QUATRO | Tessália

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DIAS ATUAIS

Eu já estava na minha terceira caipirinha quando um surto de consciência me atingiu. Fazia uma hora desde que chegara. Uma hora sozinha numa balada cheia de gente estranha, tocando músicas que definitivamente não faziam meu estilo. Essa era a primeira vez que saía à noite sem companhia e agora sabia que tinha sido muito sensato da minha parte não ter feito isso antes. Estava me sentindo o ser mais ridículo do mundo.

Tudo bem que eu não estava ali para me divertir, estava em uma missão: fazer aliados. O único problema era que meus pretendentes a aliados não estavam ali. Flávia tinha razão, essa era a ideia mais maluca que eu já tinha tido. Eu devia ter pensado em um plano mais sólido, algo menos arriscado. Mas, na pressa de completar os passos o mais rapidamente possível, acabei caindo naquela furada.

Já fazia pouco mais de três meses desde que Cauã terminara comigo e eu deveria estar seguindo em frente, certo? Só que eu não estava. E, veja bem, naquele dia, quando decidi seguir O Plano, nós estaríamos completando quatro anos de namoro. Então, não me culpava realmente por ter passado a noite do último domingo inteira remoendo o passado e fuxicando sua vida nas redes sociais. Algumas pessoas podem achar que noventa e seis dias é muito tempo para continuar mal por um término, mas parando para pensar, eu tinha muito mais motivo para ficar na fossa agora do que nos dias que se seguiram a ele.

Na mesma semana em que terminamos, Cauã me enviou a primeira mensagem desde que tínhamos nos visto pela última vez. Ele queria passar na minha casa para pegar suas coisas e, muito relutantemente, eu disse que tudo bem. Naquele dia, tivemos nossa primeira recaída. Depois dessa, várias outras se seguiriam. Eu percebi que, por mais que estivesse magoado, ele ainda me amava tanto quanto eu e por isso continuava voltando. E essa era toda a esperança de que eu precisava para ser feliz novamente.

Até que Cauã começou a postar fotos com amigos que eu não conhecia — com garotas que eu não conhecia. Tirei satisfação uma, duas, três vezes. A gente brigava porque ele dizia que não estávamos mais juntos e eu não tinha nada a ver com o que ele fazia. Depois vinha me pedir desculpas, dizer que não queria me magoar, mas que a gente tinha terminado e eu não devia ficar me martirizando daquela forma. Às vezes ele deixava de me responder por dias. E eu voltava a querer satisfações. Ele ia à minha casa conversar, a gente brigava de novo até acabarmos na cama.

Eu gostava de saber que, por mais que Cauã estivesse levando a sério esse negócio de terminar, ele também não conseguia sair daquele ciclo vicioso em que tínhamos nos metido. Porque enquanto estivesse preso a ele eu ainda tinha chance.

Então ele conheceu a Mirela. Não que eu achasse que esse rolo deles tinha potencial para virar algo sério. Mas o que importava era que havia uma Mirela. E isso foi o suficiente para acabar com a minha paz. Na semana anterior, Cauã tinha quebrado nosso ciclo ao não falar comigo uma vez sequer. Ele não puxou assunto, não me respondeu quando eu tentei, não curtiu uma foto minha no Instagram e ainda postou foto com a garota. Eu passei o nosso aniversário de namoro em casa aos prantos no meu quarto, fuxicando o perfil da baranga — que, na real, não tinha nada de feia. Ela era linda, é claro, apesar das minhas amigas de Teresópolis terem negado quando mostrei sua foto. Como eu podia competir com ela?

Como reconquistar um amor perdido (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora