"Loving him was red..."

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Não conseguia entender o porquê minha mãe tinha que me mandar morar com aquela família. Eu estava pouco me fodendo se era a família da melhor amiga dela ou não, o fato era que todos eles formavam um bando de loucos. Sinceramente, minha mãe espera o quê? Que tudo fique em perfeito estado me obrigando a fazer uma coisa dessas? Não era muito mais simples ter me emancipado e me deixado morar sozinho, sei lá, alguma coisa desse tipo. Morar com meu pai estava fora de cogitação, ambos sabíamos disso, mas... Morar com a melhor amiga dela? Não bastava ter de aguentar aquela família por todas as minhas férias? Quando não vínhamos para cá, eles iam para lá nos visitar. Era realmente estranho. Tudo bem, eu tinha de admitir que Maggie fosse bastante legal e seu marido também, assim como o filho mais velho Ethan - ele era um ano mais velho que eu. O problema era que havia também Ally - a garota mais insuportável que eu já havia conhecido. Quer dizer, ela era aquele tipo de garota que dá chilique por uma unha quebrada e não suportava esse tipo de coisas. Havia esquecido quantas vezes havíamos brigado durante as férias. Era ódio mutuo, sabia perfeitamente disso. Além da rainha irritante, tinha também a filha mais nova Emma - não tinha nada contra essa, mas também não gostava de crianças. Problemáticos, era isso que todos eles eram sem nenhuma exceção. Ainda não tinha me caído a ficha de que iria morar com eles durante um ano inteiro ou talvez mais - se minha mãe decidisse fazer mais um ano de serviço voluntário na África. Achava super legal da parte dela e sempre dei a maior força, mas, caralho, precisava mesmo me mandar para o hospício? Para confirmar toda a minha teoria de que eles eram malucos, lá estava Maggie com uma placa toda colorida com o meu nome escrito e eu podia ver a purpurina nas letras do portão de desembarque, brilhava mais que o próprio sol. Respirei fundo, porque minha mãe faria um massacre do meu corpo e daria para os cachorros comerem - como naquele caso que havia visto na televisão sobre um jogador de futebol ou alguma coisa assim - se eu não fosse educado, gentil e essas coisas todas. Puxei mais a minha mochila de mão para cima do ombro e continuei andando na direção da mulher e da criança que tinham vindo me buscar no aeroporto. Ambas sorriram abertamente para mim, demonstrando toda a felicidade de me ver.
- Evan! - gritou Maggie acenando freneticamente. Levantei a mão brevemente, abaixei a cabeça sentindo-me envergonhado.
- E aí. - cumprimentei assim que estava próximo o suficiente para que ambas escutassem, forcei um sorriso educado.
- Evan, querido! Finalmente. - sorriu Maggie - Achamos que você tivesse perdido o avião, sabe, por causa do atraso. - disse.
- Ah, não. Eu só acabei dormindo e quem me acordou foi a aeromoça. - menti. Não podia falar que perdi o máximo de tempo possível dentro do avião de propósito, apenas para evitar aquela chegada. Eu gostava de Boston, não queria sair de lá, por mais que Londres fosse uma cidade maravilhosa e tudo mais. Havia deixado todos os meus amigos para trás, todas as minhas garotas - isso foi realmente complicado. Mas tinha planos de visitá-los em breve, se tudo acontecesse como queria.
- Bom, então vamos pegar as suas malas e ir para casa. - Maggie abriu mais ainda o sorriso e Emma imitou o gesto da mãe.
- Claro.
Tive de controlar um suspiro que escapou por minha boca. Sem saber exatamente como agir, apenas sorri novamente e girei nos calcanhares caminhando em direção à esteira de malas. Havia poucas malas na esteira e as minhas duas malas - sim, havia apenas duas malas para o ano todo - estavam rodando bem escandalosas por ali. Minha mãe gostava de coisas exageradas e aquelas malas azul elétrico eram a prova viva disso. Peguei minhas malas sem nenhuma dificuldade e apesar disso Maggie insistiu para carregar uma delas. Andamos até o carro, enquanto eu respondia um interrogatório sobre tudo que se podiam imaginar, as maiorias das perguntas eram sobre mamãe. No caminho para a casa que eu realmente não conhecia, porque eles tinham acabado de se mudar, não foi tão complicado quanto imaginei. Elas me deixaram em paz e isso foi realmente bom, poder ficar com meus próprios pensamentos. Silêncio era uma coisa que realmente apreciava. Tudo parecia estar tão confuso em minha mente que era até difícil ficar pensando. De qualquer maneira, meus pensamentos foram interrompidos no momento em que chegamos a casa. Cara, eu gostava muito mais da antiga casa. Não parecia aquelas casas de filmes e nem nada do tipo, era só uma casa. Essa era... Uma mansão. É não tinha palavra melhor. Quer dizer, eu morava em apartamento e mudar para uma casa tão grande como aquela era... Uma mudança e tanto.
