Uma vez, um amigo me disse: "Em cidades pequenas, sempre existem mais lendas urbanas".
E pode ter certeza de uma coisa, nunca uma afirmação como essa, poderia ser mais verdadeira em minha vida... O mistério está presente em todo o mundo. Em todo país, em toda cidade, em todo bairro e até mesmo em todas as escolas. Cada lugar conta com suas próprias lendas de horror. Eu mesmo já escutei muitas histórias sobre bruxas, vampiros, fantasmas, no colégio desafiávamos uns aos outros para ver quem tinha coragem de ir ao ultimo vaso sanitário do banheiro, puxar a descarga três vezes e depois ir para o espelho e chamar a loira do banheiro. Claro que eu cresci com isso, mas nunca acreditei, até quando as lendas despertam do mundo dos pesadelos, e vieram ao meu encalço, para o resto da minha vida, me tirar a Sanidade.
Em um sábado qualquer, com uma manhã feia e acinzentada pelas nuvens de chuva, resolvi fazer uma viagem, para quebrar o tédio que maldosamente estrangulava o meu humor, antes mesmo do dia começar. Como já fiz muitas outras vezes, peguei uma mochila, coloquei poucas roupas dentro dela, conferi minha carteira e vi que ainda tinha algum dinheiro, liguei minha moto, e parti para dentro da estrada sem nenhum destino específico, abandonando por algum tempo a casa alugada que tinha na cidade grande. Antes de chegar na rodovia principal que cortava ao meio a cidade onde morava, já havia decidido meu destino, ia em rumo ao litoral, que é sempre um bom lugar para aproveitar um final de semana ,seja na praia ,seja passeando pelas ruas ou comendo uma boa porção de camarão! Era melhor ter uma boa companhia quando viajasse, mas como eu já sabia que os tempos não eram bons para ninguém, sabia que nenhum amigo meu aceitaria o convite, por isso decidi ir sozinho mesmo.
Já fazia algum tempo em que avançava velozmente em rumo ao litoral em minha moto e pensava o que deveria fazer primeiro ao chegar à cidade no meu destino. Demorei um pouco mais do que esperava, pois tive que parar para almoçar e acabei perdendo mais tempo do que devia, mas para quem estava quase tendo um surto por causa do tédio, de qualquer forma chegando cedo ou tarde não faria muito diferente. Era um fim de tarde típico, e uma brisa gelada batia contra o meu rosto, arranhando carinhosamente minha pele, fazendo com que alguns arrepios de frio percorressem minha face. Estava parado no acostamento, com o capacete segurado pelo braço esquerdo, e tentava ler a placa mal cuidada que indicava em quantos metros deveria pegar a entrada para cidade que eu pretendia ir. Foi então que senti um forte arrepio, que com certeza, não foi causado pela brisa gelada, mas como não havia nada a minha volta, resolvi ignorar o que senti, e após mais alguns minutos tentando decifrar a indicação que a placa fazia, retomei a estrada. Mais algum tempo de viagem se segui até eu entrar numa estrada a esquerda, descer uns duzentos metros de ladeira, e finalmente ver a placa de boas vindas da cidade litorânea chamada "Anglo Ponta Fina". Avancei pela estrada e em pouco tempo já conseguia ver de longe o mar se chocando na areia da praia. Entrando na cidade diminui a velocidade da moto para observar a paisagem. Não tinha quase nada de interessante para ver ali. Simples ruas, com simples mercearias, simples postos de gasolina e pequenas lojas, nada que fosse fora do normal, a não ser por tudo estar fechado. Acelerei, e comecei a reparar que estranhamente a temperatura subia, mesmo há poucos minutos atrás eu ter sentido o frio de uma brisa gelada. Quanto mais avançava cidade adentro, mais a temperatura se elevava e passei a sentir muito calor. Foi então que passando por uma das ruas desertas ao longe avistei um bode preto e chifrudo que vinha em meu caminho, no meio da rua. Decidi diminuir ainda mais a velocidade, e um pouco atrás do bode, vinha um garoto de bicicleta.
O menino estava sem camisa, típico de moradores de cidades praianas, descalço usando apenas uma bermuda florida e um boné virado para trás, pedalava de forma displicente. O chamei e pedi para indicar alguma pousada onde eu poderia me hospedar. O garoto me explicou o caminho de uma pousada que havia ali perto e me orientou muito bem por qual caminho deveria seguir até lá. Após a pequena troca de diálogos com o único morador que eu avistara em minha chegada, um agradecimento e uma rápida despedida, minha moto ganhou velocidade novamente e parti em direção a pousada, mas não antes de olhar para trás movido por algum impulso de um sentimento desconhecido naquele momento, talvez curiosidade, e ter a nítida impressão de que aquele bode preto e chifrudo ria de mim.
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Contos e Relatos Macabros.
Kurzgeschichten***ANTES DE COMEÇAR A LEITURA, LEIA O PRÓLOGO ***** EXPRESSAMENTE PROIBIDO PARA MENORES DE 18 ANOS. Caro leitor, alguns desses contos abordam temas polêmicos, então se você é uma pessoa que segue, e prega c...