiu do monitor e tornou tudo ao nosso redor um vácuo branco. Dois: uma água nos banhou e congelamos como um super slow motion. Três: fomos sugados para dentro da tela.

***

Acordamos em um piso branco. Estranho, havia ali milhares de manequins brancos, andando de lá para cá. Pareciam-me preocupados com algo. Homens cinzentos e sem face, com sprays, pranchetas e pincéis na mão foram até dois desses manequins. Olharam a prancheta e logo pintaram os bonecos – estes foram de peças brancas a um homem e uma mulher, muito bonitos. Uma porta branca apareceu inexplicavelmente à sua frente e eles entraram, sumindo ali.

Karoline começou a gritar desesperada. Tentei acalmá-la, mas era impossível, ela não calava a boca. Preocupei-me quando um homem de manto se aproximou de nós.

– Adiam bublhano – foram suas confusas palavras.

Entreolhei-me com minha irmã, que se acalmava e me olhava confusa.

– Nos ajude. Estamos perdidos. Que lugar é esse? – perguntei, forçando calma.

O homem me olhou confuso. Levantou sua mão, e logo minhas palavras viraram uns e zeros e entraram nele – meu estômago embrulhou. Vários outros números surgiram e, enfim, ele entendeu.

– Olá, me chamo Watt Sir – sua voz saiu mecânica. Era como se ele tivesse feito uma mágica de tradução.

– Que lugar é esse? – Karoline perguntou.

Ele a encarou.

– Aqui é o Wattpad, uma rede online de leitura.

Senti minha pressão baixar. Estávamos dentro do site!

– Como saímos daqui? Como? – perguntei. – Eu estava apenas olhando e do nada houve uma luz e água e... Estamos aqui! Como?

Minha voz saiu desesperada. Ele pareceu pensar sobre.

– Então vocês foram os escolhidos! Vamos, precisamos de sua ajuda!

– Espera! – falei. – Somos o quê?

Ele me olhou e nos convidou a andar. O seguimos. Watt Sir nos explicou sobre o vilão que assombrava seu mundo: Domins Plagius. "Ou Plágio, somente", explicou. "Aquele maldito nos assombra. Os Usuários, que são nossos hóspedes, escrevem boas histórias, mas Plágio adora influenciar outros a copiá-las. Tendo assim um exército, os chamamos de Plagiadores."

Eles procuravam quem pudesse os ajudar: e fomos nós.

Watt Sir nos disse que os Ocos – os manequins que vimos – esperam uma vida toda até que sejam chamados para se tornarem personagens, e então moram em páginas de livros. Os homens sem face eram chamados de Makers. Era isso que acontecia do outro lado da tela enquanto alguém escrevia um livro.

Ele também falou que, para voltar para casa, precisaríamos do Logout Pass, um item mágico que estava em posse de Plágio. Watt Sir não esperou. Deu-nos instruções de como chamar plágio e também dois anéis.

– Para banir plágio do Wattpad, vocês deverão se unir. Juntos derrotam qualquer coisa.

Não tardou para o fazermos. Fomos até um local chamado White Page, uma sala branca. Assim que uma letra surgiu, Plágio veio junto com ela. Ele se assustou ao nos ver, mas não dialogou. Não nos deixaria o impedir. Lançou-nos vários jatos negros de tinta, e desviamos várias vezes. No terceiro, Karoline teve a má sorte de ser atingida na perna. "Queima", ela gritava. Tentamos o acertar, mas ele sumia e se projetava noutro lugar.

Quando tentei usar o anel, uma faísca azul saiu dele, nada mais. Minha irmã e eu, então, decidimos não perder tempo. Chutávamos, socávamos, mas nada destruía Plágio. Ele estalou os dedos e seu exército apareceu.

– Plagiadores, cuidem deles! – ordenou.

Já era. Estávamos perdidos... Ou não. Pensei sobre o que o "trabalhar juntos" de Watt Sir significava. Então pedi a mão à Karoline. Apertamos e logo um raio imenso azul saiu dos anéis e foi em direção à Plágio. Ele berrou um não altíssimo e sumiu com um flash, bem como seu exército. Havíamos ganhado.

Abracei minha irmã quando vimos um botão amarelo e retangular, maior que nós dois, aparecer em nossa frente. Watt Sir nos levou até ele. Demos adeus e tocamos o botão. Estávamos sumindo. Viramos ar, literalmente. Nossos anéis se dissiparam em um flash colorido.

Quando a luz nos devolveu novamente para a biblioteca, festejamos e nos abraçamos. Marina apareceu irritadíssima. Tivemos que enrolá-la e aturar seus sermões sobre silêncio na biblioteca.

Depois do choque, nós tentamos, mas... Nunca mais conseguimos voltar ao Wattpad.  

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