- É um pouco maior que a antiga. - disse Maggie assim que percebeu o meu olhar arregalado sobre a enorme casa em frente.
- Um pouco? - repeti, arqueando uma sobrancelha e deixando toda a ironia transparecer na fala. Emma soltou uma risada alta, chamando a minha atenção pela primeira vez. A encarei, ainda com a sobrancelha erguida.
- Você não é o único que não gosta da casa. - ela deu de ombros, falando como se fosse uma adulta ou algo assim.
- Ah sim, sim. - concordou Maggie - Evan também não gosta muito. - e soltou um suspiro, como se sentisse culpada.
- Aé? - perguntei, olhando para Emma de forma maléfica - Na verdade, eu gosto bastante da casa. - sarcasmo, bem-vindo.
- Vamos entrar.
E agarrando mais firme minha mala, segui Maggie e Emma para dentro da casa que era, na verdade, um pouco menor do que parecia. A decoração era bem simples e ainda assim elegante - bom, pelo menos eu achava que sim. De qualquer forma, ignoramos todos os cômodos e subimos a grande escadaria que daria ao segundo andar e percorremos um corredor grande com várias portas. Paramos na penúltima porta, que estava entreaberta e entramos. Aquele seria o meu quarto.
- Não sabíamos o que fazer com a decoração, porque bom... Não sabíamos das coisas que você gosta e tudo mais, então basicamente deixamos Evan fazer alguns ajustes. Se você não gostar, pode mudar. - tagarelou Maggie apreensiva.
Olhei ao redor e analisei as paredes. As paredes eram pintadas de um verde oliva fraquinhas - não sabia o nome verdadeiro daquela cor. Espalhadas pelas paredes tinham alguns quadros - daqueles de cinema anunciando filmes. Eram quadros consecutivamente dos filmes: Guerra nas Estrelas, De Volta Para o Futuro e E.T. Sorri para o quadro do filme E.T, O Extraterreste, lembrando que havia comentado que era um dos meus filmes favoritos. Além dos pôsteres de filmes havia os de bandas e lá novamente estavam as minhas favoritas: Bruce Springsteen, The Beatles, The E-Street Band e The Who. Não havia absolutamente nada que quisesse mudar naquele quarto, ele estava perfeito para mim.
- Não, está ótimo. - comentei depois que notei que havia as deixado no vácuo - Obrigado mesmo. - agradeci contente.
- Que bom que gostou. - respondeu ela -Evan, se você não se importa, eu preciso mesmo ir trabalhar. Então...
- Não, tudo bem. Eu me viro. - me apressei em dizer assim que percebi que já estava empacando a vida das pessoas.
- Eu mostro a casa para ele, mãe. - Emma falou outra vez e toda vez que ouvia a sua voz me assustava, ela era tão quieta.
- Obrigada, querida. - Maggie deu um beijo no topo da cabeça da filha - Ok. Se comportem e não coloquem fogo na casa!
- Se colocarmos, o sistema de incêndio dá um jeito. - Emma revirou os olhos, arrancando uma risada minha.
Maggie revirou os olhos, olhou mais uma vez ao redor para ver se podia fazer mais alguma coisa por mim e então com um suspiro e um sorriso, deu as costas e deixou o quarto. Então estávamos apenas Emma e eu, e isso me assustava um pouco.
- Quer mesmo que eu te mostre a casa? - ela perguntou assim que se certificou que estávamos sozinhos.
- Não. - neguei imediatamente - Vou arrumar as minhas coisas e tomar um banho, talvez dormir. - dei de ombros.
- Ótimo, assim posso voltar para o meu livro. - disse ela sorrindo abertamente e dando as costas.
10 anos de idade? Crianças eram criaturinhas complicadas de entender.
Então com outro suspiro, desistindo de tentar entender essa família, me pus a arrumar minhas roupas no pequeno closet que tinha no quarto e depois disso, tomei um longo banho, me jogando na cama com meu iPod e assim se resumiu toda a minha tarde. Fiquei deitado na cama, encarando o teto e esperando o sol finalmente baixar. O que não demorou excessivamente para acontecer. Depois de ver que o céu estava finalmente ficando roxo, levantei da cama e fui para o meu próprio banheiro - um dos benefícios que mais adorei naquele quarto. Além, é claro, de ter uma televisão só para mim. Tomei um banho não muito demorado e me sequei, jogando a toalha de qualquer jeito pelo banheiro - porque ele era só meu. Vesti uma calça jeans e um moletom cinza e calcei meus tênis Vans, finalmente deixando o quarto e indo "conhecer" a casa. Assim que desci as escadas percebi que Emma estava deitada no sofá da sala com um livro chamado Harry Potter. Sem me importar em parar para conversar ou qualquer coisa desse tipo, passei reto e entrei no primeiro cômodo que me levaria para a cozinha. Era uma cozinha bem mobiliada e do tipo americana, com outra passagem para um pequeno corredor, que descobri que dava na lavanderia. E em uma porta para o quintal, que era enorme e tinha piscina, havia uma pequena casa na piscina, pelo que pude notar. Fiz uma careta impressionada e voltei para dentro a fim de atender ao pedido desesperado de comida do meu estômago. Fui direto até a geladeira e olhei o que tinha por lá, acabando pegando um copo de suco e alguns ingredientes para fazer um sanduíche, só precisava saber onde eles guardavam o pão. Sem me importar, fui simplesmente abrindo as portas do armário até finalmente encontrá-lo. Coloquei tudo sobre a bancada e fiz um sanduíche de peito de peru - já que era o que tinha na geladeira. Guardei tudo em seu devido lugar e me escorei na bancada para comer. Tinha acabado de dar a primeira dentada, quando ouvi a porta da frente bater e algumas vozes animadas soarem da sala. Alguém havia chegado - ah vá - pensei comigo mesmo.
