Joana, a imortal

Antes do Início - Primeira parte

Um barulho estrondoso ecoou pelas areias do deserto de Tales, o vento soprou forte e densas nuvens negras cobriram toda a planície, trazendo ainda mais escuridão ao fundo da fria caverna. O som metálico dos pássaros de ferro trouxeram consigo um medo que preenchera o coração dos dois amantes escondidos, e o anjo abraçou forte sua amada.

Adriel sentiu a respiração gelar assim que percebeu as poderosas áureas que se aproximavam e seus olhos se voltaram para a encantadora mortal do seu lado. Joana, a mais bela dentre todas as mulheres que já havia conhecido, cabelos loiros como o ouro e um verdadeiro oceano que se escondia na imensidão de seus olhos azuis. Deveriam ter mais tempo.

- Quem é, Adriel? – A jovem sussurrou baixinho no ouvido de seu amado, a quem confiaria a própria vida. Quando aceitou fugir não sabia, no entanto, que aqueles a quem achava ser a família dele seria contra a união. - São seus parentes? Seus irmãos anjos?

- Receio que não minha querida – Beijou-lhe os lábios e passou a mão nos cabelos dourados da bela - venha, está frio.

Acomodou-a em seus fortes braços e a cobriu com seu próprio corpo. Sentiu a pele aveludada encostar na sua, sentiu ternura e uma vontade imensa de ter a conhecido a mais tempo, teria sido diferente. Os passos rápidos de dois seres angelicais traziam o recado da morte que se aproximava, e a voz imponente lhe fazia ter mil pensamentos inúteis de fuga, como poderia protegê-la?

- É ele, não é? - Joana não o olhou nos olhos, permaneceu na posição em que estava, na comodidade dos braços poderosos de Adriel. Sua face, entristecida, apenas admirava o nada na escuridão do esconderijo – É o ser de luz que meus pais falaram. Nós vamos morrer?

- Ei, não fale isso – Adriel também admirava a escuridão, não trazia tristeza em sua voz mas sua áurea estava preenchida de um medo que nunca havia sentido antes – eu prometo que irei te proteger. Eu te coloquei aqui, e juro que vou te tirar, você não vai morrer.

O anjo era um dos generais serafins, a ordem militar de Miguel. Numa de suas cruzadas foi surpreendido por uma jovem camponesa perdida num campo de trigo, deveria tê-la matado mas o olhar puro e a inocência da donzela o fizeram ter compaixão. Polpou a ela e a sua família, escondendo-os num vale e visitando-os regularmente. Sem saber, o anjo estava apaixonado pela mortal, um dos piores crimes que as castas celestiais podem cometer.

Pouco tempo depois, os pais da jovem se revelaram adivinhos, e que eram eles os reais alvos das expedições angelicais. No mesmo dia, revelaram ainda que o anjo deveria ir embora pra todo o sempre, pois a relação dos dois era amaldiçoada. Nessa altura, Joana também estava enlouquecida de amor, e os dois fugiram, contrariando todas as recomendações, mas se Adriel soubesse o que viria a seguir, jamais haveria feito isso.

- Me perdoe amor – Adriel abraçou ainda mais forte e beijou a mão de Joana – perdão por ter deixado que isso acontecesse. Perdão por tê-la deixado correr algum risco. Fui imprudente demais.

- Eu acredito em você, eu sei que irá me proteger - Joana se libertou do caloroso abraço e mesmo sem ver a face do anjo, virou-se para ele e tocou-lhe no rosto – Eu te amo.

A moça deu um longo sorriso, revelado por uma luz intensa que surgiu na entrada da caverna, as trevas e o frio deram espaço ao clarão que aqueceu todo o espaço. A garota viu-se maravilhada com tamanho espetáculo, mas ao tentar ir de encontro com a fonte daquele evento, foi impedida por seu amado, que tomou a sua frente, revelando suas asas e deixando a jovem protegida em suas costas.

- É ele!

A luz baixou, e uma imponente silhueta foi surgindo, com poderosas asas prateadas e uma espada flamejante. O arcanjo Miguel, o mais formidável dos guerreiros, arcanjo da Justiça, munido de sua poderosa armadura de prata e sua espada sagrada, forjada com as chamas do próprio Tártaro, um dos instrumentos mais poderosos de todo o céu. Sua pele, negra como o ébano, refletia o fogo de sua arma, e seus olhos focavam os amantes descobertos.