" - Adeus, Laila- falou Aiden com um sussurro, enquanto distanciava-se do abrigo improvisado.
Em questão de segundos, a tempestade de neve alastrou-se ao redor da pequena barraca, e a ruiva soube que o que havia feito não tinha mais volta.
Ele tinha dado a vida para que ela pudesse cumprir a missão, e esse ato de nobreza nunca seria esquecido.
Um pouco longe de lá, seu herói deu o último suspiro, e logo depois se perdeu na imensidão congelada..."
Ai. Meu. Deus.
Isso realmente aconteceu?
Juliana Castanheira, maldita seja você por matar meu personagem favorito!
Fechei os olhos com força e gritei mentalmente o quanto eu queria mudar aquela história. Pus todas as minhas forças naquilo, mesmo que soubesse que não adiantaria nada.
Mas o quê...?!
Quando os abri, meu quarto tinha sumido.
***
Estava num enorme salão, pintado em tons de cinza escuro e branco perolado. Minha cabeça rodava, e eu definitivamente não me encontrava em perfeita consciência.
Olhei ao meu redor. O amplo local ramificava-se em vinte e duas (sim, eu contei) portas, cada uma com um gênero literário escrito em sua arcada. Os estilos de letra variavam de porta em porta, assim como suas cores e as pessoas -ou coisas- que entravam e saiam por elas.
- Ora, ora, ora- falou uma voz atrás de mim- se não é uma humana... O que deseja, minha querida wattpadiana?
Virei-me até encontrar o foco das palavras que escutava. Tratava-se de uma mulher baixinha e de óculos, que tinha uma cara de poucos amigos e segurava uma pilha enorme de livros, sem parecer fazer nenhum esforço.
- Bem- pigarreei- não sei como vim parar aqui, para início de conversa...
- Seu coração deseja que algo seja feito- ela me interrompeu- sua vontade de mudar a história foi tão intensa que te permitiu adentrar em nosso mundo, detrás dos livros, entre as linhas.
Por um breve momento, permaneci estática com aquela informação. Certo, eu realmente queria mudar o livro da Ju, mas isso não faz sentido!
- E agora?
- Ande até aquele computador e digite o nome da história e o capítulo que você pretende alterar. Não deveria permitir isso, mas sei que não sairá daqui até fazê-lo- apontou para uma enorme tela, que ficava do outro lado da sala.
- Mas e a Júlia? Ela não vai me reconhecer?
- Não subestime a Plataforma, querida. Apenas vá- disse, logo se retirando com passadas curtas e um tilintar irritante dos saltos em contato com o chão.
Levantei cambaleante e chequei se estava inteira. Um anel em forma de W estava posto em meu dedo anelar esquerdo. Ao apertá-lo, avistei apenas uma frase: "Controle contra possíveis riscos e/ou extraviamentos".
Estranho. O que seriam riscos?
Eu que não queria descobrir.
Rapidamente andei até o enorme monitor, que tocava uma melodia quase imperceptível. Sentei na poltrona acolchoada e logo tratei de buscar a fatídica história.
"Yander, capítulo trinta e cinco".
Assim que apertei o botão de enter, o murmurinho baixo do salão foi substituído por comentários no livro de minha amiga, dos mais fofos até aqueles que nem quero citar em palavras. As frases confundiam-se na minha cabeça, e letras –isso, as do alfabeto- enroscavam-se em mim num frenesi caótico e confuso. Quando achei que não fosse aguentar mais, o barulho cessou, e a escuridão foi substituída por um céu cinzento e tempestuoso.
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Entre Linhas
Short StorySou Camila Melo, uma pacata utilizadora da Plataforma Wattpadiana. Numa vida tão monótona e comum, não esperamos viver nenhuma grande aventura, certo? Mas se a realidade te pregasse uma peça? Se você fosse sugado para dentro do lugar mais chei...