- Ah, eu estou com tanta fome. - ouvi aquela conhecida voz feminina soar alto e então alguns passos apressados na direção da cozinha. Ally entrou tão afobada na direção da geladeira que provavelmente não notou a minha presença, ao contrário de mim, que não consegui desviar os olhos. Aquela não podia ser a mesma garota que havia visto no verão passado, porque essa garota tinha mechas coloridas nas pontas dos compridos e ondulados cabelos loiros claríssimos. Ela os tinha preso para trás com um laço vermelho que combinava tanto com as mechas quanto com o uniforme de líder de torcida que usava - que era das vermelhas e azuis. Ally jamais pintaria os cabelos de o quê... Umas 5 cores diferentes?
- Gostei do cabelo novo. - falei alto o suficiente para assustá-la.
Ally deu um pequeno pulinho e virou para me encarar com a caixa de leite tremendo em suas mãos. Sua expressão serena logo passou a uma carranca mal-humorada. Ela me encarou de cima a baixo e fez uma careta de desinteresse.
- Ah, você está aí. - foi tudo que se limitou a dizer, revirando os olhos e andou até o armário, pegando uma tigela e uma caixa de cereais - Achei que não tinha chegado, pensei até que o destino seria agradável e derrubaria o seu avião - irônica.
- Claro. - concordei com um aceno de cabeça - Você tem toda a razão, porque matar dezenas de pessoas por minha causa é completamente normal. - debochei e dei outra mordida no meu sanduiche, comendo da forma mais debochada possível.
- Sinceramente? Você não vale a pena. - e com um sorriso nos lábios, Ally guardou as coisas, pegou a tigela e saiu da cozinha andando daquela forma que sempre andava. Por que essa garota tinha de mexer tanto os quadris para caminhar?!
Suspirei e, pegando meu copo de suco, deixei a cozinha. Jogado no sofá com uniforme do time de futebol, estava Ethan.
- Evan! - disse ele animado assim que notou minha presença - Você já chegou, cara. Por isso a cara da Ally. - riu ele. Emma suspirou.
- Silêncio, por favor - pediu ela, olhando para nós e para o seu livro.
- Em que parte você está, pirralha? - perguntou Ethan, sorrindo maldosamente para mim.
- Harry foi impedir Snape de roubar a pedra filosofal. Estão jogando xadrez bruxo. - falou ela, excitada.
- Não é o Snape, é o professor Quirreal que está, digamos que possuído por Voldemort - contou ele, fazendo-a ofegar.
- Você me contou o final! Não acredito nisso - brigou Emma indignada - Seu chato! - e fechando o livro com força, levantou e saiu batendo os pés e andando da mesma forma que a irmã mais velha quando ficava irritada. Revirei os olhos, incrédulo.
- Ela é igualzinha a Ally. - comentei.
- Você não viu nada ainda. - Ethan piscou para mim.
- Acho que não quero ver. - brinquei e ele soltou um riso breve - Falando nisso, o que deu na Ally? Você sabe... O cabelo.
- Ah, isso. - Ethan não parecia muito animado para continuar com o assunto - Ela meio que pirou, eu acho. - deu de ombros.
- Por quê? - perguntei curioso.
- Sei lá, Dylan O'Brien acabou com ela e bem, acho que ela meio que surtou, sabe? Você tinha que ter visto, virou um zumbi praticamente. Pintou os cabelos todo de colorido e se vestia feito uma drogada, sei lá. Demorou um pouco, mas ela está voltando ao normal... Acho que gostou de ter alguma cor no cabelo, porque quando voltou a ficar loira fez aquelas mechas coloridas. Ela não gosta de falar sobre isso, então não falamos. Acho que foi coração partido e essas coisas. - disse ele.
- Ah... - Foi tudo que consegui dizer, porque não conseguia entender muito bem o que aquilo queria dizer. A única coisa que entendi foi que Ally realmente devia amar esse tal de Dylan O'Brien para ter surtado como Ethan estava falando. Conhecia-a desde criança para saber que quase nada abalava a fachada indestrutível de Ally Brooke. Sabia muito bem...

R.E.DOnde histórias criam vida. Descubra agora