Entre dois mundos

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"Maria corria contra o tempo"

Meus olhos começaram a fechar.

"Precisava derrota-lo, antes que fosse tarde".

Três semanas e, até aquele momento, não tinha ideia de como terminar meu livro. Meus inscritos esperavam ansiosos pelo fim, enquanto eu arrumava desculpas esfarrapadas.

Duas noites em claro deixaram-me parecendo um zumbi, comecei a adormecer, mas primeiro escrevi:

"Antes de sua adaga perfurar o coração de Monstro, um portal a sugou".

Neste instante algo inesperado puxou-me para a tela do notebook, parecia que eu estava em um redemoinho confuso de palavras, tentei voltar, mas falhei.

A velocidade foi diminuindo, e o chão tocou meus pés, cai de joelhos em um lugar desconhecido.

- Eu consegui! – um menino loiro olhou para mim, pulando de alegria.

- O que está acontecendo? – levantei rápido.

O céu estava claro e limpo, deveria ser de manhã.

Talvez me achassem maluca, mas achei demais estar em um lugar diferente e ter sido sugada por um portal.

- É você mesmo? – o menino tocou em mim, ansioso.

Os traços do rosto dele, os olhos azuis e cabelos loiros... não podia ser ele, mas era.

- Pedro?

- Finalmente você lembrou-se de mim! – ok, eu estava conversando com o namorado da minha personagem.

- Como pode estar aqui?

- Eu te trouxe aqui, na Floresta do Medo!

Fechei os olhos e lembrei.

"Maria e Pedro tentavam fugir enquanto Monstro seguia-os. O exército era forte demais para que conseguissem, mas tentaram, até que a menina sentiu um puxão para trás.

O corpo de Pedro caiu no chão com um baque surdo, ela tentou socorre-lo, mas os guardas pegaram-na."

- Como me teletransportou para cá?

- Longa história...

Maria era realmente eu, física e psicologicamente, até no quesito amor. Pedro era lindo, inteligente e tudo mais, eu realmente queria ficar com ele e esquecer tudo, mas precisava entender o que estava acontecendo.

- Não posso ressuscitar você, Maria vai seguir em frente...

Ele ignorou meu comentário, mas pareceu zangado.

– Você precisa entender que o seu trabalho não é tão fácil quanto pensa. Eu vivo realmente, e até tenho que seguir o roteiro que escreve para mim, mas posso dar meu toque pessoal. Não morri naquela cena toda. Antes que Maria fosse presa ela jogou para mim a poção da ressurreição.

- Isso não pode ser verdade, porque significaria que Maria não salvaria o príncipe e ainda estaria presa.

Ele ergueu uma sobrancelha.

- Isso foi o que aconteceu. Os povos de todos os reinos acreditam que estão sendo controlados por forças maiores. O Rei queria descobrir se isso era verdade, por isso pegou uma Maria falsa e vem a usando no lugar da minha Maria.

Primeiramente, a "Maria" não era de ninguém. Segundamente, meu Deus esse pessoal é inteligente.

- Então a verdadeira continua na cadeia?

- Sim, e só você pode salvá-la.

- Você conseguiu me trazer para cá e não consegue explodir uma prisão?

- Não é tão fácil assim – os olhos dele criaram uma sombra assustadora – eu fui um personagem esquecido por muito tempo, você só citava meu nome nos sonhos de Maria. É horrível, eu não te culpo, sei que achou que eu estava morto. Mas ela acha que a esqueceram, não tem tanta personalidade, pois você que criava isso. Talvez ela esteja espalhando grosseria pelo presídio, porém também pode estar tentando se matar.

Pensei na minha personagem, tentando se cortar. Arrepiei-me.

- Preciso encontra-la.

- Por sorte eu sei onde está.

O trajeto foi longo. Às vezes encontrávamos um personagem sem rosto.

- Quem são essas pessoas? – indaguei – por que parecem tão... "apagadas"?

- Esses são figurantes da história, ninguém liga para eles, não tem nada para contar.

- Como você aprendeu tudo isso? – Ele era inteligente, mas como poderia saber de tudo aquilo?

- Depois que fugi precisei me esconder na fronteira e, por isso, percebi que algumas coisas estranhas aconteciam. Pessoas surgiam do nada. Uma, do outro reino, chegou com um notebook. Disse rapidamente para mim: "Vão me matar, mas, por favor, veja isso!"- Pedro continuou - Entregou-me e consegui me esconder, mas os guardas o prenderam. Dentro daquele aparelho tive acesso a minha história no Wattpad. Você escreve de forma excelente, mas não podia deixar terminar este livro sem que antes soubesse da verdade. Você nem percebeu que algumas coisas escreviam-se sozinhas!.

Ele riu. Uma raiva começou a crescer em mim, mas segurei-me.

- Chegamos – ele apontou para um presídio, que eu lembrava vagamente – agora vai ser fácil, só precisa fingir ser Maria para que te coloquem novamente na cela. Veja ela, diga que vai recriá-la e mostre que se importa.

- Maria, aí está você! – um policial gritou atrás de mim enquanto Pedro se escondia.

Fui algemada e levada até uma cela na qual meu nome estava escrito, depois de fechar a porta uma adaga encostou-se a minha garganta.

- Quem é você? – uma voz igual a minha falou em meu ouvido.

Sentei em uma poltrona e Maria na outra. Ela me encarava enquanto a explicava tudo.

- Então você é a culpada por eu namorar o idiota do Pedro, agora sei por que, de repente, meu ódio virou amor.

- Você sempre gostou dele, mas era insegura demais para afirmar isso...

- Eu nunca quis nada disso! Você escreveu para mim, mas não quero ser você, nem a salvadora desse mundo, nem amar Pedro! Quero fugir, sem me preocupar com os outros.

- Precisa fazer isso. Monstro deveria estar duelando com você agora mesmo.

- Não, não era para ser eu, essa história não pertence a mim, e sim a você – eu ergui uma sobrancelha.

- Talvez tenha pensado em mim quando criei isso, mas não posso fazer isso sozinha, sem poder.

- Bom, desculpe-me, mas agora que não tem controle sobre meu corpo, posso decidir o que fazer – ela levantou.

- Não pode fazer isso, eu nunca deixaria a heroína ser um monstro... – as coisas começaram a fazer sentido. Monstro. A morte de Pedro tão repentinamente em um lugar que só os dois conheciam. Os bons não apoiando as decisões de Maria...

Eu criei o Monstro. Maria era o Monstro. Eu era o Monstro.

Olhei para o meu coração onde havia uma adaga cravada, Maria não estava mais ali.

Sozinha, sem o fim do livro.

Acordei com suor no rosto. Pousado sobre mim, o notebook estava aceso com uma frase.

"Obrigado por nos salvar, o corpo do Monstro foi encontrado dentro da prisão. Maria sumiu, mas acho que eu não gostaria de conversar com ela se não fosse você escrevendo. Ainda posso criar portais, se quiser voltar.

Ass: Pedro."

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⏰ Última atualização: Jun 14, 2016 ⏰

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