Aprendendo A Viver

liberdade, chuva e barro.

Lá se vai meu lindo dia, mas não vou me deixar abater com isso não, já basta a noite para me atormentar. Coloco um fone no ouvido e começo a ouvir música, vou a andar um pouco por ai. "Cuide dela" ouço alguem me dizer, mas não há ninguém ao meu lado. Coisa estranha. Estou me sentindo muito tenso então decido ir a um lugar.

• Ester •

"É isso, já estou decidida" digo.
"Mas para onde você vai Ester?" Insiste ele mais uma vez.
"Pai, já te disse que não sei, só sei que vou viver diferente, cansei dessa vida de crente, isso pode até servir para você e pra mamãe, mas não pra mim." por fim acabei dizendo, não dava mais para aguentar. Meu pai olhou nos meus olhos e disse:
"...Mas filha as coisas não são assim, vai jogar tudo pro alto pelo que? Qual seu objetivo filha?"
"Ser feliz." ele me Olha por alguns segundos.
"Me parece que não poderei fazer muita coisa, você já está decidida." ele sai por alguns segundos e retorna com um envelope branco " aqui está o cartão da sua conta no banco, era pra sua faculdade, mas você vai precisar... Deus é para todos, e ele nunca vai te abandonar, apesar de você estar virando as costas para ele, lembre-se disso." diz ele me dando um beijo na testa e liberando a porta para minha saída.
" Eu sei. Te amo pai"
"Também te amo filha. Estarei aqui sempre."

Passei pela porta e saí. Não olho para trás, pois não quero voltar atrás na minha decisão. A sensação de liberdade toma conta, não estou acreditando, estou livre, posso fazer o que eu quiser, nada de advertências ou proibições para me impedir. Preciso ir para algum lugar, mas não tenho pra onde ir, Vou alugar um quarto de hotel. Nossa nunca me imaginei fazendo isso, sempre desejei, mas não sabia que esse momento chegaria. Me sinto responsável e invencível, meu coração dispara só de pensar nas coisas que posso fazer, me sinto poderosa. Na verdade sou livre.
O dia foi cansativo, depois de procurar por horas, enfim achei um quarto de hotel bem aconchegante, os outros eram estranhos e sujos. Esse parece com meu quarto, custou um pouco caro, mas vou dormir bem. É só por essa noite mesmo. Tomei um banho, me deitei e logo apaguei. Estava muito cansada.
O sol nasce e o som de pássaros cantando ecoa no quarto, um freixo de luz passa pela brecha da cortina, o brilho intenso quase me cegou, mas me fez sentir alegria, então abri a janela e deixei o sol entrar de uma vez, bom dia Jesus. Jesus, esse nome me faz lembrar de minha família, será que estão bem? O medo toma conta, será que meus pais estão brigando por minha causa? Ai meu Deus esteja lá! Não deixa que eu estrague o casamento deles. Uma tristeza começa a entrar no meu coração, olho para a janela, dois pássaros brincam no ar, parecem não se preocupam com nada, só voam e cantam. " Quer saber! Serei como um pássaro, cantarei e vou voar por aí alegremente. Fui para o banho, então cantei enquanto me lavava. O banho não demorou muito, então tomei um café, paguei minha diária, garanti mais uma hospedagem e saí para passear. Fui para a parte mais movimentada da cidade, onde havia lojas de roupas, lanchonetes... Comprei muitas roupas e sapatos, estava com algumas sacolas nas mãos.

• Peter •

Andar na rua ouvindo músicas me relaxa, vejo o mundo ao meu redor de um ângulo diferente, como se eu estivesse dentro de um filme onde não há falas, apenas trilhas e ação.
Cada pessoa tem em si algo próprio, percebo isso enquanto admiro toda a movimentação. O homem que está no sol vendendo água de coco, está feliz, cantando com um sorriso no rosto, diferentemente da senhora que acaba de sair do seu carro luxuoso, mal humorada, arrogante com a cara de quem está passando fome a 40 dias. Quanta ironia nesse mundo, os que mais sofrem pra ter o seu ganha pão, são mais felizes do que aqueles que já os tem o seu garantindo. Mas oque posso fazer? Vejo também uma bela menina, perdida em meio a toda movimentação, ela está com bolsas na mão, percebo que em volta dela, um grupo de meninos se organizam para rouba-la, ela tão inocente, ainda não percebeu os rapazes ao redor, então mais que depressa corro em sua direção, um menino rouba a bolsa dela e corre em minha direção, então eu o agarro, e recuperando a bolsa o solto novamente. Ele me encara e corre sendo seguido pelos demais que o acompanhara.
"Você está bem?" pergunto.
"Ai meu DEUS! Que horror." responde ela.