A Jornada

O Salvamento

Daneizah encostou-se à árvore com um suspiro. Tinha acabado de ter um treino intensivo mas valera a pena porque agora já conseguia manejar a espada como se fosse a continuação do seu braço. Tirou os seus cabelos brancos, que se colavam à sua face devido ao suor, da frente da cara e olhou para o céu. Como de costume o tempo estava cinzento e várias nuvens negras agrupavam-se no céu como se ameaçassem cair em cima da cidade a qualquer momento. Ainda com os longos cabelos na mão, a elfa olhou para o branco que os preenchia.

Porque tinha de ser assim? Porque é que o seu cabelo tinha de ser branco quando todos os habitantes da Cidade de Ferro os tinham pretos? Isso tornara-a um alvo de agressões quando era mais nova mas agora, que aprendera a defender-se, eram pouco frequentes, embora ainda ocorressem de vez em quando.

Um som de cascos de cavalo fez com que a rapariga rodeasse as suas orelhas pontiagudas com as mãos na tentativa de ouvir melhor.

Os cavalos eram animais pouco habituais na cidade. Era por isso que era tão estranho ouvir aquele barulho e Daneizah compreendeu logo que eram estrangeiros. Levantou-se de um salto e correu ofegante até às ruas da cidade pisando flores murchas, saltando vedações de metal negro com uma velocidade e agilidade felina, quase tropeçando em ratazanas gordas e horríveis e chocando várias vezes contra algumas pessoas, às quais virava costas ignorando as repreensões delas, até que um guerreiro da guarda pessoal do rei Willist lhe agarrou o braço quando ela tentava fugir depois de chocar contra ele.

-Não sabes ver por onde andas, sua miúda de um raio?! – exclamou o elfo ao agarrá-la pelos braços, fazendo com que a rapariga encolhesse os ombros por causa da força que ele exercia e que ameaçava partir-lhe os ossos. – Tenho de te ensinar boas-maneiras?

-Não te dês ao trabalho com isso. – cuspiu ela com uma voz desafiadora – Parece-me que quem precisa de boas-maneiras aqui és tu.

E ao dar-lhe esta última resposta, deu-lhe um valente pontapé no meio das pernas, que fez com que o homem se curvasse e diminuísse a força do seu aperto. Depois, a rapariga, curvou-se e deu-lhe uma cotovelada que lhe partiu o nariz com um som crocante e o deixou virado de lado. Aí a força das mãos do guerreiro cessaram e ela aproveitou para fugir, deixando o elfo agarrado com uma mão ao local do pontapé e com a outra ao alvo da cotovelada.

Daneizah continuou a correr pelo meio das pessoas, que se aglomeravam à volta da estrada principal de tal maneira que mal via por onde ia, pisando pés e empurrando braços ao calhas. Quando finalmente conseguiu chegar à beira da estrada, depois de empurrar uma elfa para o lado, conseguiu ver a que se devia o barulho de cascos. Vários cavalos pretos desfilavam graciosamente presos uns aos outros por correias de pele castanha escura. Puxavam uma carruagem com duas janelas, uma de cada lado, e dessas janelas olhavam para o exterio, três elfos negros. Um desses elfos era uma mulher com um longo cabelo preto encaracolado que lhe caía pelos ombros esguios. Essa era a única dos três que olhava pela janela do lado onde Daneizah se encontrava e a rapariga não conseguiu ver os outros devido à distância e então decidiu seguir a carruagem até ao seu destino.

Voltou a meter-se pelo meio da multidão e começou a caminhar a par dos cavalos negros e, embora não conseguisse ver bem o caminho que a carruagem seguia, conseguia ver um bocado do topo da pequena divisão e, para além disso, conhecia as estradas da Cidade de Ferro melhor que a palma da sua mão.

Quando os cavalos pararam em frente ao palácio do rei, Daneizah viu finalmente os outros elfos e ficou especada a olhar para eles.

O primeiro a sair tinha cabelo preto, liso e orgulhosamente comprido. Usava um casaco de peles preto que estava preso apenas por uma mola na gola por baixo do pescoço, deixando o resto esboaçar à vontade do vento e mostrando o seu tronco musculado que fez a rapariga suster a respiração e morder o lábio. Tinha vestido umas calças igualmente pretas e calçava uns sapatos também pretos.