Capítulo 1

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A luz do sol penetrava brutamente os olhos de Tristan, assim que a sensação de queimação aumentou, espreguiçou-se e foi até o banheiro fazer o que todos costumam fazer.

Sua calça de moletom arrastava no chão, não era fácil ser alto, ou as roupas eram curtas de mais ou longas de mais, o que importava é que eram confortáveis.

Olhou-se no espelho, inspirou e expirou profundamente. Pensava o porquê de sua mãe ter concordado com seu pai de colocá-lo naquela prisão, não havia feito nada de extremo, pelo que lembrava. Pelo menos podia contar com Brad que estava ali há algum tempo e podia ensina-lo a se acostumar com essa vida nova.

Ouviu um barulho de cama rangendo, era Brad, que logo depois entrou de súbito no banheiro.

- Oh me desculpa, por um momento esqueci que você estava aqui - disse Brad com certo brilho nos olhos ao ver Tristan.

O louro agradeceu a compreensão e terminou o que tinha de fazer. Assim que acabou os garotos ouviram batidas fortes na porta, Bradley desesperou-se, Tristan não entendeu. Um militar abriu a porta:

= Estou aqui para entregar a rotina de Tristan Evans - disse gritando e olhando para tudo ao seu redor, tentando achar algo errado para que possa punir alguém.

- É, sou eu – diz Tristan pegando o papel, olhando o homem se retirar do quarto.

Nele estava escrito que todos os garotos hospedados naquele edifício deveriam acordar no máximo até ás 07h30min da manhã, mesmo nos fins de semana, quando os pais vinham buscar seus filhos para folga. Logo depois deveriam se dirigir ao refeitório para se alimentar com um cereal e uma proteína, nada mais do que isso, para em seguida começarem as tarefas de estudantes.

Eram muitas informações para Tristan, aquilo tudo o deixou um pouco tonto, imaginava como Bradley conseguia lidar com aquilo há tanto tempo e ainda ler tantos livros quanto aqueles no canto do quarto.

Como de costume o garoto dos olhos azuis observava tudo a sua volta, inclusive cada detalhe do acordar do companheiro de hospedagem. Observou-o pentear cada cacho de seus cabelos, separar seus livros escolares e o seu romance diário, observou-o suspirar e dizer algumas palavras que não conseguia identificar, um acordar tão simples e singelo que era de se admirar.

Brad estava com pressa, acabou se atrasando por ter ido se deitar tão tarde da noite. Depois de separar seus materiais e colocar seu uniforme, uma espécie de farda militar, que em sua opinião era extremamente desconfortável, parou para ler alguns capítulos de seu clássico enquanto esperava Tristan vestir-se.

O novato parecia inseguro em usar aquele tipo de vestimenta, sem contar que o tamanho das roupas estava visivelmente menor do que o adequado. Assim que os dois estavam prontos desceram correndo para o refeitório, antes que qualquer ameaça de punição seja feita por algum mestre.

Chegando lá o cacheado sentou-se em uma mesa cheia de, nos olhos de Tristan, pessoas intelectuais de mais para ele, mas sem reclamar se acomodou ao seu lado. No cardápio do dia havia nada mais e nada menos do que uma tigela de mingau de aveia, para muitos um prato nutritivo, para eles algum tipo de gosma desnecessária para o planeta Terra.

- Eu sou mesmo obrigado a comer esse espirro de godzilla? – diz Tristan e Bradley ri sarcasticamente.

- Obrigado não, mas se deixar de comer vai passar fome.

Tristan estranha a grosseria do companheiro, mas releva e percebe que deve mesmo comer o mingau, sendo bom ou ruim.

A primeira aula de Tristan não foi uma das melhores de sua vida, todos seus colegas de classe pareciam robôs, nenhum se mexia ou falava algo sem permissão. Pensava no que poderia ser a punição do colégio, para tantos garotos serem manipulados daquela maneira?

Aula de matemática finalizada, em seguida seria de filosofia, aparentemente a que Bradley mais amava, Tristan não via graça em todas aquelas teorias sem sentido, na verdade não via graça em estudar tudo no geral. O professor era de aparência calma, porém passava aspecto de firmeza a todos que o observavam.

- Bom dia meninos. – disse – Hoje vamos comentar sobre o famigerado amor.

Alguns alunos bufam, outros suspiram, Brad abaixa a cabeça e sussurra algumas palavras que Tristan novamente não identifica. A reação do louro não foi diferente da maioria dos garotos, pois nunca havia amado alguém antes.

- De acordo com a filosofia o amor é harmonia e união dos contrários, é atração ordenada dos opostos, é desejo de unidade e indivisão. No amor buscamos o ser complementar. Amamos o que nos completa, na busca do pleno preenchimento e da perfeição. A vida sem amor é uma vida sem sentido.

Bradley por impulso de algum tipo de instinto sente necessidade de olhar para Tristan e obervar sua beleza impactante novamente, e quando menos espera percebe que o mesmo está olhando de volta. Brad sente seu rosto queimar, provavelmente estava vermelho, mas não se importou apenas continuou olhando, do mesmo jeito que Tristan olhava de volta.

O tempo havia parado de um modo que nada a volta dos garotos importava. Nenhum dos dois tinha sentido algo parecido antes, não sabiam denominar tal sentimento, só sabiam que era bem maior do que se podia imaginar.

...

As aulas do dia finalmente acabaram, junto com o romance de Bradley, cujo Tristan não aguentava mais ouvir sobre, mas não ousava reclamar já que a voz do cacheado era um calmante para seus ouvidos.

- Juro que essa é a enésima vez que leio e continuo amando cada frase disso – diz chacoalhando o exemplar que ganhou de sua mãe um pouco antes de ser matriculado.

- Nunca consegui ler um livro inteiro na minha vida – Tristan diz e ri – espero que você um dia me indique um que possa mudar isso.

- Com certeza posso você vai amar Orgulho e Preconceito. É meu livro preferido – indaga Brad animadíssimo.

Tristan se encanta com a felicidade do garoto e espera que ele pegue o livro para empresta-lo.

O dia não foi nada comum para nenhum dos dois, talvez daqui em diante nenhum dia seja comum, pois cada um não entendia, mas sentia algo diferente um pelo outro, uma coisa inexplicável, incandescente e incontrolável.

Seria amor? Provavelmente não, é muito cedo para denominar esse sentimento com um nome tão forte quanto amor. Os garotos sentiam algo tão grande e impressionantemente parecido com o sentimento do amor, mas era proibida, qualquer relação mais forte com alguém no Colégio, principalmente uma relação gay cujo nenhum dos dois havia tido anteriormente em suas vidas.

Tudo passava como um furacão na cabeça de Tristan e Brad, são muitas informações juntamente do medo de se entregar e de não ser correspondido, apesar dos dois sentirem o mesmo isso se ampliava cada vez mais.

Tristan folheia o livro calmamente enquanto sente o olhar do cacheado te penetrar, logo depois o mesmo toca sua mão e a acaricia suavemente. Surpreso, Tristan não expressa muita reação, mas também não se afasta, estava gostando do gesto. Brad sentia-se confortável ao estar fazendo aquilo, parecia algo natural, bonito e singelo, não queria parar.

Os dois se dirigem ao quarto novamente, como no dia anterior. Conversam até se cansarem e caem num sono profundo com a esperança de que o dia seguinte seja melhor do que o anterior e com tanto sentimento quanto o anterior.

Talvez o dia seguinte seria o melhor dia de suas vidas.

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